Polícia sob suspeita de alimentar protestos fascistas em cidade alemã
Marchas neonazistas aconteceram em Chemnitz, na Alemanha, no última segunda-feira (27), e outras duas já estão marcadas. Autoridades investigam possível ligação da polícia aos protestos xenófobos violentos
Publicado 30/08/2018 15:37
Milhares de neonazistas se juntaram na segunda-feira (27) em Chemnitz, a terceira maior cidade do estado alemão da Saxônia, para se manifestarem contra a presença de "estrangeiros" no país. Foi o segundo dia de violentos protestos racistas e xenófobos, depois de, na madrugada de domingo (26), um homem de 35 anos ter sido assassinado, alegadamente por dois refugiados de países do Oriente Médio (apesar da investigação ainda estar em curso e não existirem provas concretas do crime por hora).
Algumas fontes se referem a violência registada como resultante de uma espécie de confronto entre militantes de extrema-direita e de esquerda (uma contramanifestação reuniu cerca de mil pessoas), mas também há quem sublinhe que "os fascistas andaram à caça" – de estrangeiros, refugiados e migrantes.
O portal El Salto informa que certos espisódios ocorridos na segunda-feira (27) lembraram perseguições contra grupos étnicos e raciais, uma vez que os neonazis "atacaram, apredejaram e espancaram estrangeiros e quem se colocava em seu caminho" e que não parecesse alemão, e gritando palavras de ordem como "Fora com os estrangeiros!" ou "Alemanha para os alemães".
Procurando não deixar esfriar a onda racista e xenófoba, o movimento anti-imigração Pegida, o movimento neonazi local Pro Chemnitz e o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) convocaram novas manifestações para essa quinta (30) e para o próximo sábado (1), em Chemnitz, contra a presença de refugiados e migrantes na Alemanha.
Jörg Meuthen, dirigente da AfD (atual terceira força no parlamento e com uma forte presença na região de Chemnitz), disse que não está "exaltando os ânimos" e defendeu que as manifestações da extrema-direita "refletem o mal-estar da sociedade com a chegada de mais de um milhão de estrangeiros no país desde 2015".
A chanceler da maior potência capitalista europeia, Angela Merkel, repudiou o "incitamento à violência xenófoba" e condenou "as perseguições, os motins e o ódio nas ruas", mas sem se referir à exploração dos refugiados na Alemanha, às guerras de agressão imperialistas que, na Ásia, no Norte da África ou no Oriente Médio, levaram milhões de pessoas a abandonar os seus países ou ao panorama socioeconômico na antiga Alemanha Oriental no período pós-reunificação.
A fuga do mandado
Dois refugiados, originários de países do Oriente Médio, foram acusados na segunda-feira (27) de matar um homem de 35 anos, num festival na cidade de Chemnitz, na madrugada anterior.
Entretanto, veio a público que o mandado de detenção de um deles – com dados sobre os suspeitos do ataque, o juiz responsável pelo caso, a vítima mortal e testemunhas – foi divulgado na segunda-feira (27) em portais de extrema-direita.
O fato está sendo encarado pelas autoridades da Saxônia e federais como um "escândalo", na medida em que a divulgação da ocorrência teria partido de uma fonte policial, o que está sendo visto como um dos elementos que teriam ajudado a fomentar a manifestação anti-imigração.
Martin Dulig, vice-presidente e ministro da Economia da Saxônia, disse a uma TV local que "a atitude de alguns agentes da Polícia é completamente inaceitável, sabendo que estão cometendo um crime", refere a PressTV.
Sublinhou que se trata de um "problema grave", que o Ministério Público já está investigando, mas defendeu que não é "uma ocorrência habitual".