Acirramento do clima político chega às ruas europeias
Na Hungria, marchas contra lei trabalhista; na Albânia, contra taxas escolares; na Sérvia, contra violência estatal; e os "coletes amarelos" da França já arrancam primeiras concessões. A Europa está unida em protesto?
Publicado 18/12/2018 20:39
Quem vê as fotos do mar de luzes nos protestos de Budapeste pode associá-lo até a um sereno espetáculo de Natal. Mas as pessoas reunidas na noite desta segunda-feira (17/12) na capital da Hungria, pelo quinta dia consecutivo, não seguravam velas, mas smartphones – e sua mensagem não era religiosa, mas política.
Elas cobram do presidente Viktor Orbán que ele revogue uma lei que possibilita a empregadores exigir de seus funcionários até 400 horas extras por ano, e pagar por elas apenas três anos depois. Desde a votação na última quarta-feira no Parlamento, cada vez mais pessoas se mobilizam contra essa "lei dos escravos". Em várias ocasiões, houve tumultos violentos, embora as marchas tenham começado pacíficas.
No domingo, por exemplo, os protestos permaneceram inicialmente pacíficos, para mais tarde a polícia usar novamente gás lacrimogêneo. Com 10 mil, talvez 15 mil participantes, esse foi o ápice de uma onda de protestos que até agora não se tinha visto durante os oito anos de mandato de Orbán na Hungria.
Na França, os chamados "coletes amarelos" também levam a uma avaliação similar. O acirramento do clima político parece ter chegado às ruas europeias.
Hungria: "Fora Orbán"
Com seus clamores, muitos manifestantes expressaram que, para eles, o que está em jogo é mais do que a lei de horas extras ou a política social de seu primeiro-ministro. Sob Viktor Orbán, os trabalhadores perderam cada vez mais direitos, enquanto as empresas viram as suas posições reforçadas.
Há também descontentamento com as medidas de Orbán contra os sem-teto e os migrantes, como também contra sua ação de resgate do ex-primeiro-ministro da Macedônia Nikola Gruevski, que foi preso em seu país de origem e recebeu asilo político de emergência na Hungria.
Sérvia: violência estatal
Em Belgrado, capital da Sérvia, milhares de pessoas foram às ruas neste fim de semana. Como nos protestos em massa contra o regime Milosevic nos anos 1990, muitas delas deram desabafo à sua ira contra o governo com apitos e buzinas.
O estopim dos protestos atuais foi um ataque brutal ao líder esquerdista sérvio Borko Stefanovic. Homens em camisas pretas espancaram e feriram gravemente o político com uma barra de ferro, no final de novembro na cidade de Krusevac, no sul do país.
O presidente Aleksandar Vucic condenou o ataque. Os autores foram capturados. No entanto, a oposição continua culpando a dura retórica de Vucic pelo clima de violência no país.
Albânia: mais que taxas universitárias
Na Albânia, desde o início do mês, os universitários estão protestando por uma redução nas anuidades. Nas universidades estatais, as taxas variam entre 160 e 2.560 euros. A renda média mensal no pobre país dos Bálcãs é de apenas 350 euros.
No entanto, os manifestantes na capital Tirana e em várias outras cidades albanesas estão se voltando cada vez mais de forma mais generalizada contra o governo do primeiro-ministro Edi Rama. Com bloqueios de estradas, por exemplo, eles chamam a atenção para a pobreza generalizada no país e para os altos preços da gasolina.
França: a força dos "coletes amarelos"
Com bloqueios de estradas devido aos altos preços da gasolina, começou na França, há algumas semanas, o protesto dos "coletes amarelos".
A crescente manifestação em nível nacional perdeu em dinamismo após as concessões feitas pelo presidente Emmanuel Macron e o atentado que deixou cinco mortos em Estrasburgo. A dimensão dos protestos em Paris, no último fim de semana, ficou muito abaixo das semanas anteriores.
O programa emergencial de bilhões de dólares, que prevê, entre outros, um aumento de 100 euros no salário mínimo, traz dificuldades orçamentárias para a França: em 2019, o país deverá fazer mais dívidas do que o permitido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento na zona do euro.
Seu principal objetivo inicial, que era o fim de um imposto ambiental sobre os combustíveis fósseis, foi alcançado. No entanto, nas poucas semanas de sua existência, o movimento gerou um enorme dinamismo e, subitamente, expandiu-se fortemente para vários direcionamentos políticos.
Esse crescimento rápido pode vir a ser fatal para o movimento, se os objetivos das partes envolvidas divergirem de tal forma que elas não possam mais concordar em torno de uma agenda comum.
A Europa unida em protesto?
"Na verdade, seria possível supor que este simbolismo dos "coletes amarelos" – já que todos têm um no carro – pudesse se espalhar muito rapidamente", diz a especialista em protestos Sabrina Zajak. "Além disso, há naturalmente insatisfação em muitos outros países europeus".
Até agora, no entanto, ela está certa em sua avaliação de que os protestos não se espalharam em grande escala. Depois de presenças ocasionais dos "coletes amarelos" na Bélgica e na Holanda, o movimento coletivo Aufstehen (Levantar-se), iniciado pela política esquerdista alemã Sahra Wagenknecht, convocou no fim de semana uma grande manifestação dos "coletes amarelos" em Munique. Segundo a polícia, no entanto, apenas 100 pessoas participaram da manifestação na terceira maior metrópole alemã. Até agora, a avaliação de Zajak foi confirmada: "O protesto na França tem algo a ver com o contexto específico do país".
Foto de protesto do movimento Aufstehen em Munique
Em Munique, protesto dos "coletes amarelos" organizado pelo movimento Aufstehen reuniu poucas pessoas
Também os protestos no Leste Europeu se dirigiram até agora de forma muito específica contra os governos locais. "Um movimento europeu de protesto é possível no caso de preocupações transnacionais, como quando está em jogo, por exemplo, a sobrevivência de setores profissionais – no caso de pescadores, produtores de vinho ou fazendeiros", diz por sua vez o sociólogo Dieter Rucht à emissora pública alemã ZDF. "Mas o que se observa em quase toda a Europa são níveis crescentes de descontentamento e inquietação."
No entanto, enquanto a política social e do mercado de trabalho são temas nacionais, as mudanças climáticas não conhecem fronteiras. Nesse sentido, há ao menos um pequeno movimento de protesto que está cada vez mais comprometido com a Europa, a "greve escolar pelo clima", que se iniciou em meados do ano com um evento solo da sueca de 15 anos Greta Thunberg.
Desde o seu discurso na Conferência do Clima da ONU (COP24) em Katowice, um número crescente de escolares está fazendo parte desse movimento em vários países europeus. Na última sexta-feira, centenas de milhares de estudantes participaram em Berlim, Hamburgo, Munique, Colônia, Kiel, Göttingen e outras cidades alemãs.