Publicado 21/02/2019 11:47

Na verdade, ainda que não seja perito, em minha formação tenho curso técnico em edificações e outro em desenho arquitetônico, além de ter cursado até o quarto ano de engenharia química, de forma que, do ponto de vista técnico, posso fazer a afirmação acima com alguma base de conhecimento. Em entrevista a uma rede de televisão, uma engenheira que se apresentou como perita na área, afirmou que a questão é matemática e física e que nenhuma barragem amanhece e decide: “hoje eu vou desabar!”. Opinião esta, de uma especialista, que corrobora minha opinião.
Tal afirmação significa que, seja qual for a causa, não sendo ela uma explosão ou grande impacto (aqui incluindo abalo sísmico), os sinais de risco de rompimento ou desabamento de uma barragem começa a se apresentar com significativo espaço de tempo. Outro aspecto importante é que os sinais de desabamento eminente, em especial neste caso onde as imagens mostram que o rompimento se deu pela base, começam a aparecer no mínimo horas antes, de forma que há tempo suficiente para providenciar evacuação para preservar vidas. Portanto, podemos afirmar com absoluta segurança que ou a Vale e os engenheiros que monitoravam a barragem eram incompetentes e não perceberam os riscos, ou tentaram esconde-los.
O que as investigações e reportagens estão confirmando é que os sinais de alto risco de rompimento já se apresentavam há meses e eram de conhecimento da Vale. O que tais investigações também demonstram é que a empresa, ao invés de tomar a atitude de deixar a população sob alerta de risco e suspender as atividades para tomar as providências corretas, optou por manter o assunto sob sigilo e fazer um monte de gambiarras para tentar reverter o processo.
O que as investigações também estão comprovando é que havia monitoramento e que dois dias antes do rompimento já apareciam sinais de que o mesmo era eminente. Ou seja, havia tempo necessário para que a direção da empresa determinasse a evacuação e provavelmente, ainda que o desastre ambiental não fosse evitado, não teríamos nenhuma morte.
Como entender tal atitude da empresa? Para tanto, não basta o conhecimento básico de física mecânica. É necessário termos um conhecimento mínimo também da mecânica do mercado financeiro.
Quando um investidor compra ações (torna-se sócio) de uma determinada empresa por um valor X, espera vende-las por 2X em um determinado tempo, ou anualmente participar das distribuições de lucros. Quando esta valorização não se confirma ou há evidências de que a empresa vá ter prejuízos, estes investidores correm para as bolsas e tentam se livrar destas ações e o preço das mesmas começam a cair.
Por sua vez, quando há grande procura por suas ações, pois as mesmas estão em valorização, a empresa se capitaliza. Quando seus acionistas entram em pânico e começam a se livrar das ações, a mesma deixa de receber injeções de recursos, de forma que o jogo financeiro é, na quase totalidade dos casos, muito mais rentável e importante que a produção propriamente dita.
Isto posto, fica claro que o simples fato da existência de um laudo que apresentasse explicitamente o risco de rompimento, ou qualquer atitude da empresa que evidenciasse este risco, como por exemplo emitir um alerta de sobreaviso aos funcionários e moradores da região, poderia levar pânico aos investidores e o valor da Vale despencaria nas bolsas de valores. Assim, entre priorizar medidas de segurança para preservar vidas e o meio ambiente ou evitar que suas ações despencassem, os executivos da Vale, com seus cursinhos de emebiei, deliberadamente escolheram por preservar o valor das ações, optando por fazer gambiarras que escondessem o perigo, ainda que isto apresentasse o risco de um desastre ambiental e centenas de mortes.
Infelizmente tais executivos, incluindo o sr. Schvartsman, provavelmente ficarão impunes pois, afinal, o Deus Mercado a tudo perdoa.