Trump anúncia saída dos EUA do tratado nuclear com Rússia
O tratado que Donald Trump irá deixar sobre armas nucleares de alcance intermediário foi assinado durante a Guerra Fria entre os EUA e a URSS; Rússia considera decisão "um passo perigoso"
Publicado 22/10/2018 13:31
O Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), negociado pelo então presidente dos EUA Ronald Regan e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev em 1987, estabeleceu a eliminação de mísseis nucleares e convencionais de alcances curto e intermediário por ambos os países, como explica em matéria o Estado de São Paulo.
No sábado (20), durante uma coletiva de imprensa, Trump acusou a Rússia de não "honrar" o acordo, motivo pelo qual os EUA irão deixar o tratado. O presidente norte-americano fez a mesma coisa em relação ao acordo multilateral nuclear com o Irã, quando o abandonou em maio deste ano: acusou o país persa de descuprir sua parte, apesar de um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que afirmava que o Irã cumpria com seus deveres.
O vice-ministro de relações exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou neste domingo (21) que uma retirada unilateral dos EUA seria "muito perigosa". "Seria um passo muito perigoso que, tenho certeza disso, não será compreendido pela comunidade internacional e, inclusive, vai gerar sérias condenações", afirmou Riabkov.
Para as autoridades russas, o governo Trump está usando o tratado como uma tentativa de chantagear o Kremlin, o que coloca a segurança global em risco. “Não vamos, claro, aceitar ultimatos ou métodos de chantagem”, disse Ryabkov, exaltando a importância do tratado para a segurança internacional, para a segurança no âmbito das armas nucleares e para preservar o que chamou de “estabilidade estratégica”.
Washington acusa Moscou de estar desenvolvendo e instalando um sistema de mísseis 9M729, com lançamento baseado em terra, o que permitiria aos russos lançar um ataque nuclear contra a Europa com rapidez e violaria o tratado INF. A Rússia tem consistentemente negado qualquer violação do tratado, ainda segundo o Estado.
Trump ainda disse que seu país desistiria de produzir as armas proíbidas apenas se não só a Rússia, mas também a China, interrompessem o desenvolvimento de mísseis- apesar do país asiático não fazer parte do acordo que impede EUA e Rússia de possuirem mísseis balísticos que podem ser lançados por terra e tenham alcance entre 500 e 5 mil quilômetros.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse nesta segunda-feira (22) que a China pede que todos os países relevantes resolvam de forma adequada suas disputas sobre o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário por "diálogo e consulta". "É completamente errado ligar a saída dos EUA do tratado à China", concluiu a porta-voz em uma coletiva de imprensa, notíciada pela agência Xinhua.
O conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, chegou no domingo (21) a Moscou, onde se reunirá com importantes funcionários do governo da Rússia e com o presidente Vladimir Putin para tratar de assuntos bilaterais entre ambos os países.