Manifestação na Universidade Mackenzie condena ódio e racismo
Em repúdio ao ódio e à intolerância, alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo organizaram um grande ato nesta terça-feira (30).
Por Matheus de Moraes, do Portal Disparada
Publicado 30/10/2018 16:33
O principal objetivo é pressionar a universidade para que se posicione contra a manifestação do estudante de Direito, Pedro Bellintani Baleotti, de 25 anos, que já foi desligado do escritório de advocacia em que estagiava, o DDSA, após aparecer em vídeo, nas redes sociais, dizendo que estava indo votar em Jair Bolsonaro (PSL) “ao som de Zezé, armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo”.
No fim do vídeo, ele ainda filma duas pessoas negras em uma moto, e diz: “Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer! É capitão, caralho”.
Lucas Souza, estudante de Direito e membro da coordenação do Coletivo Negro Afromack afirmou durante entrevista que é simbolicamente significativo que os alunos se disponham a organizar tais atos, tendo em vista o momento de radicalização pelo qual o país passa, no qual os negros são um dos principais alvos.
Ao ser questionado sobre o histórico de manifestações de ódio e intolerância dentro do Mackenzie, disse que a universidade não pode ficar isenta, já que, para ele, fechar os olhos para tais discursos é uma verdadeira autorização para que declarações com este teor continuem ocorrendo.
Ao final da entrevista, afirmou que o ato não só tem o objetivo de cobrar um posicionamento da universidade, como também enfatizar a necessidade de discussão sobre a questão racial, principalmente em um ambiente que possui um histórico de recorrentes manifestações racistas por parte de alguns dos seus alunos.
manifestação no mackenzie contra aluno racista
Ato contra racismo, ocorrido na Universidade Presbiteriana Mackenzie
O Coletivo Negro Afromack do Mackenzie fez uma nota em repúdio ao caso e pede pela segurança de seus integrantes.
Leia a nota na íntegra:
Um dia após as eleições presidenciais que elegeram Jair Bolsonaro como o novo presidente do Brasil, no dia 29 de Outubro de 2018, um vídeo do aluno Pedro Balleoti, que cursa o décimo semestre de Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie foi divulgado. Nesse vídeo, o aluno diz que “essa negraiada tem mais que morrer”.
Nesse vídeo o futuro bacharel expõe todo o seu preconceito tecido nos pilares da ideologia fascista. O fascismo fora uma ideologia política social oriunda do início do século XX, é o principal cerne de tal pensamento reside na exclusão grupos tidos como minoritários qualitativamente, ou seja, todas as pessoas que não compõem o padrão étnico eurocêntrico de branquitude, heterossexualidade intrinsecamente ligados ao patriarcalismo judaico-cristão.
Em outras palavras, toda pessoa que não sobrevier enquadradas nos parâmetros imposto pela ideologia fascista devem ser exterminadas, uma vez que a liberdade por elas propostas incidem diretamente na construção de um quadro pautado na diversidade, pensamento que vai de encontro com o ideal fascista.
Em uma breve análise do vídeo, abaixo juntado, irrefutável o ILÍCITO PENAL cometido pelo futuro Operador do Direito, haja vista que crime de Racismo encontra-se previsto na Constituição Federal de 1988, para mais vejamos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
A referida norma busca tutelar os direitos de bem estar social dos descendentes dos africanos que foram sequestrados e compulsoriamente trazidos ao Brasil para se tornarem escravos, uma vez que o passado histórico de exclusão ainda reproduz danos irremediáveis à população afro-brasileira.
Devemos salientar que o que foi dito pelo aluno constitui crime de Racismo, previsto na Lei7.716/1989 e o crime de Injúria Racial Artigo 20 lei 7716/89. Vivemos tempos de ódio, tempos em que temos medo de simplesmente colocar o pé para fora de casa e atitudes como essa nos fazem ter medo de ir até para Universidade, espaço esse que deveria ser dotado de saber.
É inaceitável que um aluno que cursa Direito e que deveria, no mínimo, respeitar a Constituição que tanto estuda e que jura proteger ao pegar a OAB, tenha um discurso como esse. Sendo a advocacia uma profissão indispensável para a administração da justiça, é inconcebível que o aluno tenha essas atitudes.
O discurso desse aluno representa perigo a nós, alunos negros do Mackenzie, mas não somente a nós, representa perigo a todo e qualquer negro. É nítido o racismo e a repulsa que esse aluno sente de nós, negros, visto que o mesmo se refere a nós como “negraiada”.
É preciso abrir os olhos pois nossa liberdade fundamental de vida está sendo ainda mais colocada em jogo com tais atitudes. Hoje é uma fala, amanhã pode ser um de nós mortos. Jamais nos esqueçamos de Marielle Franco. Nós estaremos do lado da vida, da luta por direitos e de uma sociedade antirracista.
Nós, em concordância com a responsabilidade que o Coletivo Negro Afromack do Mackenzie carrega ao representar todos os alunos negros dessa instituição, exigimos que a Universidade garanta a segurança de seus alunos e tome as medidas necessárias com relação a este aluno para tanto.
Respeito e investigação
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) deverá investigar o caso e o estudante corre o risco de perder a possibilidade de advogar.
A Direção da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie se posicionou em nota “contra toda e qualquer manifestação de ódio e discriminação racial” e afirmou que “atuará de forma energética para assegurar o respeito aos direitos fundamentais, a igualdade e o bem estar de sua comunidade acadêmica”.