De olho no mundo, por Ana Prestes
A visita do vice-presidente da República, Gal. Hamilton Mourão é dos destaques agenda internacional enste incício de semana. Mourão terá um agenda intensa, inclusive com o presidente chinês, Xi Jinping. Três eleições também são destaque: a da Índia, ocorrida neste domingo; na Argentina e na Bolívia, onde os processos eleitoarais ainda estão no início. Leia abaixo as principais notícias do dia com anãlise de Ana Prestes.
Publicado 20/05/2019 12:04
O vice-presidente Hamilton Mourão iniciou ontem (19) uma visita à China que irá até o dia 20 de maio. Ele presidirá a V Sessão Plenária da COSBAN (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação) no dia 23 de maio. Mourão será recebido por Xi Jinping, presidente da República Popular da China, o vice-presidente Wang Qishan e o presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, Wang Yang. A COSBAN, que foi criada no governo Lula, em 2004, é o órgão decisório de acompanhamento do Plano Decenal de Cooperação Bilateral que nasceu no governo Dilma em 2010 e foi desdobrado em um Plano de Ação Conjunto em 2015, também sob o governo Dilma e que até agora está paralisada. A China é o principal parceiro comercial do Brasil, sendo que no ano passado (2018) os principais produtos brasileiros comprados pela China foram a soja, combustíveis, minérios de ferro e seus concentrados. Já os principais produtos chineses comprados pelo Brasil foram plataformas de perfuração ou de exploração, dragas, produtos manufaturados em geral, circuitos impressos e outras partes para aparelhos de telefonia. Esse comércio em 2018 um montante de 98,9 bilhões de dólares, sendo que o superávit brasileiro bateu o recorde e foi a 29,5 bilhões. Xi Jinping deve vir ao Brasil em 2019 para participar da XI Cúpula dos BRICS nos dias 13 e 14 de novembro. (Com informações do Itamaraty).
Para o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang, com Mourão na China o Brasil terá a oportunidade de “reassegurar que considera a China um parceiro importante”. Isso ganha relevo principalmente por conta do mal estar gerado com as declarações de 2018 do agora eleito presidente do Brasil, J. Bolsonaro, que chegou a dizer que a China não estava “comprando produtos do Brasil, mas o Brasil” dando a entender que o país asiático queria controlar setores essenciais da economia brasileira, como o da energia. Outro fato que criou distanciamento foi a visita que Bolsonaro pai fez com os filhos em 2018 a Taiwan. Ainda segundo Tang, o fato de que Mourão será recebido por Xi Jinping é sinal de prestígio, uma vez em que os encontros costumam ser entre autoridades do mesmo escalão. Em 2013 Temer, como vice-presidente de Dilma, também foi recebido por Xi.
Ainda sobre a visita de Mourão à China, uma novidade que pode surgir é a incorporação do Brasil ao projeto “Belt and Road Initiative”, que é a Nova Rota da Seda. Segundo Steve Tsang, presidente da SOAS China Institute, em Londres, citado em matéria da BBC News, “um apoio (brasileiro) à iniciativa significa, basicamente, dizer que Bolsonaro não quis realmente dizer o que disse antes (sobre a China estar comprando o Brasil). Já se Bolsonaro mantiver o discurso anterior, então a China vai fechar as portas para o Brasil participar da iniciativa”. O governo brasileiro sofre pressão da “ala olavista” para se afastar da China. Segundo o astrólogo encrenqueiro de plantão, “a China é hoje a maior potência genocida anticristã do planeta – e, aliás, uma potência que só pensa dia e noite em dominar o mundo”.
Ainda sobre China, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, venceu um embate dentro do governo Bolsonaro com o ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo. Trata-se do apoio brasileiro a um chinês na eleição para diretor geral da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). O ministro Araújo queria apoiar o candidato da Geórgia, Davit Kirvallidze, ex-ministro da Agricultura do país, teve problemas fronteiriços com a Rússia e é apoiado por Donald Trump. Uma francesa também é candidata competitiva, Catherine Geslain-Lanéelle, mas a França é tradicionalmente protecionista no setor agrícola e não receberia o apoio brasileiro.
Cristina Kirchner, a favorita nas pesquisas para as eleições presidenciais argentinas deste 2019, surpreendeu a comunidade política latino-americana e mundial com o anúncio deste sábado (18) de que será candidata a vice-presidente nas primárias eleitorais obrigatórias de agosto. Como cabeça de chapa ela e seu grupo escolheram Alberto Fernández, que foi chefe de gabinete do presidente Néstor Kirchner e da própria Cristina nos primeiros meses de seu primeiro mandato como presidente, ele é considerado um peronista moderado e que pode angariar apoios mais amplos do que Cristina. Muitos entenderam o posicionamento dela como uma tentativa de salvaguardar a chapa de possíveis investidas da justiça contra ela, mas também como gesto de humildade e amplitude na política, com a finalidade de eleger um projeto, independente de quem encabeça a chapa.
