Publicado 21/06/2019 12:18
Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que em 19 das 30 siglas que elegeram deputados federais em 2018 as mulheres representam menos de 1/3 da composição da executiva nacional.
O levantamento foi feito com base em documentos entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e nos sites dos partidos. As legendas com maior representação feminina nas suas direções nacionais são o PT – que é presidido pela deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) –, com 13 mulheres entre 28 integrantes (46%), e o PSOL, com 8 de 19 nomes (42%).
Já a legenda com a cúpula mais “masculina” é o PSD, do ex-ministro Gilberto Kassab: são duas mulheres em um total de 34 dirigentes (6%). O DEM, partido que tem três ministérios no governo e preside o Senado e a Câmara dos Deputados, vem logo depois: são três mulheres em um total de 38 integrantes (8%).
O MDB, do expresidente Michel Temer, tem duas mulheres entre os seus 21 dirigentes nacionais (11%). No PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, são 35 mulheres em um total de 101 dirigentes nacionais (35%), de acordo com o TSE. O PP, que tem a terceira maior bancada na Câmara, tem onze mulheres entre os 100 integrantes de sua direção executiva (11%).
Além do PT, apenas três partidos com representação no Congresso têm presidentes mulheres: Luciana Santos, do PCdoB, Laís Garcia, que divide o cargo de porta-voz da Rede com um homem, e a deputada federal Renata Abreu (SP), do Podemos. Apesar dos exemplos, a reportagem do Estadão identificou que, na maioria das legendas, as mulheres estão em postos de menor relevância, geralmente em pastas temáticas e sem acesso a amplos recursos ou a decisões do dia a dia.
Nos partidos, a explicação recorrente é de que existe uma baixa adesão de mulheres à política. “O número de mulheres que procura a política é menor que o de homens. Enfrentamos dificuldades para ter candidatas. Meu marido, por exemplo, não gosta de ficar longe da esposa três vezes por semana em Brasília”, disse Renata Abreu, líder do Podemos. Ela afirmou que seu partido, uma das maiores forças do Senado, planeja fazer alterações em seu estatuto para que todos os diretórios tenham pelo menos 30% de mulheres em suas executivas.
Ao Estadão, o presidente nacional do Partido Verde, José Luiz Pena, considera “lamentável” que o porcentual de mulheres nas cúpulas partidárias seja tão baixo. “Há um interesse menor das mulheres, além do machismo atávico da nossa sociedade”, afirmou o dirigente. O PV tem 18 mulheres entre os 70 membros da executiva.
Tranaperência Partidária
Para Flávia Biroli, presidente da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) e professora da Universidade de Brasília (UnB), a sub-representação das mulheres é estrutural. “Quando você olha as trajetórias dos políticos e das políticas, é muito frequente que o homem tenha sido secretário no município, prefeito, deputado estadual, depois deputado federal ou governador. Com as mulheres, você olha para as secretarias e esse elo é menor. Por que as mulheres não são indicadas pelos partidos para as secretarias? A maioria dos partidos nunca assumiu o compromisso”, disse a professora.
Segundo ela, outro problema é o fato de a reserva de vagas para candidaturas de no mínimo 30% ser vista quase como um teto, e não um piso. “Para mudar a situação, a melhor maneira seria reservar assentos nos espaços legislativos.”
O Movimento Transparência Partidária detectou em um levantamento que, de 2008 a 2018, a taxa de sucesso de mulheres em eleições foi de 6%, ante 18% dos homens. Também identificou que o número de mulheres filiadas avançou de 5,5 milhões em 2008 para 7,4 milhões em 2018.
Segundo a instituição, quatro em cada dez filiados são mulheres, mas isso não basta para dar força política às candidatas. “São positivas as iniciativas que busquem ampliar a participação feminina na política, mas há uma discussão anterior: a participação delas nos cargos de direção partidária, que é esquecida no debate público”, afirmou Marcelo Issa, presidente do Transparência Partidária. “As mulheres ocupam poucos cargos de liderança. Eram apenas 20% dos dirigentes nos órgãos nacionais e isso aumentou de maneira tímida nos últimos dez anos. Há demanda e interesse crescentes das mulheres pela política, mas isso não se reflete na presença delas nas funções de direção nos partidos.”