“Brasil está pronto para reduzir a jornada de trabalho”, diz Manuela
A pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB, Manuela D’Ávila, participou do programa Band Eleições desta segunda-feira (2). Na primeira entrevista após o episódio do Roda Viva, em que foi alvo insistente de interrupções, Manuela abordou a Previdência, deficit fiscal e investimentos públicos. Também falou sobre as perspectivas políticas do campo progressista, mas foi enfática ao afirmar que vê pouca perspectiva de uma candidatura unitária, pelo menos até julho.
Por Dayane Santos
Publicado 03/07/2018 12:09
Deputada estadual pelo Rio Grande do Sul, Manuela respondeu às perguntas do apresentador Rafael Colombo e dos jornalistas Fernando Mitre e Fabio Pannunzio. A presidenciável afirmou que não é uma candidata que defende as pautas que estão nas pesquisas, mas sim o que “é justo”. “O Brasil cansou de candidato a presidente marqueteiro, que defende o que as pesquisas e os big datas de internet defendem”, disse.
Na entrevista, Manuela apontou que o caminho para a retomada do crescimento é investimento público. “Vamos continuar com a crise e com o ajuste de gastos que enxerga as pessoas como uma planilha de Excel, e congela investimentos no SUS, fazendo com que cinco mil idosos morram de subnutrição?”, indagou a presidenciável, criticando as medidas impostas pelo governo de Michel Temer.
“O deficit fiscal tem de ser olhado pela perspectiva dos brasileiros e brasileiras. Qual é o tema central? Corte? Claro que alguns cortes podem ser feitos, mas ser fossem suficientes para que a gente chegasse ao ajuste não tinha incrementado o deficit como incrementou”, advertiu Manuela, lembrando que Temer fez cortes, implementou a PEC do teto dos gastos – que congela investimentos públicos por 20 anos – fez cortes na saúde e nada adiantou para reduzir o deficit.
“O centro para nós é como retomar o crescimento da economia e o enfrentamento do deficit se dará por aí. E isso vai acontecer com a recomposição da capacidade do investimento público. No mundo inteiro a recomposição do crescimento se dá a partir de um conjunto de investimentos públicos”, afirmou a pré-candidata.
“A pergunta que temos de fazer é: como retomar o crescimento na economia?” Manuela aposta em reformas, como a tributária, para responder a questão. “Uma das medidas estruturantes é fazer a reforma tributária para recompor a capacidade de investimentos públicos. Só o Brasil e a Estônia, por exemplo, não tributam lucros e dividendos”, exemplificou.
Questionada sobre como trataria da Previdência, Manuela afirmou que o tema deve ser tratado a partir de um amplo debate, iniciando com uma auditoria para estabelecer de fato qual é o tamanho do deficit e da sonegação. A pré-candidata, no entanto, já adiantou que não se pode tratar o tema deficit cortando benefício de quem recebe um salário mínimo, mas sim enfrentando os privilégios.
“Enfrentaremos isso cortando benefícios de quem recebe salário mínimo? Ou enfrentando privilégios, daqueles que recebem acima do teto salarial?”, indagou ela, apontando quais são os “privilegiados”. “Todos aqueles que recebem valores que excedem o teto, para mim são”, enfatizou.
Previdência e idade mínima
Sobre a idade mínima, Manuela disse que é um debate que deve ser vinculado à valorização do trabalho. “Por exemplo, o Brasil, na minha opinião, é um país pronto para reduzir a jornada de trabalho. Nós não precisamos manter uma jornada de trabalho de 44 horas. Nós topamos fazer o debate sobre a ampliação de tempo de contribuição, diminuindo o tempo de trabalho durante a vida inteira? É um debate para gente fazer. O Brasil compara o tempo de contribuição à Previdência com países em que a jornada de trabalho é muito menor que a nossa. Para mim, Previdência tem de ser debatida nesse sentido com valorização do trabalho porque acredito que desenvolvimento tem que acontecer com valorização do trabalho e não desvalorizando e precarizando”, disse ela.
Sobre o processo eleitoral, Manuela reafirmou o seu desejo pela unidade em torno de uma candidatura de esquerda. “Nós do PCdoB achamos que a unidade é algo importante e temos trilhado um caminho de busca da construção dela. Mas acho que não se consagrará o esforço de uma única candidatura até o fim do mês de julho”, lamentou.
Pannunzio questionou Manuela sobre o apoio a Lula e perguntou se ela não considerava que Lula, condenado e preso, não seria um peso para a candidatura dela. “Como o primeiro candidato pode ser um problema para a unidade? Ele é o primeiro colocado em todas as pesquisas. Tenho absoluta certeza de que se ele estivesse livre e se fosse candidato em condição de liberdade, muito provavelmente ele seria o nome que unificaria o nosso campo político”, enfatizou.
Manuela reforçou que para ele o mais importante “é vencer as eleições” para barrar o projeto que está em curso. “Somos candidatos diferentes com projetos diferentes, mas a grosso modo, o Brasil tem dois caminhos que terá de escolher: um caminho de manutenção de reformas que o Temer executa. Sei que os outros candidatos tentam tirar o Temer, mas o seu fantasma rondará porque é um fantasma programático; e um outro projeto de um outro conjunto de reformas. Eu tendo a acreditar que a maior parte das pessoas também acreditam que mais unidade, mais fácil de vencer e quem tem 30 pontos não pode ser problema, mas sempre a solução”, acrescentou.
Representação na política
Ao falar sobre o alto índice de nulos e brancos apontados nas pesquisas, que segundo os entrevistadores seria uma demonstração da rejeição da população aos políticos, Manuela destacou que a falta de respostas aos problemas da população é refletida nesse alto índice. Porém, a pré-candidata disse acreditar que há saídas e a sua trajetória política demonstra isso.
“Eu faço política há 20 anos. Fiz uma escolha aos 16 anos que é de militar num partido, o PCdoB, sendo o meu único partido desde então. Há 14 anos eu tenho mandatos. Fui vereadora, duas vezes deputada federal e sou deputada estadual. Num certo sentindo eu acho que sou a prova de que a política pode ser feita de forma diferente. Eu não sou filha de político, e vocês todos sabem que a maior parte dos jovens que chegam a Brasília vem por esse caminho. Não venho de um partido grande e não faço parte das estruturas de poder. Sou uma mulher jovem, feminista e de esquerda. Se a minha eleição foi possível, é possível que a política toda seja transformada”, frisou.
Para Manuela, o descrédito de parte da população com a política é também resultado da sub-representação da população que faz com que 60% não acreditem no sistema ou mesmo na democracia. Segundo ela, esses números têm impacto direto nas políticas que são executadas no país. “Será que o Brasil seria um país com tão poucas creches se mais mulheres, que são as que se beneficiam por essa política de Estado, estivessem na política? Será que nós teríamos essa política de segurança que extermina jovens negros se nós tivéssemos mais negros na política? Eu acredito que não. Vejo um vínculo muito grande entre o projeto que temos e a ausência de respostas para problemas ‘crônicos’ com essa democracia pouco representativa”, afirmou.
Assista a íntegra da entrevista: