Bolsonaro é contra mais investimentos na saúde pública
Segundo o plano de governo do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), o Sistema Único de Saúde (SUS) não precisa de mais recursos para atender à população. Para ele, “a saúde deveria ser muito melhor com o valor que já gasta”. O candidato não pretende revogar o teto dos gastos que limita os investimentos no SUS, sistema que o salvou após sofrer uma facada. Bolsonaro também carrega em seu histórico a autoria do Projeto de Lei que impede o SUS de atender vítimas de abuso sexual.
Por Verônica Lugarini
Publicado 02/10/2018 15:24
Das 81 páginas do plano de governo do candidato Jair Bolsonaro (PSL), apenas 4 são destinadas às suas propostas para a saúde. Uma delas é inteiramente ocupada por um gráfico sobre os gastos com saúde no mundo, da OECD Health Statistics, completamente afinado com o pensamento de Bolsonaro sobre área. Para ele, os recursos destinados à saúde pública no Brasil já são suficientes, porém são mal utilizados.
"É possível fazer muito mais com os atuais recursos! Esse é nosso compromisso!” diz o documento.
Apesar da afirmação, Bolsonaro não diz como os recursos do SUS serão redistribuídos para suprir as lacunas e necessidades da saúde. O candidato também mostra desconsiderar o aumento da população brasileira a cada ano, por exemplo.
Só entre 2016 e 2017, o crescimento foi de 0,77%, totalizando 207,7 milhões de pessoas no Brasil. Deste total, 29,3 milhões tem mais de 60 anos, ou seja, 14,3% dos brasileiros são idosos e os quemais dependem do sistema de saúde público no país.
De acordo com o Ministério da Saúde, três em cada quatro idosos dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) para acompanhamentos e tratamentos.
Além do elevado percentual da população mais velha, também é grande o número de brasileiros que deixaram os planos de saúde por não conseguirem arcar com os altos preços cobrados para a cobertura dos convênios.
Segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), 3,1 milhões de brasileiros saíram dos planos de saúde privados em 3 anos. Só em 2017, foram 280 mil pessoas, o que, consequentemente, sobrecarrega o SUS.
Ainda no âmbito da saúde, o capitão da reserva apresenta como “exemplo de prevenção: saúde bucal e o bem-estar da gestante” e pretende incluir profissionais de educação física no programa de Saúde da Família e "ativar academias ao ar livre como meio de combater o sedentarismo e a obesidade", afirma o documento que não aprofunda o tema.
Para a melhoria do SUS, o candidato propõe o Prontuário Eletrônico Nacional Interligado que é uma base com dados informatizados de pacientes que usam a rede pública.
"O cadastro do paciente reduz custos ao facilitar o atendimento futuro por outros médicos, em outros postos ou hospitais. Além disso, torna possível cobrar maior desempenho dos gestores locais", afirma o texto.
Outra proposta é o Credenciamento Universal dos Médicos, onde todo médico brasileiro poderá atender a qualquer plano de saúde. Lembrando que nessas páginas, o candidato sempre usa as palavras 'gasto' ou 'despesa' ao se referir aos repasses para a saúde.
Se referindo ao programa Mais Médicos – que tem eficiência comprovada após cinco anos de existência – Bolsonaro promete "libertar os irmãos cubanos". Permitindo que as famílias dos profissionais que participam do programa venham para o Brasil.
"Caso sejam aprovados no [exame] Revalida, passarão a receber integralmente o valor que lhes é roubado pelos ditadores de Cuba!".
No âmbito econômico, Bolsonaro já deixou claro que não pretende revogar o teto dos gastos – que limita os investimentos em saúde durante 20 anos.
Ao mesmo tempo que Bolsonaro é contra o aumento de investimentos na saúde pública – mesmo com o envelhecimento da população – e não especifica como os recursos serão distribuídos em seu governo, seu economista Paulo Guedes – conhecido como ‘Posto Ipiranga’ – defende a reforma da previdência.
O argumento é justamente que o aumento de idosos no país já está sobrecarregando o sistema previdenciário, o que significa que o mesmo pode acontecer com o sistema público de saúde, se seguir a linha de pensamento exposta no plano de governo. A expectativa é que em 2030, o Brasil tenha quinta população mais idosa do mundo.
Como deputado
Enquanto o plano de governo ainda não foi concretizado, Bolsonaro mostrou-se avesso a amplicação do atendimento no do SUS. quando era deputado. Em 27 anos de Câmara, o deputado só aprovoudois projeto e propôs um projeto de lei que tentou revogar a garantia de atendimento obrigatório e integral pelo SUS às mulheres e vítimas de violência sexual.
O Projeto de Lei 6055 é de 2013 e foi proposto em meio ao aumento das notificações de casos de estupro no país. Entre 2011 e 2016, por exemplo, houve crescimento de 90%, sendo que metade das vítimas são crianças, segundo Atlas da Violência de 2018.
Ao sofrer com facada, Bolsonaro foi atendido no SUS
No dia 6 de setembro, Bolsonaro foi atacado durante um comício em Minas Gerais. Ele levou uma facada de Adélio Bispo Oliveira, enquanto passava pelas ruas mineiras. Apesar de não pretender aumentar os recursos para a saúde, Bolsonaro foi prontamente atendido e levado à Santa Casa de Juiz de Fora (MG).
Médicos e familiares afirmaram que a rapidez com que foi atendido e a eficiência da equipe médica foram fundamentais para salvar a vida do candidato.
O total gasto pela SUS para salvar o candidato foi de R$ 367,06, conforme apurou a revista Piauí, pagos ao médico que o atendeu e que precisou dividir o valor com a equipe que participou do procedimento. Segundo a tabela do SUS, o atendimento ao candidato aparece como “tratamento cirúrgico de lesões vasculares traumáticas do abdômen”. O hospital foi remunerado em R$ 1.090,80.