Manuela d’Ávila retorna ao seu berço político e emociona jovens
A gaúcha esteve presente no 19° Congresso da União da Juventude Socialista (UJS), organização em que iniciou a militância há 20 anos atrás.
Por Lorena Alves* e Thaís Chaves**
Publicado 17/07/2018 17:52
Entre os dias 13 e 15 de julho, no Instituto Federal de São Paulo, aconteceu o 19º congresso da União da Juventude Socialista (UJS), maior organização de jovens do país. O evento teve como ápice o ato político nomeado “Manu e o povo no poder”, com os militantes da entidade que são pré-candidatos do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) às eleições deste ano. Realizado na noite de sábado (14), o momento mais aguardado do dia foi a presença de Manuela D’Ávila, pré-candidata do partido à Presidência da República.
As palavras de ordem da juventude socialista e comunista são “ocupar o poder”. Este foi o tema do congresso de 2018, ano eleitoral, da entidade que engata a luta dos militantes pelo socialismo. O motim dos jovens ocuparem a política é um dos principais argumentos de transformação e esperança da campanha de Manuela, que emocionou milhares de faces de diferentes estados presentes no ginásio do IFSP. Antes mesmo de ter sido deputada federal por dois mandatos consecutivos e ser atualmente deputada estadual pelo Rio Grande do Sul (RS), ela militou ativamente na UJS quase 20 anos atrás.
Manuela discursou ao lado de lideranças de esquerda e pré-candidatos do PCdoB nessas eleições, evocando um momento de inspiração aos jovens que lutam pela consolidação da plataforma da organização neste ano: Ocupa o Poder (nas redes e nas ruas). O evento iniciou com intervenções artísticas dos militantes, falas sobre a crise política no país, a importância da luta da juventude e a necessidade de unidade da esquerda. O ato foi acompanhado por delegados de todo o país e também por convidados de organizações da Síria, Chile, Portugal e Argentina.
Walter Sorrentino, vice-presidente do partido, alertou que o país vive em uma das maiores crises do capitalismo e que parte do processo de solução é de que a esquerda precisa vencer a 5ª eleição seguida. Fazendo uma alusão ao lema de campanha do partido este ano, ele diz: “vocês precisam ousar sonhar o poder no Brasil”.
Adilson Araújo, presidente Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), afirmou a importância da candidatura da Manuela na atual conjuntura política: “É fundamental enxergar que ocupar o poder pressupõe ocupar as ruas, quebrar o estigma da criminalização da política, disputar o voto de um povo que está descrente. Precisamos apresentar uma perspectiva. A Manuela é a voz do socialismo, da ruptura contra esse sistema perverso”, defendeu. Ele concluiu sua fala com a citação da música composta por Thiago de Mello ao PCdoB: “faz escuro, mas eu canto”.
O diretor da faculdade que hospedou o congresso também deu apoio comentando que “o maior golpe que estão dando é o de nos fazerem acreditar que todo político é corrupto”, afirmou Luis Cláudio de Matos. Ele ressaltou a importância de um evento com vozes frescas e de luta. Não é à toa que Pedro Gorki, o presidente da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) comentou que tirou o título de eleitor aos 17 anos para poder votar na pré-candidata do partido à Presidência da República. Se referindo à Manuela, ele diz que “somos a juventude que não quer mais que falem por nós, mas que falem com nós”.
Foto:Thallita Oshiro
A atual presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias, emocionada com os discursos de seus colegas, afirmou que sairia do congresso mais viva do que entrou. Para ela, a oposição precisa ter medo “de gente como nós […], pois daqui vai sair resistência”. Ao citar Manuela como fonte de inspiração e emoção, ela completa: “tenho certeza que todas as meninas e meninos que estão aqui, que olham pra Manuela, se inspiram nela”.
