Haddad no debate da Globo: 'Nossos governos colocaram o pobre no orçamento'

Menos engessado que os debates realizados anteriormente, o último embate entre os presidenciáveis antes do primeiro turno, realizado pela TV Globo nesta quinta-feira (4), foi marcado pela busca dos candidatos em convencer os eleitores que irão às urnas no próximo domingo, dia 7.

Por Dayane Santos

Haddad no debate da Globo - Ricardo Stuckert

O debate foi dividido  em quatro blocos e os candidatos Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (Psol), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede) fizeram perguntas entre si, mas seguindo a estratégia adotada ao longo da campanha, Fernando Haddad (PT) foi o alvo preferidos dos candidatos da direita como Geraldo Alckmin e Álvaro Dias.

Diferentemente de outros debates, Ciro, Marina, Meireles e Alckmin buscaram fazer perguntas tendo Jair Bolsonaro (PSL), que não compareceu, como alvo.

"O que me assusta é que equipe de três pessoas brigando na véspera da eleição. Imagina se vai dar certo no Brasil?", indagou Ciro, referindo-se à crise na equipe de campanha de Bolsonaro com o seu economista Paulo Guedes, que anunciou a volta da CPMF e o aumento do imposto de renda para os mais pobres, e o seu vice, general Hamilton Mourão, que defendeu o fim do 13º salário.

Ainda no primeiro bloco, o tucano Geraldo Alckmin questionou Haddad sobre gasto público, acusando os governos Lula e Dilma de terem endividado o país. Demonstrando segurança, Haddad desmontou o discurso de Alckmin, lembrando que foi o governo Lula que pagou a dívida do FMI.

“Os nossos governos foram responsáveis pela maior economia já feita nas finanças públicas do país. Enquanto quem governava era FHC, partidário de Geraldo Alckmin, a carga tributária aumentou de 26% para 32% e a dívida pública dobrou no mesmo período. Detalhe: a carga tributária aumentou 6% do PIB no lombo do trabalhador”, rebateu.

Haddad destacou ainda que nos governos Lula e Dilma, a dívida pública caiu pela metade, pagou o FMI, reduziu a carga tributária pela metade e acumulou US$ 400 bilhões em reservas cambiais.

“O que o candidato Geraldo Alckmin não reconhece é que depois que o seu partido foi derrotado em 2014, e felizmente um correligionário dele admitiu em entrevista rescente, o PSDB se associou ao Michel Temer para sabotar o governo, aprovando as chamadas pautas bombas, gastos desnecessários, aumento para a cúpula do funcionalismo público, aumentando acima do teto para aqueles que já ganhavam bem. Isso levou o país a crise”, repeliu. 

Democracia

Haddad e Guilherme Boulos mantiveram um diálogo sobre temas como direitos trabalhistas e democracia.

"Faz 30 anos que esse país saiu de uma ditadura. Muita gente morreu e foi torturada. Tem mãe que não conseguiu enterrar seu filho até hoje. Meu sogro me contou as torturas que sofreu. Se você vai poder votar é porque teve quem deu a vida por isso", disse Boulos, ao ser questionado por Haddad sobre os riscos de eleger um candidato conservador e totalitário.

Haddad, por sua vez, endossou o discurso de Boulos e reforçou que a democracia corre sérios riscos. "Se foi possível gerar 20 milhões de empregos, se foi possível fazer o filho do pedreiro virar doutor é porque temos no Brasil a democracia. A liberdade é o que faz o povo ter direitos", disse.

Na réplica, Boulos lembrou que o debate só acontece atualmente na TV porque muita gente deu a vida combatendo a ditadura. "Quando nasci o Brasil estava na ditadura. Não quero que minhas filhas cresçam na ditadura. Temos que dar um grito, botar a bola no chão e dizer: ditadura nunca!", afirmou.

Boulos: "Taxar Meireles"

Boulos também arrancou risos da plateia ao ironizar o slogan da campanha de Meireles: “Não vou chamar o Meirelles e sim taxar o Meirelles", em referência a sua proposta de taxar os mais ricos.

O candidato do Psol questionou Meireles a respeito de Michel Temer e as denúncias de corrupção, citando as duas denúncias arquivadas pelo Congresso. Meirelles, que foi ministro da Fazenda de Temer, desconversou tentando descolar a sua imagem do ilegítimo, afirmando que a sua participação no governo foi apenas um trabalho e tentou mudar o foco insinuando que Boulos não estava “habituado” a trabalhar.

Na tréplica, Boulos disse que banqueiro que não estava acostumado a trabalhar.

Alvaro Dias espumando

Outro momento alto do debate foram os embates entre Haddad e Alvaro Dias. Desesperado em ataque Haddad, Alvaro Dias sequer conseguiu fazer pergunta a Meireles na abertura do debate. Por diversas vezes foi advertido pelo apresentador William Bonner para não sair da marca estabelecida, pois estava na frente das câmeras, evidenciando o seu descontrole.

Quando ficou frente a frente com Haddad tendo como tema da pergunta o gasto público, ele espumava, mas não conseguia formular o seu discurso e tentou colar a questão com a Operação Lava Jato, tentando desqualificar Haddad e o PT.

“Acho que você deveria ter mais compostura nesse debate. O senhor não respeita tempo, não respeita seus adversários, não respeita as regras e faz brincadeira com coisa séria”, afirmou Haddad. Na réplica, Dias demonstrou que sentiu o baque. Gaguejou e o máximo que conseguiu foi dizer: “Estou falando sério”, voltando a falar sobre a Petrobras.

Haddad respondeu o ataque lembrando que, quanto aos gastos públicos, “os nossos governos, pela primeira vez, colocaram o pobre no orçamento”.

Em outro momento em que Dias e Haddad ficaram frente a frente, o tema era corrupção. Haddad lembrou das medidas que fortaleceram o Ministério Público e a Polícia Federal, que não foram feitos em outros governos. Ele reafirmou o seu compromisso com o combate à corrupção, mas denunciou os abusos cometidos por alguns setores do Judiciário.

Haddad reafirmou o seu compromisso em retomar o pré-sal que foi entregue aos cartéis internacionais depois do golpe de 2016. "Multiplicamos por dez o investimento na Petrobras. Sem isso, nós não teríamos achado o petróleo, que é o passaporte para o futuro se vocês pararem de vender para os americanos o que é do povo", salientou.

E acrescentou: "Vou retomar o petróleo da Petrobras para investir em saúde e educação. Vocês entregaram para os americanos o que é dos brasileiros. Isso eu não vou permitir, isso vai ser revisto no dia 1º de janeiro de 2019".

Previdência

Na sua vez de questionar, Haddad indagou Ciro sobre a reforma da Previdência. Ele afirmou que a reforma proposta por Temer “é nefasta” para o país, pois não trabalha com as diferentes realidades do povo brasileiro, como por exemplo a realidade do trabalhador rural, que é diferente dos centros urbanos.

“Não dá pra ter a mesma regra da previdência pra todo mundo. A expectativa de vida do brasileiro varia conforme região e renda. Essa reforma seria injusta, sobre quem mais precisa do estado”, disse, enfatizando que “o pobre não pode pagar pelo ajuste fiscal”.

Nas alegações finais, Haddad afirmou: “Sou neto de um líder religioso e filho de um agricultor familiar. Aprendi com meu pai que um homem e uma mulher têm que acordar e saber pra onde ir, com trabalho e educação. Aprendi com Lula que é possível oferecer essa oportunidade para todos, sobretudo para quem mais precisa”.