Putin convida Japão a assinar acordo de paz e defende Coreia Popular
Durante o 4º Fórum Econômico Oriental, na cidade de Vladivostok, na Rússia, o presidente russo Vladmir Putin propôs ao Japão um acordo de paz, e argumentou que a Coreia Popular está fazendo sua parte do acordo com os Estados Unidos, que não correspondem
Publicado 12/09/2018 15:37
Voltando-se para o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, no palco de uma conferência nesta quarta-feira (12), Putin propôs a assinatura de um tratado de paz até o final deste ano para encerrar formalmente as hostilidades da Segunda Guerra Mundial entre os dois países.
“Uma ideia acabou de passar pela minha cabeça”, disse Putin a Abe durante uma sessão de perguntas e respostas em um fórum econômico na cidade russa de Vladivostok; “Vamos concluir um tratado de paz antes do final deste ano, sem quaisquer precondições”. Abe não respondeu, segundo informa a Reuters.
Pouco depois da proposta de Putin, um porta-voz do governo japonês em Tóquio disse que o Japão quer a devolução de ilhas do Pacífico "capturadas" por tropas russas nos últimos dias da guerra antes de assinar um tratado de paz.
Rússia e Japão disputam as ilhas há décadas, e por isso ainda não encerraram formalmente as hostilidades da Segunda Guerra Mundial. O impasse vem impedindo a criação de laços econômicos entre os dois países quase vizinhos.
Apesar da tentativa de Putin em negociar, o secretário-chefe de gabinete japonês, Yoshihide Suga, disse que a "posição de que a questão dos Territórios do Norte seja resolvida antes de qualquer tratado de paz não mudou”.
Ainda nessa quarta-feira (12), Putin declarou que a Coreia Popular está tomando muitas medidas para a desnuclearização da península coreana, mas que os Estados Unidos não estão respondendo, apenas fazendo exigências sem fim pelo desarmamento total.
Donald Trump e Kim Jong-un se reuniram em Cingapura em junho, e desde então Pyongyang deixou claro que está disposta a cooperar com o desarmamento da península coreana, apesar dos comentários inapropriados do vice norte-americano Mike Pence de que a Coreia Popular poderia "acabar como a Líbia" se não cedesse a pressão norte-americana de uma desnuclearização unilateral.
As Ilhas Curilas
As Ilhas Curilas estão localizadas na fronteira entre o Mar de Okhotsk e o Oceano Pacífico, aninhadas perto de Sacalina russa e Hokkaido japonesa.
Como explicou em matéria especial a agência Sputnik, a disputa russo-japonesa pela posse das ilhas começou ainda no século XVIII. Em 1804, a Rússia e o Japão compartilhavam o controle das ilhas, com influência japonesa mais forte no norte e russa nas Curilas do Sul. Formalmente, porém, a Rússia continuava a possuir todo o arquipélago.
Em 7 de fevereiro de 1855, a Rússia e o Japão assinaram o primeiro tratado bilateral de comércio e fronteiras, que proclamava relações de paz e amizade entre os dois países, abria três portos japoneses para navios russos e estabelecia a fronteira na vizinhança do arquipélago das Curilas do Sul, entre as ilhas de Urup e Iturup.
Em 1875, a Rússia e o Japão assinaram um tratado que cedeu 18 ilhas do arquipélago das Curilas ao Japão. Por sua vez, o Japão reconheceu a jurisdição russa completa sobre a Sacalina. O tratado de 1875 permaneceu em vigor até 1905, quando a Rússia e o Japão assinaram o tratado de paz de Portsmouth.
Com a vitória do Japão na Guerra Russo-Japonesa de 1904-1905, a Rússia foi obrigada a ceder todo o arquipélago das Curilas e algum território no sul da ilha Sacalina.
A derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial virou o curso novamente, com a União Soviética recuperando o poder sobre todas as Ilhas Curilas.
Em 19 de outubro de 1956, a União Soviética e o Japão assinaram uma Declaração Conjunta sobre o fim de estado de guerra entre os dois países e sobre o restabelecimento das relações diplomáticas e consulares. A União Soviética concordou, provisoriamente, em ceder as ilhas Habomai e Shikotan ao Japão se e quando o tratado de paz fosse concluído. As ilhas de Iturup, Kunashir, Shikotan e Habomai permanecem em disputa por Moscou e Tóquio.
As quatro ilhas apresentam interesse económico tanto para a Rússia quanto para o Japão, uma vez que grande parte do seu valor não reside na terra, mas nas águas ricas em peixe. O destino das ilhas é visto como uma questão do orgulho nacional em ambos os países.
Desde sua primeira eleição em 2000, Putin é aclamado pelo povo Russo devido a sua campanha e suas ações para recuperar o orgulho nacional, enfraquecido após o fim da União Soviética e a transição do país para o capitalismo. Entre os feitos de seu governo, está a anexação da Crimeia, motivo de orgulho para o povo russo.
O atual governo conservador japonês ficou marcado pela decisão de Shinzo Abe de adiar as eleições para sair vitorioso e de sua polêmica proposta para reformar a Constituição pacifista japonesa, permitindo que o Japão tenha um exército convencional (desde o fim da Segunda Guerra, o país possui apenas um exército de autodefesa). Além disso, Abe mantém relações próximas dos Estados Unidos em temos estratégicos.