Antecedendo a fala da gaúcha, a atual presidenta da União da Juventude Socialista (UJS), ex-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE) e pré-candidata à deputada estadual (SP), Carina Vitral, compartilhou da ideia da colega, de que Manuela era referência exatamente por conta da descrença política que a juventude brasileira e mundial tem enfrentado. Para ela, a importância de ocupar o poder está no fato da política ser sinônimo do instrumento de transformação social.
A presidenciável comenta que a descrença da juventude atual ocorre porque a política tem sido feita pela elite e para a elite. “A gente não gosta dessa política e abandona ela ou a gente não gosta dessa política e ocupa pra transformar?”, sugere Manuela. Para ela, o mandato é um dos instrumentos dessa luta de transformação e se apoia na construção dos direitos, da democracia e da justiça.
Uma vida dedicada ao socialismo como prova de amor ao Brasil
Ao observar a quantidade de jovens presentes naquele evento, Manu, como é chamada pelos militantes, questiona: “tem como não dar certo? Não tem como não dar certo”. Ela menciona a UJS com muito carinho, como sua escola sobre o socialismo: “foi a UJS que fez com que eu me apaixonasse pelo Brasil. Porque ser militante dessa entidade é afirmar ao mundo que nós acreditamos na juventude, que nós acreditamos na união e que nós acreditamos no socialismo.” A gaúcha adiciona que “não importa o microfone que a gente tem”, independentemente se é no parlamento ou nas ruas, que “é urgente amar o Brasil”, para construir direitos, democracia e justiça.
Ela destacou a importância da entidade na sua trajetória e relembrou o dia em que se filiou a maior organização de juventude latino-americana: “Nesse 2018 completam-se 20 anos do dia em que eu estava em sala de aula e uma outra menina, a Lúcia, se aproximou com um xerox de uma ficha de filiação à UJS e eu fiz uma opção, como uma garota, de lutar por coisas que são as mais importantes”, disse. Vestindo a camiseta escrita “lute como uma garota”, marca de sua pré-campanha, Manuela afirmou que deve sua formação feminista também a esta organização: “Foi a UJS que me ensinou que lutamos como uma garota quando nos apaixonamos por esse país.” “Boa luta!”, ela conclui para sua juventude.
Por que ocupar o poder?
A população brasileira hoje é composta por 25% de jovens e a UJS defende que esses 51 milhões sejam representados na política. Na tese disponibilizada para juventude do PCdoB durante o congresso, é evidente que os dizeres e a energia para transformar o Brasil num país mais desenvolvido e justo estão firmes nas mentes e corações da militância. A juventude socialista também disponibilizou uma forma online de colaborar na construção de um novo projeto de país, esse sonho intenso, por meio da plataforma Ocupa. É possível opinar nas áreas de economia, segurança pública, neutralidade de rede, entre outros temas.
Leia um trecho da tese Ocupa o Poder:
"Para nós, só a ideia de ocupar não basta, queremos ocupar o centro de decisão política e, para tanto, ocupar o poder deve estar associado a dois elementos. O primeiro é o de caráter de resistência, a mesma que fez a juventude ocupar milhares de escolas no país inteiro contra os desmontes na educação e as ocupações no Ministério da Cultura, contra a sua extinção. Portanto, ocupar o poder significa avançar mais, entrar com tudo nos espaços de decisão para transformar as estruturas da sociedade e construir o projeto de país que queremos".
*Lorena Alves é comunista, feminista e osasquence. É co-presidenta do Centro Acadêmico Vladimir Herzog, da Faculdade Cásper Líbero, onde estuda Jornalismo. Amante dos movimentos artísticos e sociais, compõe o CUCA da UNE, colabora com a Mídia Ninja e é midiativista da UJS. Passou pela redação de Opera Mundi e atualmente trabalha na ABONG.
*Thaís Chaves é co-presidenta do Centro Acadêmico Vladimir Herzog, da Faculdade Cásper Líbero, onde estuda Jornalismo. Já cobriu desde protesto indígena contra o Trump na Europa ao crescimento das mulheres no mundo dos negócios. Audiovisueira, feminista e youtuber aposentada.