Requião denuncia conivência da Lava Jato na entrega do pré-sal
Uma das vozes mais contundentes em defesa da soberania no Congresso Nacional, o senador Roberto Requião (MDB-PR) fez um discurso denunciando o entreguismo do governo de Michel Temer, que pertence ao seu partido, e repudia a conivência de alguns setores do poder Judiciário, principalmente a força-tarefa da Lava Jato.
Publicado 31/10/2018 11:38
A trajetória de Requião no parlamento é marcada por suas posições firmes em defesa do desenvolvimento nacional. Mesmo contrariando os interesses a cúpula de seu partido, o senador nunca abriu mão de suas convições e manter a sua defesa à soberania, chegando a ser ameaçado de expulsão pelo prisidente da legenda, o também senador Romero Jucá.
No discurso feito nesta terça-feira (30), na tribuna do Senado, Requião enfatizou que, no início da Operação Lava Jato, apoiou as investigações, mas que na mesma medida apontou a falta de compromisso da operação, com o país por fazer o combate à corrupção descolado da realidade dos fatos da política e da economia.
"E por que a Lava Jato se apartou, distanciou-se dos fatos da política e da economia do Brasil? Porque a Lava Jato acabou presa, imobilizada por sua própria obsessão; obsessão que toldou, empanou os olhos e a compreensão dos heróis da operação ao ponto de eles não despertarem e nem reagirem à pilhagem criminosa, desavergonhada do país", enfatizou.
Ele cita como exemplo dessa fuga, o fato de Michel Temer ter sido denunciado por corrupção durante o exercício do mandato, situação inédita na história dos presidentes, bem como diversos ministros e aliados, e mesmo assim o seu governo "desbaratou o patrimônio nacional de forma tão açodada, irresponsável e suspeita".
"Só no último o leilão do petróleo, esse governo de denunciado como corrupto, abriu mão de um trilhão de reais de receitas", lembrou Requião. "Um trilhão, Moro! Um trilhão, Dallagnoll! Um trilhão, Polícia Federal! Um trilhão, PGR! Um trilhão, Supremo, STJ, Tribunais Federais, Conselhos do Ministério Público e da Justiça. Um trilhão, brava gente da OAB!", disparou o senador.
E completa: "Um trilhão de isenções graciosamente cedidas às maiores e mais ricas empresas do planeta Terra. Injustificadamente. Sem qualquer amparo em dados econômicos, em projeções de investimentos, em retorno de investimentos. Sem o apoio de estudos sérios, confiáveis".
Ele classificou as isenção como "doação escandalosa" e "uma negociata impudica". "Abrimos mão de dinheiro suficiente para cobrir todos os alegados déficits orçamentários, todos os rombos nas tais contas públicas. Abrimos mão do dinheiro essencial, vital para a previdência, a saúde, a educação, a segurança, a habitação e o saneamento, as estradas, ferrovias, aeroportos, portos e hidrovias, para os próximos anos", salientou.
Sobre o pré-sal, Requião destaca que os custos de sua extração – calculado em sete dólares o barri – "é moranguinho com nata, uma mamata só!".
"A extração do óleo xisto, nos Estados Unidos, o shale oil , chegou a custar até 50 dólares o barril; o petróleo extraído pelos canadenses das areias betuminosas sai por 20 a 30 dólares o barril; as petrolíferas, as mesmas que vieram aqui tomar o nosso pré-sal, fecharam vários projetos de extração de petróleo no Alasca porque os custos ultrapassavam os 40 dólares o barril", enfatizou.
Ele compara os benefícios concedidos às montadores e ao que é oferecido aos cartéis de petróleo. "Quer dizer: como no caso das montadoras, era natural, favas contadas que as petrolíferas enxameassem, como abelhas no mel, o pré-sal. Com esse custo, quem não seria atraído? Por que então, imbecis, por que então, entreguistas de uma figa, oferecer mais vantagens ainda que a já enorme, incomparável e indisputável vantagem do custo da extração?", questionou o senador.
"Esse governo de meliantes faz isso e vocês fazem cara de paisagem, viram o rosto para o outro lado", diz Requião, citando o juiz Sérgio Moro, o procurador Deltan Dallagnol e a procuradora-geral da República Raquel Dodge. "Já sei, uma das razões para essa omissão indecente certamente é, foi e haverá de ser a opinião da mídia", acrescenta.
"Não pegava bem contrariar a imprensa amiga, não é, lavajatinos?", indaga o senador, que questiona: "Renovo a pergunta: desbaratar o suado dinheiro que é esfolado dos brasileiros via impostos e dar isenção às empresas mais ricas do planeta é um ou não é corrupção? Entregar o preciosíssimo pré-sal, o nosso passaporte para romper com o subdesenvolvimento, é ou não é suprema, absoluta, imperdoável corrupção? É ou não uma corrupção inominável reduzir o salário mínimo e isentar as petroleiras?"
Ele enfatiza que o entreguismo das empresas estratégicas ameaçam a soberania do Brasil, pois "sem energia, sem indústria, sem mercado consumidor, sem sistema financeiro público, para alavancar a economia, sem infraestrutura não há futuro para qualquer país que seja".
"À véspera do leilão do pré-sal, semana passada, tive a esperança de que algum juiz intrépido ou algum procurador audacioso, iluminados pelos feéricos, espetaculosos exemplos da Lava Jato, impedissem esse supremo ato de corrupção praticado por um governo corrupto. Mas, como isso não vinha ao caso, nada tinha com os pedalinhos, o tríplex, as palestras, o aluguel do apartamento, nenhum juiz, nenhum procurador, nenhum delegado da polícia federal, e nem aquele rapaz do TCU, tão rigoroso com a presidente Dilma, ninguém enfim, se lixou para o esbulho. Ah, sim, não estava também no power point", ironizou o seandor.