Publicado 29/06/2018 16:26
Segundo o cálculo da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o spread bancário, que é a diferença entre o que os bancos cobram nos empréstimos aos clientes e o que pagam aos depositantes, é de 21,5 pontos porcentuais no Brasil, 14,4 vezes maior que o 1,5 ponto porcentual cobrado em países com metodologia de cálculo semelhante, a saber, Suécia, Nova Zelândia, Malásia, Chile, Itália e Japão.
A rigidez à baixa dos spreads praticados no País, que no primeiro trimestre deste ano ficaram em 33,6 pontos porcentuais para o crédito livre, praticamente idênticos aos 33,8 pontos do último trimestre de 2017, torna sem sentido a comemoração, por parte do governo, da manutenção pelo Banco Central na quarta-feira 20 da taxa básica em 6,5% ao ano, até porque a diminuição não repercute na mesma intensidade para aqueles que necessitam dos empréstimos.
O ponto central é que deixar de aumentar a Selic só merecerá aplausos quando ela estiver próxima das taxas básicas vigentes nas principais economias que competem com o Brasil e quando o spread dos bancos comerciais for reduzido ao nível civilizado praticado no mercado internacional, questiona João Carlos Marchesan, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), nesta entrevista a CartaCapital.
CartaCapital: Quais taxas médias têm pago os fabricantes de máquinas e equipamentos nas principais linhas de financiamento?
João Carlos Marchesan: O FINAME/BNDES, a principal linha de financiamento para a compra de máquinas e equipamentos, custa hoje em média 14% a 15% ao ano. A taxa de juros do Finame é composta pela Taxa de Longo Prazo, de 7,04%, acrescida do spread do BNDES de 1,5%, mais o spread dos bancos repassadores, em torno de 6%. Essa taxa, ao invés de estimular investimentos, ela é fator de inibição por ser mais elevada do que as margens normais de retorno esperadas pela aquisição de máquinas e equipamentos por empresas com o objetivo de ampliar produção ou modernizar seu ativo de produção.
CC: Que referências poderia mencionar para demonstrar o quanto são altas essas taxas? Ou seja, são altas em relação a quais padrões de comparação nacionais e externos?
JCM: Se compararmos com as taxas básicas ao ano dos Estados Unidos, de 2% e Chile, de 2,5%, a taxa básica Selic do Brasil, de 6,5%, é três vezes as vigentes nos países de economia dinâmica, mas os juros nominais do mercado financeiro são de mais de 30% ao ano, representando um forte fator de inibição de investimentos produtivos e do comprometimento da competitividade das empresas e dos produtos brasileiros.
CC: O governo considera um grande trunfo a baixa e agora a estabilidade da Selic. Onde e por que não está funcionando a transferência às empresas tomadoras dessa redução e estabilização das taxas pelo BC?
JCM: O governo só poderia considerar a manutenção da Selic como trunfo quando ela estiver próxima das taxas básicas vigentes nas principais economias que competem com o Brasil e quando o spread dos bancos comerciais for reduzido a um nível civilizado praticado no mercado internacional.