Mulheres contra o fascismo
"A resistência virtual organizada, utilizando o vasto campo das redes sociais é necessária considerando o impacto que provoca quando bem direcionado, como foi o caso o grupo das mulheres que aderiram ao espaço de uma rede social para expressar sua rejeição a uma candidatura".
Por Maria Valéria Duarte de Souza*
Publicado 18/09/2018 13:28
Em meio ao crescimento da rejeição do candidato da extrema direita entre o eleitorado feminino, um grupo no Facebook transforma-se na trincheira onde mulheres explicitam seu repúdio ao machismo , a misoginia e a violência que constituem a pauta política do referido candidato à presidência da República. Não demorou muito para que hackers invadissem a conta do grupo e, bem de acordo com a postura adotada pelo candidato, a estratégia de seus apoiadores foi a intimidação das administradoras do grupo, inclusive, pelo que se sabe, com varias mensagens ameaçadoras também no WhatsApp. Era algo a se esperar; uma reação que revela a preocupação de quem até então se considerava soberano no território das redes sociais. De qualquer modo, a criação do grupo e sua repercussão tornaram-se farol de uma resistência que pode estar apenas começando.
A resistência a forças políticas e sociais que insistem em querer levar a humanidade para o abismo da barbárie sempre teve as mulheres em sua linha de frente. No século XX, o protagonismo das mulheres assumiu a dimensão de grandes façanhas históricas, como, por exemplo, a sua participação na luta contra o nazi-fascismo durante a guerra de 1939-1945. Naquele contexto de horror, foram lendárias as participações de mulheres no Exército Vermelho, única força militar entre os países que participaram do conflito que admitia a participação direta de mulheres em operações de combate onde ficaram conhecidas por sua bravura e heroísmo. Ainda na resistência ao nazi-fascismo, também ficou para a história a atuação das mulheres na França ocupada. Nesse e em muitos outros episódios, seja pelo combate das armas, seja por inúmeras outras formas silenciosas e anônimas, as mulheres desempenharam papel de grande relevância para a vitória das forças democráticas, por entenderem que em qualquer regime de opressão, são sempre as primeiras vítimas.
Mais recentemente, já em pleno século XXI, mulheres saem às ruas nos Estados Unidos em protesto contra as medidas desumanas de Trump, cujo discurso misógino e racista apresenta semelhanças com o candidato que por aqui é o subproduto da onda de ódio que vem sendo alimentada pelo obscurantismo desde as eleições de 2014.
O grupo criado no Facebook no final de agosto e que ultrapassou um milhão de participantes nos quatro primeiros dias, é, sem dúvida, um fato político importante para barrar uma candidatura que representa uma ameaça concreta a direitos arduamente conquistados.
No Brasil, nós mulheres somos mais da metade do eleitorado (52,5 %) e podemos, sim, ser o fiel da balança em uma disputa acirrada como a que vivemos . Daí a importância de qualquer fato que evidencie de que lado estamos .
Nos processos eleitorais as mulheres são mais atentas a propostas que impactam diretamente as condições de vida, sua e a de seus e, ao contrário do que muitos pensam, não seguem necessariamente o voto do companheiro. Desse modo, além das atitudes machistas e desrespeitosas manifestadas pelo candidato em questão em relação às mulheres, a sua rejeição crescente entre esse segmento deve-se também à completa ausência de propostas que sinalizem minimamente uma preocupação para com as condições de vida da população.
A resistência virtual organizada, utilizando o vasto campo das redes sociais é necessária considerando o impacto que provoca quando bem direcionado, como foi o caso o grupo das mulheres que aderiram ao espaço de uma rede social para expressar sua rejeição a uma candidatura. O primeiro objetivo, o de dar visibilidade a essa rejeição já foi obtido. Mas o objetivo mais amplo, o de levar para as ruas esse repúdio será, sem dúvida, um outro grande desafio.