Publicado 29/04/2019 10:54
Respondo, de início, perguntando.
Qual liderança política, quando reina a treva, reúne, em cidades de diferentes regiões, pessoas às centenas em volta de um livro? Infelizmente, no momento, somente uma: Manuela d’Ávila. Quem é o público: Na maioria, são mulheres, mas também homens. Em grande parte, são jovens, mas também gente de todas as idades. Filas se formam para comprar “Revolução Laura”; quando está em crise o mercado livreiro.
Brilha um livro quando a pedra lascada promete dar baixa nos cursos de Ciências Humanas, agride e persegue a cultura, enxerga a universidade como inimiga da pátria e ambiciona fazer da Educação o reduto de uma seita que renega as ciências.
A dita pedra lascada é capaz de tuitar: Turistas machos do mundo inteiro, venham para o Brasil que o rebanho é vasto… É contra esse tipo de uivo, contra esse tipo de opressão em especial, que se levanta a revolução Laura.
Entenderam, então, por que tantas mulheres, tantos jovens se agregam, se unem em torno de Laura?
É preciso ter olhos para enxergar o quanto isso é precioso. Num país que tem uma sub-representação das mulheres em todos as instituições da República, a começar do Poder Legislativo, e por extensão na direção das empresas privadas; num país onde há um clamor para renovar a política, é muito auspicioso reunir a juventude e as mulheres em torno de um livro feminista, declaradamente engajado na jornada por um mundo novo.
A opressão e a exploração contra as mulheres são uma das faces da luta de classes – assinalou, criativamente, Domenico Losurdo, destacado filósofo marxista italiano. O livro de Manuela, “com o verde da árvore da vida”, vai a fundo nesta concepção.
O livro são fotogramas da vida de Manuela e de sua filha Laura, no período de novembro de 2017 até o final de 2018, quando a ex-deputada gaúcha, campeã de votos na terra de Veríssimo, Quintana, Vargas, Jango e Brizola, foi candidata à presidência da República pelo PCdoB e depois tornou-se candidata a vice-presidente da República, formando a chapa Haddad-Manuela. Chapa que foi ao segundo turno e obteve 47 milhões de votos se confrontando com um atávico troglodita que venceu e governa o país.
Vejamos um fotograma.
Laura não completara dois meses quando a família vai à Serra Gaúcha. Era um show de Duca, pai da menina, músico profissional, marido de Manuela. Naquele ambiente de música e alegria, se irrompe o ódio. Uma mulher, berrando algo sobre Cuba, acusando Manuela disto e daquilo, literalmente agride a recém-nascida no colo da mãe.
Com tal episódio, a mãe decide, então, não se afastar da filha. Em 2017, Laura tem 2 aninhos. Manuela aceita o desafio de ser candidata a presidente do Brasil, mas há uma condição inegociável: com a filha ao seu lado, no colo, sendo ali amada e amamentada.
Laura a acompanha, na campanha de 2018, em 19 estados. Isso provoca estranhamento e reprovações. Manuela os enfrenta com ardente paciência. Algo de novo se impõe no espaço na vida política do país. Uma mulher, com sua filha no colo, disputa a presidência da República.
Ouçamos Manuela falar sobre a maternidade: “Não é suficiente dizer que não somos obrigadas a ser mães. Temos que falar que também podemos ser mães, que muitas de nós são mães. E a maternidade não pode ser prisão…” E Manuela salienta que, das crianças na idade de Laura, 70% não têm creche e 6 milhões não têm registro paterno.
Manuela declara que não era feminista. “Foi a vida… que fez com que eu percebesse que a desigualdade econômica e social atinge de forma muito mais cruel as mulheres…”
E define o que é machismo e o feminismo.
Machismo: “Uma de nós ser assediada a cada dois segundos, sermos responsabilizadas pela violência que sofremos; receber menos pelo mesmo trabalho; estabelecerem padrões físicos doloridos e inalcançáveis para nós; sofrer violência física e ouvir que o amor pode matar; parir e ficar desempregada; ser invisível na política; a ideia que somos inferiores, menos livres, menos donas de nossos corpos e mentes, menos merecedoras de direitos.”
Feminismo: “Não é o contrário do machismo com a pretensão de que as mulheres são inferiores. O feminismo é equidade, direitos iguais, direito à vida sem violência, direito de sermos donas de nossos corpos e mentes.”
Nesse livro, Manuela abre a porta de sua casa, as janelas de sua vida. E o que aparece são as nuances, as profundezas do que já sabíamos, mas apenas pela superfície da estampa da liderança: uma brasileira gigante sim, uma gaúcha valente sim, mas de carne e osso, alma e sangue.
As fakes news disparadas contra ela, pelas hordas da caverna, tentarão e tentam destruí-la. Mas fracassaram. Prova disso são as centenas de pessoas que a recebem pelas cidades para ouvir a boa-nova da revolução Laura: resistência, inteligência, audácia, mensagem de união para que os oprimidos, mulheres e homens, sejam capazes de sonhar, de realizar “o outro mundo sonhado”.