Programa Mais Médicos terá prejuízos irreparáveis sem os cubanos
Nesta quarta-feira (14), chegou ao fim o acordo entre os governos do Brasil e Cuba que possibilitou a colaboração de médicos cubanos no território nacional. Ratificado em 2016, o programa Mais Médicos atendia 4.058 municípios de todo o país. Lideranças políticas rechaçaram postura de Jair Bolsonaro que já prejudica a diplomacia do País antes mesmo de tomar posse como presidente da República.
Iberê Lopes*
Publicado 14/11/2018 18:41
O Ministério da Saúde Pública de Cuba justificou a saída após as “ameaçadoras e depreciativas” declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro. Segundo as autoridades cubanas, o comunicado feito à diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) se dá pelo questionamento desrespeitoso com relação “ao profissionalismo e o altruísmo dos colaboradores cubanos”.
Ignorando o êxito do programa, que permitia ao governo federal a assistência para aproximadamente 63 milhões de pessoas, Bolsonaro foi taxativo. "Condicionamos à continuidade do programa Mais Médicos a aplicação de teste de capacidade", publicou nas redes sociais.
De acordo com o ex-ministro da Saúde de Dilma Rousseff, Alexandre Padilha (PT), as inúmeras declarações “preconceituosas” de Bolsonaro levaram o Ministério da Saúde de Cuba a retirar-se do acordo de cooperação entre os dois países. “A saúde pública e o povo mais pobre perdem muito hoje. É isso o que acontece quando se coloca o espírito da guerra e os interesses particulares acima das necessidades do nosso povo”, lamentou.
A entrada dos médicos cubanos foi resultado de um convênio firmado, por meio da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), e que dispensava a validação do diploma dos médicos. O programa criado em 2013, na gestão da ex-presidente Dilma, permitiu que as regiões carentes e periferias do país tivessem auxílio dos profissionais cubanos.
Para Manuela D’Ávila (PCdoB), candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad no último pleito, quem perde são “as famílias mais pobres, as crianças que necessitam, a velhice desamparada”.
O Mais Médicos levava atendimento básico de saúde para locais onde há escassez ou ausência desses profissionais. Além de Padilha e Manuela, diversas autoridades brasileiras condenaram a postura do presidente eleito e lamentaram a saída de Cuba do programa.
Segundo Guilherme Boulos, candidato a presidente pelo PSol, o Brasil chegou a ter 12 mil médicos cubanos no território nacional, “atendendo até 48 milhões de pessoas nas regiões mais carentes. Quem depende do SUS sabe a diferença que é ter um médico de família. Não podemos aceitar este retrocesso”, pontuou.
A ação de Bolsonaro segue a linha de atuação do governo de Michel Temer, que em abril deste ano, anunciou a suspensão do envio de 710 profissionais cubanos ao Brasil para trabalhar no programa Mais Médicos. Mesmo com o último edital de adesão dos municípios lançado em agosto deste ano, o então ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse que a iniciativa não prejudicaria o país.
Presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, disse que foi testemunha do embrião do programa “e ajudei a implementá-lo”. “Mas entendo as razões: o desrespeito, ameaças e violência com que Bolsonaro trata Cuba. Não lhes deixam em segurança”, pontuou.
Vice-líder da Minoria na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que é médica especialista em cardiopediatria, reforçou que habitantes de mais de 1 mil cidades do Brasil só possuem atendimento por conta do programa.
Ela destaca a continuidade do projeto de desmonte do atendimento à saúde iniciado por Temer. “Com a emenda do Teto de Gastos (Emenda Constitucional 95), dificilmente o futuro governo conseguirá levar novos investimentos a essas regiões. Então, Temer e Bolsonaro, qual o plano urgente de vocês?”, questionou Feghali em sua conta no twitter.
Na mesma linha seguiu o líder da Bancada Comunista na Câmara, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), salientando que o governo Bolsonaro já “causa prejuízos irreparáveis” mesmo antes de iniciar sua gestão. “A irresponsabilidade do presidente eleito acabou com o premiado programa Mais Médicos. Os médicos cubanos atenderam mais de 110 milhões de brasileiros. Uma tragédia para nosso combalido sistema de saúde”, disse.
Líder do PT na Câmara, o deputado Paulo Pimenta disse que as atitudes “irresponsáveis” do presidente eleito levam mais de 60 milhões de brasileiros a ficar “sem atendimento médico no interior e nas periferias das grandes cidades. O Mais Médicos fez com que pessoas de todos os cantos do Brasil vissem um médico pela 1ª vez na vida”, lembrou.
O programa Mais Médicos previa, além do atendimento, o aumento dos investimentos para construção, reforma e acréscimo de Unidades Básicas de Saúde (UBS), bem como a ampliação das vagas de graduação e residência médica para qualificar a formação dos profissionais.