Caetano, Gil e as lágrimas de Luiz Gonzaga
O Rei do Baião teve seu auge de popularidade ao longo das décadas de 40 e 50. Gonzagão entrou nos 1960’s com um tipo de fama mais concentrada no Nordeste e em alguns bairros nordestinos de São Paulo e Rio de Janeiro. A imprensa, que antes o reverenciava, simplesmente deixou de citá-lo e de entrevistá-lo – por conseguinte, a classe média também se esqueceu do cantador.
Por Fernando Damasceno*
Publicado 06/02/2019 21:03
Juscelino saiu, surgiu a bossa nova, veio Jânio e Jango, vieram os militares, o Cinema Novo e uma turma da pesada no cenário musical. No meio desses novos artistas, dois deles resolveram dar crédito a uma de suas principais influências.
“Seu nome se inscreve na galeria dos grandes inventores da música popular brasileira, como aquele que, graças a uma imaginativa e inteligente utilização de células rítmicas extraídas do pipocas dos fogos, de moléculas melódicas tiradas da cantoria lúdica ou religiosa do povo caatingueiro, e sobretudo da alquímica associação com o talento poético e musical de alguns nativos nordestinos emigrantes como ele, veio a inventar um gênero musical. Eu, como discípulo e devoto apaixonado do grande mestre do Araripe, associo-me às eternas homenagens que a História continuadamente prestará ao nosso Rei do Baião”, declarou Gilberto Gil.
O outro que reconheceu em Luiz Gonzaga um nome fundamental para a cultura brasileira foi Caetano Veloso. Sua gravação de Asa Branca mereceu um trecho especial do livro A Vida do Viajante, escrito pela francesa Dominique Dreyfus, sobre a vida do Rei do Baião. Segue abaixo uma declaração do próprio Gonzagão à autora:
— Oh! Seu Luiz, o senhor já ouviu a “Asa branca” cantada por Caetano Veloso?
— Não ouvi ainda não.
— Quer ouvir?
— Agorinha! — e entrei na loja. Ele me deu a capa enquanto colocava o disco na vitrola. Essa capa com uma fotografia dele com aquele casaco de inverno, expressava tanta tristeza, mas tanta tristeza, que meus olhos se encheram de lágrimas. Quando tocou o disco, aí eu chorei por dentro de mim. Mas quando ele fez aquela gemedeira de cantador sertanejo, aí eu não aguentei, chorei feio! Foi uma das maiores emoções que eu tive na vida. Muita gente achou aquilo de mau gosto. Mas eu que sou autêntico, eu senti que ele teve uma força muito grande em fazer aquela gemedeira em “Asa branca”. Aí subiu muito o conceito que eu já tinha dele. Esses dois baianos [Caetano e Gil] moram no meu coração. Porque foi justamente através dos baianos, que quando foram para o RJ participar dos grandes festivais fabulosos, com novas toadas, tiveram a dignidade de dizer nas entrevistas deles que tudo aquilo era Luiz Gonzaga. E isso bateu!
* Fernando Damasceno é jornalista e historiador