Publicado 08/04/2019 11:02
Símbolo dos direitos humanos no período da ditadura militar, regime que perdurou no Brasil entre os anos de 1964 e 1985, Frei Tito de Alencar não chegou a vivenciar a volta da democracia pela qual lutou. Nascido em 1945 em Fortaleza, adentrou no mundo religioso em 1966, tornando-se frade dominicano. Foi preso e torturado diversas vezes, por diferentes métodos, até sair do País na década de 1970. Em 1974, foi encontrado morto em Paris. A memória de Tito, porém, segue viva e referencial no Brasil até – e ainda mais – nos dias de hoje. Em 2019, 45 anos após sua morte, Fortaleza finalmente ganhará de forma oficial o Centro de Memória Frei Tito de Alencar, que se pretende um local de referência, discussões e ensino sobre liberdades individuais, direitos humanos e democracia.
O novo equipamento irá ser sediado na casa na qual Frei Tito morou na infância, na rua Rodrigues Júnior, no Centro de Fortaleza. O imóvel foi ocupado por manifestantes e militantes em agosto de 2018 no chamado movimento Ocupa Frei Tito, que visava chamar a atenção da situação estrutural e pedir o tombamento definitivo da construção – o início do processo de tombo da casa se deu em 2011. Na coletiva de imprensa que divulgou os investimentos da Prefeitura para o ano de 2019 na área da cultura, na última semana, foi anunciado que a implantação do Centro de Memória Frei Tito terá montante de R$ 400 mil investidos, referentes à desapropriação do imóvel, restauração do prédio e aquisição de acervo presente.
"A luta pela memória, verdade e justiça no Brasil sempre contou com participação determinante dos familiares", explica Lúcia Alencar – sobrinha de Frei Tito – referindo-se aos parentes de pessoas mortas ou desaparecidas durante os chamados "Anos de Chumbo". Ela é uma das integrantes do Grupo de Trabalho Memória e Verdade – que tem atuado de forma contundente na construção do acervo que será disponibilizado no Centro de Memória Frei Tito. Lúcia explica que serão disponibilizados livros, batinas, fotografias, documentos pessoais, coletâneas de jornais e revistas. "No momento, iniciamos processo de captação de recursos para criação do acervo de audiovisual relativo as iniciativas construídas no Ceará", pontua Lúcia. Todo esse material, entretanto, ficará acessível ao público apenas no primeiro semestre de 2020 – conforme previsão feita ao O POVO pelo secretário da Cultura de Fortaleza, Gilvan Paiva.
"O processo de tombamento vigente está previsto para ser concluído no primeiro semestre de 2019. O restauro será iniciado ainda neste ano, com a instrução técnica realizada pela Coordenação do Patrimônio Histórico-Cultural da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), e as obras coordenadas pela Secretaria Municipal de Infraestrutura", explica o secretário. O conceito do equipamento, aponta Gilvan, surgiu a através das pesquisas e reuniões do grupo de trabalho – que também tem representantes do poder público e das universidades cearenses. "O Centro Frei Tito de Alencar será um espaço de preservação e de divulgação da memória, no que se refere à história de vida do religioso cearense e da luta de resistência dos movimentos populares", aponta o representante da Secultfor, lembrando que serão três os campos de atuação do equipamento: estudos livres, história e resistência, memória viva.
Processo
A existência do Centro de Memória Frei Tito é uma demanda antiga. O início do processo de tombo, por exemplo, aconteceu em 2011. Segundo Lúcia Alencar, há emendas parlamentares da deputada federal Luizianne Lins (PT), do deputado estadual Renato Roseno (Psol) e do vereador Evaldo Lima PCdoB), vislumbrando recursos para a constituição de acervos e de equipamentos.
Doações
São aceitos materiais sobre a ditadura militar para composição do acervo, conforme informa Lúcia Alencar. O professor e pesquisador Régis Lopes, por exemplo, enviou todos os livros de sua biblioteca particular sobre o tema. "Aos interessados orientamos entrar em contato com a Secultfor para análise do material", pontua a sobrinha de Frei Tito.