Crianças na “passarela” para adoção gera onda de indignação
Matéria do jornal português Público registra que crianças e adolescentes com idades entre os 4 e os 17 anos desfilaram no centro comercial Pantanal, no estado brasileiro de Mato Grosso, perante uma plateia de potenciais adotantes, num evento que gerou indignação nas redes socais. O desfile realizado na terça-feira foi já a segunda edição do evento “Adoção na Passarela”.
Publicado 23/05/2019 17:31
O evento foi promovido pela Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adopção (Ampara), em parceria com Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT), e tinha como objetivo declarado dar visibilidade a menores aptos para adopção. No entanto, a ideia é alvo de críticas.
“A ‘passarela da adopção’, em Cuiabá (Mato Grosso), expondo crianças de quatro a 17 anos para a escolha dos pretendentes pais é de uma perversidade inacreditável. Os efeitos psicológicos da exposição, expectativa e frustração dessas crianças pode ser devastador, ainda que a intenção tenha sido outra”, argumentou o ex-candidato à Presidência do Brasil pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Guilherme Boulos, no Twitter.
Também a ex-candidata a vice-presidente do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores nas eleições de Outubro passado, Manuela d'Ávila, expressou o seu desagrado perante a iniciativa. “Acho que essa é uma das notícias mais tristes que li. Crianças numa passarela, cheias de sonhos e desejos, buscando a aprovação a partir de um desfile, como se para amar um filho tivéssemos que admirá-los fisicamente”, escreveu Manuela d'Ávila no Twitter.
Crianças não podem ser vistas como “objetos”
Em declarações à agência de notícias Lusa, o advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil Luciano Santoro lamentou que a ordem se tenha associado a um evento em que as “crianças são tratadas como objetos”.
“Não há como deixar de se indignar com o evento ‘Adopção na Passarela’. Por mais nobre que fosse a intenção, é lamentável que crianças sejam vistas como objecto. A lei da adopção brasileira busca pais para uma criança e não o contrário. Lamentável saber que OAB-MT e o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Mato Grosso tenham promovido esse evento”, declarou o advogado, que é doutor em direito penal e professor universitário.
“A criança jamais pode ser vista ou tratada como um objeto, como se a cor dos olhos, da pele ou do cabelo definissem a escolha dos pretendentes à adopção. Para estimular a adopção de crianças com idade superior a quatro anos é importante fomentar o debate na sociedade, encerrando o preconceito histórico com a adopção tardia. Que essa ação ao menos sirva de lição à sociedade brasileira”, concluiu.