Arábia Saudita admite assassinato de jornalista no consulado
O chanceler da Arábia Saudita, Adel bin Ahmed al-Jubeir, admitiu neste domingo (21), que o jornalista saudita Jamal Khashoggi morreu dentro do consulado de seu país na Turquia, onde estava exilado
Por Alessandra Monterastelli
Publicado 22/10/2018 12:29
O jornalista Jamal Khashoggi era crítico do regime saudita, tendo escrito diversos textos retaliando o governo de Riad e do principe Mohamed bin Salman; por esse motivo, ele pediu asilo na Turquia. No dia 2 de outubro, Jamal entrou no consulado da Arábia Saudita em Instambul para pegar um documento matrimonial, e nunca mais saiu. Desde então, o governo saudita vinha negando saber seu paradeiro e garantiu que ele havia deixado o prédio com vida.
Até esse sábado (20). Após a polícia turca anunciar que possui áudios mostrando que Jamal foi torturado e esquartejado, a pressão internacional aumentou e Riad admitiu que ele morreu após uma “briga” dentro do consulado.
Segundo Ahmed al-Jubeir, o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman não foi informado sobre a operação que levou à morte do jornalista Jamal Khashoggi e garantiu que a ação “não foi autorizada pelo regime”. Em entrevista à Fox News, ele admitiu que a morte do dissidente foi “um erro”.
A saia justa de Donald Trump
No domingo (21), o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou atrás e acusou a Arábia Saudita de mentir sobre a morte de Khashoggi. “Obviamente, houve fraudes e mentiras”, disse Trump em entrevista ao Washington Post.
Horas antes, o presidente americano havia aceitado a versão oficial dos sauditas. Questionado se acreditava na história de que Khashoggi havia morrido após uma briga no consulado, ele disse que a versão “era crível” e garantiu que confiava na liderança de Mohamed bin Salman, como informa o Estado de São Paulo.
No dia 15 de outubro, Donald Trump enviou seu secretário de Estado, Mike Pompeo, a Riad para conversar sobre o desaparecimento do jornalista. Após uma conversa telefônica com o monarca saudita, Trump disse: “Ele [princípe Salman] não sabia realmente. Talvez, não quero entrar na sua cabeça, mas para mim soou que talvez possam ter sido assassinos sem escrúpulos. Quero dizer, sabe-se lá”. O presidente norte-americano especulava que os assassinos teriam agido livremente, apesar das provas tanto da polícia turca quanto de veículos norte-americanos.
O presidente estadunidense escolheu deixar os direitos humanos em segundo plano temendo abalar o que chamou de relações "excelentes" com Riad, tanto diplomáticas quando comerciais. Sua ação imediata não foi impor sanções ou retaliações ao seu maior aliado árabe- como fez com países como Rússia e Síria, que ainda estavam sob investigação- uma vez que "que restringir a venda de armas ao regime seria contraproducente" e poderia abalar a própria economia norte-americana. Além disso, os Estados Unidos precisam da Arábia Saudita para aumentar a pressão sob o Irã, que vem se tornando uma potência na região e causando incomodo tanto aos EUA quanto a Israel.