Publicado 15/06/2019 00:29
Uma contundente resposta à agenda regressiva do governo Bolsonaro. Essa é a mais sintética avaliação da paralisação geral que, segundo os dirigentes das centrais sindicais, teve a adesão estimada de 45 milhões de trabalhadores. Com mais esse êxito no ciclo de protestos iniciado assim que a “reforma” da Previdência Social foi anunciada, ainda no governo Temer, e que se intensificou no governo Bolsonaro com duas grandes manifestações contra os cortes neoliberais na Educação, o Brasil atinge um novo patamar de mobilização popular.
Os efeitos desse ciclo já podem ser vistos em decisões do Congresso Nacional, como as mudanças do relator na proposta da “reforma” da Previdência Social na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, Samuel Moreira (PSDB-SP). Claro, as mudanças foram tópicas — a mais significativa foi a retirada da proposta de capitalização —, mas não deixam se ser uma sinalização importante de que a manifestação popular pode dar resultados muito além do que esse.
O êxito da greve tem como saldo também uma melhor compreensão pelo povo do que representa a agenda ultraliberal e neocolonial do governo Bolsonaro. Mobilizações dessa magnitude abrem amplo diálogo com a sociedade, permitindo que outros pontos de vista circulem até mesmo nos grandes veículos da mídia. Ideias passadas como verdades absolutas são contestadas e a consciência popular é alertada para novas formas de se avaliar as reais intenções dessa agenda.
Assim como as mobilizações contra os cortes na Educação foram um contundente alerta para amplos setores da população sobre o que existe de fato nessa medida, a greve geral do dia 14 mostrou que o alarde sobre um imaginário descontrole nas contas da Previdência Social tem segundas intenções. Da mesma forma a escalada do desemprego, que tem causas bem definidas e o governo como seu centro irradiador.
Durante todo o dia, nos atos públicos e em entrevistas os trabalhadores mostraram que o descalabro social que tomou conta do país não é um cenário que só muda com as leis econômicas determinadas por cânones neoliberais incontestáveis. Com essas contestações, a percepção popular passa a levar em conta que a insistência do governo em propagar a sua agenda econômica como a única alternativa para salvar o país tem traços autoritários.
Esse é outro dado importante para se considerar numa greve como essa. Ela alerta também para a importância da democracia, da liberdade de organização e de manifestação. Mostra que os trabalhadores têm o dever natural de participar da cena política do pais para reivindicar e defender os seus direitos. Uma greve assim, em síntese, tem o poder de transmitir todo esse conjunto de conceitos que de outra forma dificilmente teria o mesmo êxito.
Outra questão de suma importância é a unidade como o principal instrumento de luta dos trabalhadores. A ação unitária das dez centrais sindicais — assim como a ampla unidade em torno das manifestações contra os cortes na Educação — na pauta da greve significa que há um elevado grau de compreensão e consciência sobre o que representa a agenda do governo Bolsonaro. Mostra que há espaço para amplos movimentos também em outros âmbitos. E assim vai se formando um processo que pode isolar e derrotar a extrema direita.
Ao atingir esse patamar, as forças da democracia e do progresso social se fortalecem para a busca de novos horizontes. Ficou claro que o Brasil está diante de um dilema histórico e o primeiro passo para impedir um retrocesso de grandes dimensões é a luta pela democracia; o que inclui, além do pleno restabelecimento do Estado Democrático de Direito conforme determina a Constituição, a liberdade sindical e política. Assim como a defesa intransigente da legislação social e da soberania nacional.