A direita não aceita o financiamento público de campanha
A eleição deste ano terá uma novidade em relação às demais realizadas no Brasil – está proibido o financiamento de campanhas por empresas, embora um candidato possa usar o dinheiro de que dispõe para pagar a conquista de votos.
Por José Carlos Ruy*
Publicado 04/08/2018 12:46
Assim, mesmo parcial, a proibição limita a ação do poder econômico na eleição – a principal fonte da corrupção – e cria condições minimamente favoráveis para os partidos e candidatos que, à margem do poder econômico das grandes empresas, representam a parcela mais pobre da população que, com a nova regra, terá condições de bancar sua participação na disputa eleitoral.
É uma mudança democrática com a qual a direita não se conforma, e investe contra ela, usando argumentos que fingem uma moralidade que a direita não tem.
Uma recente manifestação desta hipocrisia não democrática pode ser vista numa nota, tão rasa que uma formiga a atravessa com água pela canela – como diria Nelson Rodrigues -, intitulada Teatro de 'puxadinhos' do PT custa R$ 52 milhões, publicada nesta quinta feira (2), pelo inefável Cláudio Humberto, que foi porta-voz da presidência da República, quando foi ocupada por Fernando Collor de Mello, e deixou uma frase notória sobre sua atuação como comunicador social: “bateu, levou”.
Em sua nota avessa à democracia, ele acusa o PCdoB e o PSOL de usarem o “dinheiro fácil do fundão eleitoral” num “teatrinho” nesta quarta (1º), “em convenções só para fingir que seus candidatos a presidente são para valer”, embora sejam – diz aquele divulgador de interpretações falsas e da direita – “linhas auxiliares, ou ‘puxadinhos’ do PT”. Gastando, diz ele, a soma de R$ 52 milhões do fundo eleitoral (30,5 milhões do PCdoB e 21,4 milhões do PSOL).
Como um autêntico divulgador das inverdades da direita, ele sonega – e esconde – a integridade das informações, que falsifica para enganar incautos e falsos moralistas.
Ele não diz, por exemplo, que a grande parte do dinheiro destinado aos partidos pela lei, para financiar suas campanhas eleitorais, favorece principalmente a direita, como pode ser visto na tabela que oTSE publicou detalhando a distribuição dos recursos por partido.
Diz, por exemplo, num item ao qual deu o título escandaloso de “Assalto oficializado”, que o Fundo Partidário distribui mais de R$ 780 milhões para os partidos, e “o Fundo Eleitoral vai sacar R$ 1,72 bilhão do nosso bolso”. Isto é, como direitista que é, confunde o Tesouro Nacional, como seu ‘bolso”!
O Brasil tem, segundo o TSE, 147,3 milhões de eleitores. Cada partido recebe, para sua campanha eleitoral, o equivalente a 17 reais para cada voto que teve para eleger deputados federais. É seguindo este critério que o TSE distribui os recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, que passa de R$ 1.7 bilhões. Uma consulta simples à tabela na qual o TSE informa a distribuição destes recursos mostra que os grandes partidos abocanham a parte do leão – cerca de 919 bilhões, mais da metade do total. O campeão é o MDB,que abocanha 234 milhões. A soma das parcelas dos maiores partidos da direita é de quase a metade desse dinheiro (41% do total).
O PCdoB, que é o 12º na lista do TSE, fica com 30,5 milhões para financiar sua campanha eleitoral, e o PSOL, também na mira de Cláudio Humberto, no 14º lugar, com 21,4 milhões. São parcelas muito pequenas. A que cabe ao PCdoB representa menos de 2% (1,7%) daquele total – uma parcela ínfima!
Ao chamar o PCdoB de “puxadinho do PT”, Cláudio Humberto comete mais uma de suas costumeiras descortesias. Em sua falta de respeito anti-democrática, classifica a candidatura de Manuela D`Ávila como postiça. Não é – é pra valer. Sua candidatura defende um projeto de país que contempla a todos os brasileiros, e um programa de governo para atender a todos. A candidata enche de orgulho aos comunistas e democratas – mesmo que, pelas injunções da política, venha a recuar e figurar como vice de outro candidato. O importante, aqui – para os brasileiros, o PCdoB e para Manuela –é a capacidade de defender um programa e um projeto de país que tenham condições reais de vencer em outubro e passar a governar o país depois de 2019. O resto são queixumes da direita que não tem projetos semelhantes e pensa apenas em seus mesquinhos interesses particulares.