Ministro culpa “ativistas da AP-ML” pelo fechamento de seus cursos
O atual ministro da Educação, Ricardo Vélez, passou por dois cursos de pós-graduação que foram extintos pelo MEC por serem muito ruins. Em artigo, Vélez disse que o fechamento dos cursos ocorreu por perseguição ideológica e culpou "antigos ativistas da Ação Popular Marxista-Leninista", organização conhecida como AP-ML, dissolvida em meados da década de 70
Publicado 18/01/2019 16:34
O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, tem em seu currículo passagens por dois programas de pós-graduação (foi, inclusive, organizador de um deles) em filosofia mal avaliados pelo próprio MEC (Ministério da Educação) e que foram extintos. Em artigo publicado em 2009, ele atribuiu o fechamento de ambos a uma perseguição ideológica por parte da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), fundação vinculada ao ministério, responsável pela avaliação dos cursos de mestrado e doutorado.
Segundo matéria do portal UOL, o programa de mestrado e doutorado em Pensamento Luso-Brasileiro, da Universidade Gama Filho, do Rio de Janeiro, e o programa de mestrado em Pensamento Brasileiro, da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora-MG), do qual Vélez foi organizador funcionaram até 1996 e 1997, respectivamente. E depois, segundo o atual ministro, caíram na "guilhotina ideológica oficial". No artigo "Quem Tem Medo da Filosofia Brasileira?", de dez anos atrás, Vélez Rodrigues aponta que os responsáveis pel o que ele qualifica como perseguição seriam funcionários do MEC ligados à AP (Ação Popular), organização de esquerda com origem católica. "Os artífices dessa façanha (ocorrida nas três últimas décadas do século passado) foram os burocratas da Capes no setor de filosofia, comandados pelo padre jesuíta Henrique Cláudio de Lima Vaz".
Vélez atribuiu à ditadura militar (1964-1985), regime identificado como de direita, a nomeação de integrantes de um grupo de esquerda no MEC. "Os fatos são simples: no período em que o general Rubem Ludwig foi ministro da Educação, ainda no ciclo militar, os antigos ativistas da Ação Popular Marxista-Leninista receberam, à sombra do padre Vaz, a diretoria dos conselhos da Capes e do CNPq, na área mencionada".
Especialista na história da ditadura militar e ex-coordenador da área de História na Capes, o professor Carlos Fico, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), coloca em dúvida a versão de Vélez. "Há algum descompasso na cronologia do ministro. A ideia de que a AP abandonaria a luta armada em função do acordo é estapafúrdia porque já não existia luta armada. E ele não poderia ter feito acordo com a AP, que se dissolveu por iniciativa própria", avalia.
O general Ludwig foi ministro da Educação entre 1980 e 1982, e a luta armada havia terminado em meados dos anos 70. Além disso, a Ação Popular, que de fato teve o padre Vaz como ideólogo, não aderiu a esse tipo de luta. A maioria dos membros da AP se incorporou ao PCdoB em 1973.
Não surpreende que Vélez alimente teorias da conspiração sem relação com a realidade. Um dos "pensadores" que influenciaram sua formação — e a quem se atribui a própria indicação de Vélez para o ministério — foi Olavo de Carvalho, uma espécie de guru da extrema-direita, muito influente nas redes sociais, mas completamente desprezado nos meios acadêmicos, onde suas teorias são consideradas extravagantes, não-científicas e até mesmo bizarras. Recentemente, Olavo questionou se a Terra orbita mesmo em volta do Sol. Ele também duvida da teoria da relatividade de Einstein e já chegou a verbalizar pérolas como a de que a Pepsi Cola usa fetos abortados na sua receita.