Sousa Júnior: É possível combater as milícias na situação atual?

“Não é de estranhar que o símbolo da campanha de Jair Bolsonaro tenha sido uma arma, que seu primeiro decreto tenha sido de flexibilização na aquisição de armamento e que seu governo caracteriza-se por um viés ideológico baseado na intolerância e no combate à esquerda e às forças progressistas de um modo geral e não apenas ao PT”.

Por Sousa Júnior*

Bolsonaro

“Cinco décadas de grupo de extermínio resultaram em 70% de votação em Bolsonaro na Baixada Fluminense. Três gestões do PT no governo federal, 14 anos no poder, não arranharam essa estrutura. Deram Bolsa Família, vários grupos políticos se vincularam ao PT e se beneficiaram, mas o PT não alterou em nada essa estrutura. O PT fez aliança eleitoral, buscou apoio desses grupos”.

Se esta afirmação do sociólogo e ex-pró-reitor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, José Cláudio Souza Alves estiver correta, se nem no governo do PT os grupos milicianos tiveram sua estrutura abalada, imaginem agora, no governo Bolsonaro, cujo clã está intimamente ligado a esses grupos, chegando a propor até a legalização das atividades criminosas dessas milícias.

José Cláudio fez essa afirmação durante entrevista à Agência Pública sobre seu livro “Dos Barões ao extermínio: a história da violência na Baixada Fluminense” e publicada na última quarta-feira (30), no portal Carta Campinas. Segundo o pesquisador, “a grana da milícia vai financiar o poder de um político como Flávio Bolsonaro e o poder político de um Flávio Bolsonaro vai favorecer o ganho de dinheiro do miliciano”.

Essa “mão dupla” entre o crime organizado e determinados políticos, ainda segundo o autor, faz avançar as operações ilegais dessa extensão do Estado que “se torna mais poderoso do que ele é na esfera legal”. E explica: “Porque ele vai agora determinar sobre a sua vida de uma forma totalitária. E você não consegue se contrapor a ela”.

Com base no estudo e conclusões do sociólogo José Cláudio não é de estranhar que o símbolo da campanha de Jair Bolsonaro tenha sido uma arma, que seu primeiro decreto tenha sido de flexibilização na aquisição de armamento e que seu governo caracteriza-se por um viés ideológico baseado na intolerância e no combate à esquerda e às forças progressistas de um modo geral e não apenas ao PT.

Estaríamos diante de um Estado atuando através de milícias armadas cada vez mais fortes para atender os interesses políticos e ideológicos do clã Bolsonaro, incluindo ações de extermínio de militantes, como ocorreu com a vereadora Marielle Franco?

A esta pergunta, segue outra: como desmontar essas milícias nos dias atuais se nem o PT, junto com outras forças de esquerda, em 14 anos de governo, foi capaz de sequer combatê-las?

A mesma pergunta se aplica a outra esfera pública, a do monopólio dos meios de comunicação por parte de poucas famílias, mantido intocável nos governos petistas. Mas, pelo menos, nessa esfera podemos resistir e utilizar formas alternativas de comunicação para se contrapor à mídia conservadora e hegemônica, a exemplo de portais como o VERMELHO, BRASIL 247, rádios como a ATITUDE POPULAR e programas como o DEMOCRACIA NO AR.

Já no enfrentamento contra as milícias armadas…

*Sousa Júnior é publicitário e diretor da rádio Atitude Popular.

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