“É preciso criar as condições para tirar trabalhador do desalento”
O movimento sindical brasileiro alimenta a unidade e resiste após o golpe de 2016, que levou Michel Temer à Presidência e inaugurou um ciclo de devastação das leis trabalhistas no país e de ataque aos sindicatos. A avaliação é de Divanilton Pereira, presidente em exercício da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Por Railídia Carvalho
Publicado 16/07/2018 18:12
“O sindicalismo vai fazer suas readaptações, vai fazer sua transição administrativa, mas se manterá vivo, combatendo desigualdades e tentando disputar o poder político no Brasil”, disse.
Dirigente petroleiro, Divanilton observou que o ciclo de conquistas trabalhistas inaugurado por Getúlio Vargas nos anos 30 e confirmado pela Constituição Cidadã em 1988 está sendo atualmente desfigurado no Brasil.
Para ele, é o momento mais dramático no que se refere aos direitos sociais e trabalhistas. “Os trabalhadores assistem a um conjunto de medidas de exceção. E esse retrocesso só foi possível após um golpe político”, definiu.
O golpe de 2016 que destituiu a presidenta eleita Dilma Rousseff pavimentou o caminho para o ingresso do Brasil em um contexto mundial comandado pelo sistema financeiro.
“Redução de investimentos, congelamento de gastos públicos, reforma trabalhista implementando contratos nos moldes do século XIX, como o intermitente. Após isso, basta ir às ruas para ver o desalento das pessoas”, enumerou Divanilton.
Consumo das famílias
Ele citou um elemento de indução da economia que foi marcante nos governos de Dilma Rousseff e Lula: a capacidade de consumo.
"Atrelada a essa capacidade de consumo, estava a política de valorização do salário mínimo que foi interrompida com o golpe. Outro fator que influencia no consumo é o grande número de acordos coletivos não realizados porque o patronato quer implantar a ferro e fogo a reforma trabalhista”, afirmou.
Neste cenário, não há perspectivas de recuperação da economia. “Além disso há o rebaixamento de padrão de direitos para aqueles trabalhadores que são contratados agora. Para sobreviver, aceitam menores salários e recorrem ao autonomismo a qualquer custo. Os 28 milhões de subocupados pressionam esse trabalhador a aceitar qualquer coisa”, avaliou Divanilton.
Agenda dos trabalhadores: Retomar empregos
O combate ao desemprego levou o Fórum das Centrais Sindicais a lançar um documento com 22 propostas para o país. “O objetivo é retomar um padrão mínimo de consumo para as famílias, para que também surta efeito na economia. Cadeias importantes, como construção civil, precisam ter as obras de infraestrutura retomadas. Temos que criar condições para tirar esse trabalhador do desalento”, defendeu Divanilton.
No dia 10 de agosto, todas as centrais sindicais brasileiras realizarão um dia de protestos contra o desemprego, em defesa da aposentadoria e contra o aumento abusivo do gás de cozinha.
“São dois os objetivos do dia 10, a denúncia política da retirada de direitos para tentar envolver os que têm sido penalizados e, ao mesmo tempo, dar centralidade à retomada do desenvolvimento com valorização do emprego para que ganhe força política e influencie na agenda dos presidenciáveis”.
“Se um golpe sem legimidade gerou tudo isso, imagine um governo legitimado pelo voto popular que tenha essa agenda. Isso vai se tornar muito mais complicado, vai levar a um precipício as condições políticas e sociais no Brasil”, enfatizou Divanilton.
Radicalizar na unificação de forças políticas
“Creio que a saída para o sindicalismo é praticar o que viabilizou aquela greve de 28 de abril do ano passado, ou seja, unidade no sindicalismo e diálogo com outros segmentos, como intelectuais, artistas, mundo jurídico, para gerar influência política na principal batalha do ano, que são as eleições”, defendeu Divanilton.
“A CTB dá muito valor ao Fórum das Centrais. Há diferenças de concepções envolvidas mas temos dado contribuição para fortalecer essa instância que permite que outros segmentos se incorporem à luta em defesa dos direitos”. Na opinião dele, o capitalismo – que nunca tolerou o sindicalismo classista – não consegue devastar o movimento sindical, porque os sindicatos são uma necessidade objetiva.
“Uma prova da vitalidade do movimento sindical brasileiro é que foi dele que surgiu a principal liderança popular do último período. Lula é filho do sindicalismo brasileiro. É tão forte que isso atrai a ira do capital tentando inviabilizá-lo”, lembrou.
Divanilton reafirmou que o sindicalismo permancerá resistindo “com um padrão de financiamento diferenciado”. “É uma transição em que iremos nos recuperar fazendo essa adaptação para que os sindicatos mantenham a disputa política enquanto o capitalismo prevalecer no mundo e no Brasil”.
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