Enquanto isso, na Bolívia, o final de semana foi de grande agitação e manifestação popular em apoio ao lançamento da candidatura presidencial de Evo Morales pelo MAS. Evo irá para a disputa na intenção de conquistar seu 4º mandato presidencial. São impressionantes as imagens de milhares de pessoas se dirigindo a Chapare onde foi feito o ato de lançamento.
Maduro se pronunciou na sexta (17) sobre a conversa iniciada com a oposição na Noruega. Ele disse que a intenção dos dois representantes do governo venezuelano, Jorge Rodríguez (ministro da informação) e Hector Rodríguez (governador de Miranda), é construir uma agenda pacífica. Juan Guaidó também reconheceu os encontros, mas disse que se trata ainda de um “esforço de mediação”. A Noruega disse que as conversas com os “representantes dos principais atores políticos da Venezuela” estão em “fase exploratória”.
Começa amanhã (21) em Paris a reunião da OCDE e, apesar da promessa de Trump, não é esperado um apoio formal dos EUA ao ingresso do Brasil na organização. Os diplomatas americanos dizem que ainda não tiveram orientação para remover o veto norte-americano ao Brasil. Havia uma expectativa de que Argentina seja aceita como candidata agora, a Romênia em setembro e o Brasil em 2020, no entanto, a UE também quer a Bulgária na organização e os EUA estão dizendo que a ampliação não pode ser indiscriminada. Após a reunião, no dia 23 de maio, haverá um fórum de debates sobre o futuro da OCDE, também em Paris, e lá deverá ser discutida a política de novos ingressos. A retirada do veto americano indicará apenas que os EUA “permitem a candidatura” e não um ingresso automático. O processo de entrada pode durar até 5 anos. É bom lembrar que “em troca desse ingresso” o Brasil abriu mão do tratamento especial e diferenciado na OMC e além de perder benefícios, deixou de apoiar os parceiros de BRICS, Índia e China, no âmbito da OMC. Em um cenário de prováveis mudanças na OMC que jogarão contra os países em desenvolvimento.
O final de semana foi de protestos e manifestações na Europa em defesa da União Europeia. Só na Alemanha foram registrados atos em Berlim, Colônia, Frankfurt, Hamburgo, Leipzig, Munique e Stuttgart. Houve também na Bulgária, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Hungria, Itália, Polônia, Reino Unido, Romênia e Suécia. As atividades tiveram como centro a defesa da paz e o repúdio ao nacionalismo da extrema direita. Também foi defendida a promoção da diversidade e das garantias de justiça social, a defesa dos direitos humanos, em especial de refugiados e migrantes.
Como contraponto à marcha pró-União Europeia, houve em Milão, na Itália, no sábado, 18, uma manifestação de apoiadores de líderes de partidos nacionalistas e de extrema direita da Europa. O evento foi promovido por Matteo Salvini, visto hoje como o mais popular líder da extrema direita europeia. Ao lado da francesa Marine Le Pen, Salvini quer construir uma aliança da ultradireita com cerca de 12 partidos com a pretensão de se tornar a principal força política do legislativo europeu. Salvini tem uma retórica xénofoba e anti-imigração e a constrói com os governos nacionalistas da Hungria, Polônia e República Tcheca. As eleições para o parlamento europeu serão esta semana entre os dias 23 e 26 de maio.
EUA, México e Canadá parecem ter chegado a um acordo para eliminação de tarifas sobre a importação de aço e alumínio. A venda de produtos americanos para México e Canadá sem tarifas ou sem “grandes tarifas” abre caminho para ratificação do T-MEC, um pacto que está sendo construído para substituir o NAFTA. Mas como nada vem de graça, para ter a anistia das tarifas, México precisou aprovar uma reforma trabalhista e o Canadá se unir ao EUA para combater a entrada de aço e alumínio vendidos pela China na América do Norte.
Ocorreram ao longo da última semana, em Buenos Aires, as conversas para avançar na negociação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Segundo a chancelaria argentina, houve “progressos em todas as áreas”.
Um vídeo envolvendo o vice-primeiro ministro da Áustria eletrizou a Europa este final de semana. No vídeo, Heinz-Cristian Strache, que é líder do Partido da Liberdade (FPO) de extrema direita, aparece conversando com duas pessoas, sendo um assessor seu, e propõe estabelecer contratos públicos lucrativos envolvendo um jornal de grande circulação em troca de apoio para sua campanha eleitoral. Com a circulação das imagens, o vice-premier e o assessor que aparece no vídeo renunciaram aos seus cargos no sábado (18) e disseram que seu comportamento foi “estúpido, irresponsável e errado”. O fato levou o premier Sebastian Kurz a chamar eleições antecipadas para setembro de 2019.
Na Índia foram encerradas as eleições neste domingo, 19. O processo teve inicio em 11 de abril e envolveu cerca de 900 milhões de pessoas aptas a votar. A contagem dos votos deve ser na próxima quinta, 23. O BJP (Partido do Povo Indiano) do atual primeiro ministro Narendra Modi, deve conquistar maioria no parlamento, com aproximadamente 300 cadeiras, das 543, partido de oposição INC (Congresso Nacional Indiano) deve vir em segundo lugar. Na Índia, uma maioria simples forma governo.