Bolsonaro poderá seguir exemplo de Trump nas relações com China?
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial e um dos principais parceiros do Brasil na área monetária, financeira e de investimentos. Foi à China que Michel Temer fez sua primeira visita ao exterior em 2016. Analistas comentam como poderão mudar as relações sino-brasileiras após a eleição de Jair Bolsonaro
Publicado 30/10/2018 15:53
Falando sobre política externa após serem anunciados os resultados das eleições, Bolsonaro prometeu que vai priorizar as relações bilaterais com países desenvolvidos do ponto de vista econômico e tecnológico sem mencionar a China, o atual maior parceiro comercial do Brasil.
Porém, durante a campanha eleitoral o direitista por várias vezes criticou Pequim e até afirmou que "a China não está comprando no Brasil, a China está comprando o Brasil".
Em busca de alinhamento com os EUA, o presidente eleito talvez tenha tentado seguir o exemplo de Donald Trump, acusando Pequim de procurar dominar a economia brasileira. No entanto, as estatísticas mostram a importância do mercado chinês para o Brasil: Pequim importa 50% da soja brasileira, sendo responsável por 18-20% da exportação do país latino-americano em geral. Entretanto, o Brasil tem saldo positivo no comercio bilateral com a China.
Para o especialista do Instituto da América Latina, Aleksandr Kharlamenko, os EUA influenciaram a corrida eleitoral no Brasil para "tirar o maior país da região da esfera do desenvolvimento dinâmico das relações econômicas e políticas com a China". O analista não descartou também o impacto negativo que terá a chegada de um governo de extrema-direita ao poder nas relações sino-brasileiras.
"Jair Bolsonaro expressou constantemente sua admiração por [o presidente dos EUA, Donald] Trump e acho que seguirá seu exemplo, ou seja, aplicará algumas sanções sob pretexto de [a China] estar comprando o Brasil", opinou Kharlamov.
Durante sua campanha eleitoral, o candidato do PSL também defendeu a privatização de empresas estatais que deem prejuízo, com exceção do setor de energia e do "miolo" da Petrobras. Segundo Kharlamenko, os planos poderão afetar as bases da cooperação entre Brasília e Pequim.
"A parceria da China com o Brasil, assim como com outros países, está baseada em primeiro lugar em um setor público forte […] Se esta base for destruída, esse fator poderá afetar as relações econômicas entre os dois países", falou o analista.
Kharlamov apontou também para o fato de a Petrobras dever à China 2,8 bilhões de dólares, emprestados ainda em 2009. Além disso, a estatal tem um contrato para venda de petróleo com as empresas chinesas China National United Oil Corporation, China Zhenhua Oil Co. e Chemchina Petrochemical.
Diretor do Centro da América Latina da Universidade de Anhui chinesa, Fan Hesheng, acredita que se o ex-capitão se preocupa com os interesses nacionais do Brasil, ele não pode prejudicar a cooperação do país com a China.
"Como um político que é responsável perante seu país e ganhou apoio do eleitorado […] antes de mais [Bolsonaro] deve levar em consideração o bem-estar do país […] O Brasil não pode ignorar o gigantesco mercado chinês. Se o Brasil quer continuar a se desenvolver e recuperar sua economia, o mercado chinês é muito importante para manter esta tendência."
Hesheng prevê que o novo presidente poderá fazer certas alterações na estratégia atual da cooperação sino-brasileira, mas duvida que hajam mudanças radicais.
"A tendência atual é que politicamente o Brasil depende dos EUA, mas economicamente depende da parceria com a China. Se perder o mercado chinês, então a recuperação da economia será muito difícil. Ao mesmo tempo, eu não veria o futuro das relações sino-brasileiras como muito pessimista", concluiu.
Na segunda feira (29), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lu Kang, parabenizou Jair Bolsonaro pela vitória nas eleições presidenciais e reiterou a prontidão de Pequim para continuar a aprofundar a cooperação bilateral com o Brasil, contribuindo para o bem-estar dos ambos os países.