Para entender a vitória de Haddad e Manuela no Piauí
Os democratas de todo o Brasil, e do mundo, boquiabertos, se indagam o porque de o Piauí, e não a Bahia, o Maranhão ou o Ceará, ter dado à chapa da democracia, Haddad e Manuela, a maior votação proporcional do Brasil: quase 78% dos votos válidos.
Por Helbert Maciel*
Publicado 04/11/2018 22:34 | Editado 04/03/2020 16:59
Repetiu-se, praticamente e em termos proporcionais, a votação de Dilma Roussef em 2014. Em 2010, Dilma obteve cerca de 70% dos votos válidos no Estado, enquanto Lula, nas eleições de 2006 e de 2010, em ambas ficou na casa dos 60%.
Como um Estado absolutamente desconhecido dos brasileiros medianos, dos mais pobres da Federação, pode ter uma população tão arraigadamente democrática?
Em que pese a liderança inconteste do Governador petista reeleito, Wellington Dias, um fator fundamental deve ser por nós devidamente sopesado.
Antes, porém, um breve levantamento histórico, modo a melhor nos fazer entender essa região do País:
O Piauí, com uma área de 251.530 km2, na qual prepondera o semiárido, deve sua formatação geográfica e histórica ao criatório extensivo de gado e ao preamento dos índios sobreviventes ao genocídio, vendidos escravos nas feiras de Salvador e do Recife.
Em sua gênese produtiva se destaca o latifúndio. A chacina de mais de 35 nações indígenas livrou o latifúndio vacum de incômodos e agressivos vizinhos. O preamento se tornou importante fonte alternativa de receitas aos coronéis do sertão.
As grandes oligarquias locais, de sobrenomes como Portela, Freitas, Napoleão, Castelo Branco, Almendra e outros menos cotados, foram forjadas na “coragem” de seus patriarcas em dizimar populações indígenas, assim obtendo por paga grandes extensões de terras. A criação extensiva de gado dependia da absorção das terras povoadas por nações indígenas. Em uma única noite, os “bravos” coronéis, mataram e decapitaram mais de 400 mulheres, velhos e crianças indígenas, às margens do rio que dá nome ao Estado.
As oligarquias locais dominaram o Estado por longos e longos anos.
Foram derrotadas com o fim da ditadura. Definitivamente enterradas nas eleições estaduais de 1994.
Por sem sombra de dúvidas, a política de uma ampla frente, sob a égide de plataforma precisa e de grande apelo popular, guarda papel preponderante na derrocada das oligarquias locais.
É, e sempre foi, o PCdoB o grande articulador dessa ampla frente, com amplo e decisivo apego popular.
Ainda em 1979, em Teresina, teve início o processo de reconstrução do PCdoB, a partir do movimento estudantil universitário.
Naquele momento a luta contra a ditadura estava umbilicalmente ligada à luta contra as oligarquias locais. Os comunistas entenderam isso.
Grandes jornadas de lutas se forjaram, com importantes vitórias do campo democrático e de combate às oligarquias e ao atraso. Desde então fortes laços unem parlamentares e políticos de diversas matizes democráticas e de centro aos movimentos sociais e sindicais.
Nessas últimas eleições presidências, capitaneados por Osmar Júnior, os comunistas conseguiram, mais uma vez e desde o primeiro turno, construir um só palanque, pró Haddad e Manu, com políticos do MDB, do PP, do PSB, do PSDB, do PDT, além, naturalmente, do PT e do PCdoB. Além desses, o movimento popular organizado, entidades sindicais, movimentos sociais, coletivos de intelectuais, de artistas, de juristas, de jornalistas, todos pela democracia!
Essa a construção que resultou em quase 78% dos votos válidos em favor da Democracia, da Soberania Nacional, do desenvolvimento com inclusão social e contra o fascismo.
Com esse patrimônio, consolidado e em crescimento, os piauienses, homens e mulheres, haverão de contribuir decisivamente na luta em defesa da democracia, do Brasil e dos direitos.