Marcelo Lettieri: De volta ao colapso a todo vapor
“Não se enganem: nenhum país que tenha seguido a cartilha neoliberal reduziu o tamanho do Estado; reduziram, tão somente, os direitos dos trabalhadores”.
Por Marcelo Lettieri*
Publicado 05/12/2018 11:45 | Editado 04/03/2020 16:22
As legiões liberais da eficiência e produtividade, contrárias às fronteiras soberanas e aos direitos sociais, são as mesmas que incentivam a contratação de mão de obra mais barata. O corolário neoliberal é o novo escravismo.
A despeito da crise mundial de 2008/2009, quando o mundo derreteu e o sistema financeiro de fato foi estatizado, as hordas neoliberais seguem sua cantilena discursiva de que Deus é liberal e o mercado, grande demais para quebrar. A mistificação das corporações desreguladas que afundou o sistema capitalista na sua maior crise mundial persevera no surrado palavrório: a melhor governança, a maior eficiência, a maior produtividade brotam espontâneas, sem o coisa-ruim intervencionista.
A realidade factual do desemprego em massa e a crise humanitária migratória são infinitamente mais sutis e complexas do que sugere a delirante tese de que a solução universal da civilização é a ausência estatal. Maquiavel recomendava que toda ação política deveria ser calibrada pela prudência realista, adequada às circunstâncias da luta pelo poder em nome do interesse, no caso, nacional. Quem magistralmente dimensionou seus termos foi o jurista francês Daniel Priezac: "a razão de Estado, lei viva e superior, comanda todas as outras leis, as tempera, as corrige e, quando necessário, as derroga e as anula, por um bem mais universal".
A política estratégica no campo econômico, longe da formulação imediatista privatizante à vista, deve ser funcional ao desenvolvimento social. E não se enganem: nenhum país que tenha seguido a cartilha neoliberal reduziu o tamanho do Estado; reduziram, tão somente, os direitos dos trabalhadores.
A tomada de posições não protetiva em um sistema concorrencial – mais do que nunca caracterizado por ameaças de movimentos globais de capitais em busca de garantir (sem ser refém e subjugado) os ganhos e vantagens (sem perdas e desvantagens) do seu próprio processo dinâmico de reprodução globalizado -, é mais que um tiro no pé; é suicida!
*Marcelo Lettieri é Professor doutor em Economia e servidor público federal.
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