Manuela desmonta bancada do Roda Viva montada para desconstruí-la

Há mais de 30 anos no ar e um dos mais tradicionais programas de entrevista da TV brasileira, o Roda Viva desta segunda-feira (25) subverteu a sua premissa de ser “um espaço plural para debater ideias”. A pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela D’Ávila, não se intimidou com as ironias e os ataques provocativos destilados por uma parte da bancada que não estava interessada em fazer perguntas, muito menos ouvir o que uma presidenciável tinha a dizer.

Por Dayane Santos

manuela-roda viva - Divulgação

No primeiro bloco do programa apresentado e mediado pelo jornalista Ricardo Lessa, a pré-candidata foi questionada sobre qual seria o projeto que ela gostaria que passasse para a história associado ao seu nome. Foi um raro momento em que a pré-candidata pôde falar sem ser interrompida abruptamente. Ela resgatou a sua trajetória política e as razões que a levaram a se filiar ao PCdoB.

“Há 20 anos quando eu me filiei ao meu partido, eu decidi entrar para o movimento estudantil e na política porque acreditava que aquele era o caminho para transformar o Brasil num país menos desigual e mais justo”, disse ela. Respondendo à indagação de Lessa, Manuela disse que se for a presidente “que conseguir revogar a reforma trabalhista eu já serei alguém que terei contribuído para um Brasil mais justo”.

Daí por diante foi um bombardeio em que Manuela foi pouco questionada sobre suas propostas de país, mas indagada a falar sobre fatos históricos relacionados ao comunismo e relações internacionais.

“Não acho justo com o Brasil com tantos problemas a gente usando o tempo para debater outros países”, disparou.

Segura e habilidosa, Manuela não se abateu. Reafirmou que o projeto que seu partido tem é baseado nas particularidades brasileiras, e não um simples molde de uma experiência estrangeira em que o Brasil deveria se encaixar.

Reforçou a sua proposta de um projeto nacional de desenvolvimento que seja construído a partir de uma amplo debate com os diversos setores da sociedade.

Ao ser questionada sobre as conversas de lideranças do seu partido com outras legendas, no momento em que se discutem possíveis alianças para as eleições de outubro, Manuela disse que o PCdoB “não abre mão de vencer as eleições para tirar Temer do poder”.

“Para nós, o principal é tirar o Brasil das mãos de Temer e desse conjunto de candidaturas de ultradireita e direita que tentam destruir o Brasil e o Estado brasileiro”, frisou.

Neste sentido, ela afirmou que o líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Orlando Silva (SP), tem conversado com outras siglas e pré-candidatos às eleições deste ano, como Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL), para promover o ambiente de diálogo entre as forças políticas e impedir que um governo “de direita” seja detentor da vitória e comande o país nos próximos quatro anos.

“É preciso quebrar esse ambiente de ódio na política… É uma saída conjunta. Nosso projeto é promover o desenvolvimento do Brasil e combater as injustiças sociais”, completou, reforçando que ela e o PCdoB fizeram uma série de movimentos em busca da unidade do campo progressista para articular uma candidatura única, mas que esse movimento, na atual conjuntura, não se viabilizou.

Sobre as saídas para enfrentar a crise, Manuela destacou que o projeto do PCdoB para a retomada do crescimento econômico é garantir a retomada da capacidade de investimento do Estado e citou o Maranhão, governado por Flávio Dino (PCdoB), como exemplo de que é possível gerar riqueza com desenvolvimento social.

Ela frisou que ao assumir o governo, o Maranhão detinha um dos piores índices econômicos do país. “O Maranhão é um dos melhores estados para investir. É considerado o segundo estado com melhor situação fiscal e paga mais de R$ 5.700 de salário por 40 horas para os professores. Portanto, decide desenvolver um conjunto de atividades e investimentos públicos para movimentar a economia”, lembrou.

Manuela destacou que os investimentos devem ser feitos no setor da indústria. Ela apontou que a atividade industrial com Temer retrocedeu ao nível de 1947. “Nós precisamos de condições para que esse desenvolvimento aconteça, assim o povo vai viver dignamente”, afirmou.

Outro segmento prioritário para seu governo, caso seja eleita presidente da República, é a educação, principalmente a destinada ao público infantil.

Ainda no primeiro bloco, Frederico D’Ávila, diretor da Sociedade Rural Brasileira e um dos responsáveis pelo programa de Jair Bolsonaro (PSL), repetiu o discurso fake news das redes sociais, afirmando em forma de pergunta que o fascismo é “de esquerda” e que a CLT foi baseada em uma lei de Mussolini. Por Manuela defender os direitos trabalhistas e ser contra a reforma de Temer, Frederico tentou construir uma tese mirabolante para dizer que ela e a esquerda defendem a CLT e, portanto, o fascismo.

“Tu entendes de regimes antidemocráticos sendo coordenador do Bolsonaro. Ele defende um país sem democracia, de torturadores… Todo mundo sabe que o fascismo foi um movimento de direita”, desmontou Manuela, deixando Frederico visivelmente incomodado, quase não se contendo na cadeira.

Lula

Boa parte do terceiro e quarto bloco foram dedicados a falar sobre o ex-presidente Lula. Com a bandeira de defesa dos direitos da mulher e de combate ao machismo como uma das bases de sua campanha, um dos jornalistas tentou criar uma suposta rusga ao perguntar se ela considerava machista uma declaração feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em discurso disse que a pré-candidata é “bonita”. Manuela afirmou que, de fato, é uma manifestação de machismo da fala de Lula e que é parte de um comportamento não exclusivo, mas ainda predominante na cultura brasileira e no mundo.

Manuela reafirmou a sua defesa ao direito de Lula ser candidato e voltou a denunciar que o ex-presidente foi condenado sem provas. “Lula está preso porque lidera as pesquisas eleitorais”, rebateu.

“Todos nós sabemos que Lula só está preso porque ele está em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais e podia voltar a ser presidente. Talvez fosse a pessoa para unir todo o campo político em nome do desenvolvimento do Brasil”, destacou.

A contundência de Manuela incomodou parte da bancada. Joel Pinheiro da Fonseca, economista de Marina Silva, interrompeu Manuela para tecer suas opiniões, como se ele fosse o entrevistado.

“Minha defesa do Lula é assim porque eu decidi defender não o que era mais fácil, mas o que é certo”, afirmou Manuela, reforçando que o processo contra Lula foi feito sem provas e por um juiz parcial. “Não tinha. Juiz não é Deus. Quando juiz quer fazer política, tem que tirar a toga”, lembrou.