Raquel Andrade – Mulher na política: a luta que não chegou às urnas
“Num cenário político onde as mulheres são as protagonistas na luta antifascista, fica a lição: o Ceará também merece nossa luta por mais mandatos com representatividade de verdade para as mulheres. É fundamental que as militantes, ativistas e líderes de movimentos sociais ligados a questões de gênero apoiem e trabalhem nas campanhas eleitorais de mulheres e LGBT”.
Por Raquel Andrade*
Publicado 11/10/2018 10:42 | Editado 04/03/2020 16:22
As mulheres não têm muito o que comemorar nas eleições minoritárias de 2018 no Ceará. Apesar do forte apelo da campanha #EleNão e dos excelentes nomes na disputa para o cargo de deputada estadual, o irrisório número de sete entre 46 vagas na Assembleia Legislativa, (pasmem!) diminuiu para seis! Isso mesmo, apenas 6 mulheres parlamentares entre 40 homens.
Apesar de parte dessas parlamentares atuarem em pautas ligadas aos direitos das mulheres, todas as deputadas são esposas ou filhas de homens que são ou já foram detentores de mandatos. Ou seja, mesmo que algumas dediquem sua legislatura à proteção dos direitos das mulheres, não teriam sido eleitas sem o apoio e o capital político dos maridos ou pai. É óbvio que essa condição não retira de nossas deputadas o direito de lutar pelas pautas das mulheres.
Ser mulher já é um critério intrínseco para quem decide abraçar a causa. No entanto, isso demonstra que não conseguimos eleger mulheres cujas candidaturas defendam a nossa própria pauta, sem o aparato de homens já inseridos na política partidária.
E como se não bastasse a crise de representatividade feminina, ainda há que se destacar os perfis das seguintes deputadas estaduais eleitas:
Erika Amorim: primeira dama de Caucaia e empresária que defende os valores da família;
Dra. Silvana: esposa do ex-deputado Dr. Jaziel, agora eleito Federal. Evangélica ultraconservadora e antiprogressista. Declarou que o feminismo "é uma ameaça à sociedade" e uma "bandeira podre".
É notório que não houve apenas avanço do fascismo nessas eleições. O machismo ainda impediu muitos cearenses de votar em mulheres, sobretudo as progressistas. O mais preocupante e surpreendente, além da pouca e fictícia (em alguns casos) renovação feminina, foi a ausência de mulheres jovens, feministas ou LGBT entre as mais bem votadas.
Num cenário político onde as mulheres são as protagonistas na luta antifascista, fica a lição: o Ceará também merece nossa luta por mais mandatos com representatividade de verdade para as mulheres. É fundamental que as militantes, ativistas e líderes de movimentos sociais ligados a questões de gênero apoiem e trabalhem nas campanhas eleitorais de mulheres e LGBT. Temos bons parlamentares, mas é imprescindível um esforço conjunto para eleger mais deputadas e mais vereadoras. Aliás, é bom que se esclareça: "Os homens são bem-vindos a colaborar para a eleição de suas filhas, mães e esposas, só não podem ser determinantes".
*Raquel Andrade é advogada, membro da Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia, militante feminista e servidora do IFCE.
Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.