Ítalo Coriolano: Qual Bolsonaro governará o Brasil?
“Bolsonaro cria ‘moinhos de vento’ para chamar de inimigos, numa batalha ideológica que não o levará a lugar nenhum. Perda desnecessária de energia para um momento que exige respostas rápidas e concretas. Afinal, qual a necessidade de criar uma Guerra Fria tupiniquim em pleno século XXI? Essa estratégia só pode ser compreendida caso o presidente queira criar uma cortina de fumaça para esconder as fragilidades da nova gestão, o que torço para que não seja o caso”.
Por Ítalo Coriolano*
Publicado 04/01/2019 11:47 | Editado 04/03/2020 16:22
O início do governo Jair Bolsonaro é claramente uma extensão da campanha eleitoral encerrada no último mês de outubro. Um discurso mais comedido em espaços institucionais e outro radicalizado para a plateia. A dúvida que ainda paira é saber qual das duas versões dará a linha dos próximos quatro anos de mandato. O Bolsonaro que tomou posse no Congresso Nacional, no dia 1º, falou em "um verdadeiro pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário", destacou o "compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão". Era face, em certa medida, da sensatez.
O Bolsonaro que surgiu no Parlatório do Palácio do Planalto, já de faixa presidencial, era outro, disposto ao confronto, preparado para uma guerra. Falou em "libertar o povo do socialismo e do politicamente correto" e voltou a afirmar que nossa bandeira "jamais será vermelha" – como se em algum dia tivesse chegado perto disso -, só mudando de cor caso seja "preciso nosso sangue para mantê-la verde e amarela". Ou seja, o desejo parece o de manter a divisão do País e discriminar quem pensa diferente. Era a face, em certa medida, da irracionalidade.
Assim como na disputa pela Presidência da República, Bolsonaro cria "moinhos de vento" para chamar de inimigos, numa batalha ideológica que não o levará a lugar nenhum. Perda desnecessária de energia para um momento que exige respostas rápidas e concretas. Afinal, qual a necessidade de criar uma Guerra Fria tupiniquim em pleno século XXI? Essa estratégia só pode ser compreendida caso o presidente queira criar uma cortina de fumaça para esconder as fragilidades da nova gestão, o que torço para que não seja o caso.
O que Bolsonaro precisa fazer, de fato, é criar um ambiente de estabilidade e construir pontes, ao invés de implodi-las em tão curto espaço de tempo. Seu papel, como estadista, é se predispor ao diálogo, o que não significa dar o braço a torcer para seus adversários. O chefe do Executivo já tem o poder em mãos. Não há mais necessidades de criar picuinhas ou algo que o valha em troca de holofotes. Popularidade não lhe falta. Para mantê-la, entretanto, é preciso ir além das frases feitas e seguidamente repetidas. A hora é de sentar na cadeira e trabalhar, apresentar resultados.
Entretanto, além das frases já destacadas, algumas medidas tomadas logo nos primeiros dias de governo mostram que Bolsonaro não está muito perto de descer do palanque e bem longe de criar um clima de paz e tranquilidade. Ao invés de tentar acabar com a pecha de homofóbico, o ex-parlamentar edita Medida Provisória que retira a população LGBT da lista de políticas e diretrizes destinadas à promoção dos Direitos Humanos. Ao invés de mudar a imagem de um homem que é contra os índios, o presidente resolve esvaziar a Funai, retirando do órgão a tarefa de identificar, delimitar e demarcar terras indígenas no País. E onde foram parar essas atribuições? No Ministério da Agricultura. Pasmem!
Caso siga essa toada, Bolsonaro não poderá se espantar caso as ruas, em pouco tempo, sejam palco de protestos. Naturalmente eles virão. E sabe Deus como nosso presidente irá lidar com eles.
*Ítalo Coriolano é jornalista.
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