Do MP3 ao streaming: a revolução que popularizou o acesso à música
Se você tem ao menos 30 e poucos anos e já tinha contato com a internet na transição do século 20 para o 21, certamente há de se lembrar do que significou o surgimento do MP3, do Napster e dos tocadores digitais de música. Por outro lado, se você é mais jovem e faz uso frequente de meios como o YouTube ou Spotify, talvez já tenha se perguntado como as pessoas mais velhas poderiam viver sem acesso ao conteúdo musical infinito oferecido por essas ferramentas.
Por Fernando Damasceno
Publicado 03/06/2019 10:33
Até meados dos anos 1990, o cidadão comum que quisesse ter contato com o disco de determinado artista ou banda precisava recorrer a algum tipo de mídia física (no formato de CD, LP ou K7). Numa era predominantemente analógica, a produção desse material era de responsabilidade das gravadoras, ramo mais lucrativo de uma cadeia produtiva bilionária que se convencionou chamar de indústria fonográfica. Hoje, como se sabe, tudo se digitalizou.
O processo de transição para o atual modelo de negócios da indústria fonográfica mundial é o que move o jornalista norte-americano Stephen Witt, autor de Como a Música se Tornou Grátis, publicado no Brasil pela Editora Intrínseca. Por meio de uma rigorosa investigação e de dezenas de entrevistas com personagens-chave dessa verdadeira revolução tecnológica e cultural, o autor faz um relato fundamental para a compreensão da contemporaneidade.
Entre esses personagens-chave, três merecem especial destaque: Doug Morris, principal executivo global da Universal Music (companhia que chegou a comercializar cerca de 50% dos discos de todo o Planeta); Dell Glover, trabalhador braçal de uma fábrica de CDs, responsável por piratear cerca de 2 mil obras inéditas e disponibilizá-las na internet; e Karlheinz Brandenburg, considerado o pai do MP3. Todos, em maior ou menor grau de importância, contribuíram para revolucionar a relação entre artistas, produtores musicais, empresários e consumidores.
Hoje, ao contrário do que se lê no título do livro, sabe-se que a música não se tornou exatamente grátis. CDs ainda são vendidos, ensaia-se um retorno nostálgico ao velho LP, a Apple Store movimenta mais de US$ 10 bilhões por ano, Spotify e YouTube oferecem versões gratuitas e pagas para disponibilizar seu acervo infinito e é possível até mesmo recorrer a bancos de MP3 para garimpar alguma relíquia a custo zero. A revolução se deu, sobretudo, na massificação de formatos digitais e na disponibilidade de obras disponíveis para download ou via streaming. Entender como chegamos até aqui em tão pouco tempo é ao mesmo tempo assustador e fascinante.