Memórias do Cárcere de Mestre Graça e Luiz Inácio
“Preso, Mestre Graça recebia a solidariedade de escritores e progressistas como José Lins do Rego, Jorge Amado e Raquel de Queiroz, assim como Lula, encarcerado, recebeu de Leonardo Boff, Adolfo Pérez Esquivel e Juan Grabois”.
Por Yuri Holanda Cruz*
Publicado 12/07/2018 11:37 | Editado 04/03/2020 16:22
Entre outras coisas, era político, nasceu no sertão nordestino, foi preso sem o imparcial, justo e devido processo legal, admirado por muitos e acusado de comunista por alguns. E aí? Eu sei que o estimado leitor pensou no presidente Lula, mas, por ora, conversemos sobre Graciliano Ramos, o Mestre Graça! Um dos grandes da literatura nacional.
E falo dele porque recentemente concluí a difícil leitura de Memórias do Cárcere, livro autobiográfico de publicação póstuma em que o autor lança mão de recursos de estilização para conduzir a narrativa de situações perversas e reais dos dias em que sobreviveu como prisioneiro do Estado. A desigualdade social foi um tema muito importante para o criador de Vidas Secas, assim como o é para o criador do Fome Zero.
O escritor, servidor da Secretaria de Educação de Alagoas e ex-prefeito de Palmeira dos Índios, foi preso em casa, dia 3 de março de 1936, acusado de manter ligação com o Partido Comunista, posto na ilegalidade ainda no ano de fundação. A ditadura Vargas ganhava forma: ideias ilegais, intelectuais na cadeia. Alguns chamam isso de “bons tempos”. Quem entende? Apontado como comunista, o escritor de Caetés (nome da cidade natal de Lula) foi se filiar ao Partido apenas em 1945 (ano em que nasceu Luiz Inácio da Silva).
Preso, Mestre Graça recebia a solidariedade de escritores e progressistas como José Lins do Rego, Jorge Amado e Raquel de Queiroz, assim como Lula, encarcerado, recebeu de Leonardo Boff, Adolfo Pérez Esquivel e Juan Grabois.
Memórias do Cárcere é um contundente relato da violência das prisões durante a ditadura Vargas. Em suas páginas, Graciliano apresenta, de forma peculiar, as atrocidades da ditadura, como a covarde entrega da prisioneira Olga Benário à Gestapo nazista, que a jogou num campo de concentração onde foi escravizada e torturada antes de ser executada em uma câmara de gás.
O livro não foi concluído pelo autor. Graciliano não teve tempo de compor o capítulo final. Também ainda está por ser escrito o desfecho dos dias de Lula na cadeia.
*Yuri Holanda Cruz é sociólogo.
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