Publicado 23/10/2018 14:13
O uso de notícias falsas para a autopromoção ou para a depreciação de adversários não é algo novo nem se restringe ao campo político. Porém, o mundo contemporâneo produziu o que passamos a conhecer como sociedade do simulacro, onde o que aparenta ser é mais importante do que aquilo que é de fato. Nesse mundo de aparências, as mídias sociais são um vasto campo para a criação de universos paralelos , as chamadas bolhas virtuais , sem quaisquer limites ou freios.
Em uma acirrada disputa política como a que assistimos hoje no Brasil, um candidato que se nega ao debate público, uma vez que nada tem a apresentar em termos de projeto para o país, encontra nas redes sociais um espaço privilegiado para fazer do ódio e da violência sua bandeira e da mentira a principal arma para convencer corações e mentes a aderir a sua ira contra aqueles que julga inimigos a serem exterminados, a saber, democratas, progressistas e todos e todas que se pautam por referências minimamente civilizadas no convívio social e político.
As redes sociais, que até bem pouco tempo julgávamos ser a alternativa a uma mídia hegemônica que sempre se mostrou venal, inimiga do povo e do país, converte-se também no espaço da barbárie,e, sob a alegativa de uma distorcida concepção de liberdade de expressão é usada para propagar o ódio.
Goebels, chefe da propaganda nazista, ficaria fascinado diante desse sistema inimaginável mesmo para a sua mente perversa e doentia. Um sistema em que o ódio e a violência são banalizados e entram imperceptivelmente na dinâmica da vida de todo dia por meio das redes sociais. E pior: invadem o terreno do lúdico por meio de “memes” onde a apologia da violência, o ódio ao diferente, a destruição de reputações e outros artifícios próprios do fascismo tornam-se “engraçados”.
Segundo pesquisas, um grande percentual de eleitores do candidato fascista está concentrado na faixa etária que vai de 16 a 34 anos de idade, justamente a faixa que apresenta o maior número de usuários de redes sociais. Isto sinaliza o tamanho dessa tragédia que é produzir em uma geração inteira a banalização do ódio e da violência e o desprezo pela democracia.
A veiculação de notícias falsas como forma de desconstruir um adversário pode, no vale tudo em que se transformaram as eleições, ser considerado um excesso tolerável. Mas não é disso que estamos falando. No Brasil de hoje, as fake news colocadas a serviço do fascismo não objetivam apenas a derrota eleitoral de um adversário político, o que já seria grave, mas a sua eliminação por meio da criação de uma cultura do extermínio, onde adversários
transformam-se em inimigos a serem eliminados, sejam eles um campo político, um partido, lideranças, apoiadores ou qualquer desavisado que ouse não endeusar o führer tupiniquim.
Tudo isso, é claro, sob as vistas grossas das instituições, que, em tese existem para zelar pelos direitos e garantias constitucionais. Mas, no país onde um candidato que afronta a Constituição segue sem ser incomodado, podemos esperar tudo, pois, no caso do triunfo eleitoral da irracionalidade, tudo será possível.
Como muitos já estão prevendo, a barbárie pode deixar as redes sociais e ganhar as ruas. Então, o ódio, revestido de um moralismo torpe e de um patriotismo tosco, que diz colocar “o Brasil acima de tudo” (assim como Hitler dizia “Deutschland über alles”; “Alemanha acima de tudo”) , servirá de justificativa para os crimes motivados pela intolerância, que já agora acontecem, mas que serão intensificados uma vez que respaldados por um governante eleito por aqueles que, dominados pelo medo e pelo preconceito, com seu voto, podem mergulhar o país nas trevas do autoritarismo. Que tal desastre não nos aconteça.