Governo Temer é “moribundo” e entrave à economia, diz Pochmann
O Banco Central decidiu usar as reservas internacionais do Brasil, acumuladas nas gestões Lula e Dilma, para tentar conter a alta do dólar. Para o economista Marcio Pochmann, trata-se de “baixar a febre, sem curar suas causas”. Segundo ele, com um governo “moribundo e incapaz”, a economia segue frágil e vulnerável a ataques especulativos. “Enquanto durar esse governo, não há solução”, afirma. E fala inclusive na possibilidade de antecipar a posse no novo presidente
Por Joana Rozowykwiat
Publicado 26/06/2018 18:43
“Não há fortalezas que evitem irmos no sentido do ataque e da especulação, porque a economia brasileira está muito frágil hoje. Há um governo incapaz de governar o país. Eu nem descartaria, por exemplo, a necessidade de haver uma antecipação da posse do presidente eleito”, aponta, em entrevista ao Portal Vermelho.
De acordo com ele, o governo comandado por Michel Temer está enfraquecido, e não há perspectiva de a economia se recuperar este ano, o que abre brecha, por exemplo, para ataques especulativos.
“O governo Temer é moribundo. O transtorno de retirá-lo agora é justamente lançar mais instabilidade sobre a viabilidade eleitoral. Por isso, vai seguir esse governo semi-morto até as eleições, para que, pela soberania popular, se possa consagrar um governo que tenha capacidade de levar avante o país. Não descarto, num aprofundamento da gravidade da economia, desse problema social gravíssimo que vivemos, termos que antecipar a posse”, reitera.
Swaps x reservas
Com o dólar subindo demais, o Banco Central anunciou uma mudança na forma de negociar a moeda. A estratégia agora é tirar dinheiro das reservas internacionais – atualmente em US$ 382,5 bilhões – e vender o dólar já no mercado, ao invés de fazer uma venda futura, como acontecia até então, com swaps cambiais.
Na prática, o BC quer aumentar a quantidade da moeda norte-americana circulando e, assim, conter a sua alta. Pois, com mais dólar disponível na economia, o seu preço deve ser menor.
Ao ser questionado sobre a nova medida do BC, Pochmann afirmou que a autoridade monetária pode ter identificado um ataque especulativo, que não seria enfrentado apenas pelas swaps cambiais.
Segundo ele, os contratos de swaps vinham sendo usados quando se tinha a percepção de que a desvalorização do real era fruto de um movimento de defesa de empresas nacionais que possuem dívidas ou despesas em dólar. Sem saber como evoluirá o câmbio, essas empresas terminam comprando a moeda norte-americana antecipadamente, contra o risco de terem que pagar um valor mais alto adiante.
“Em função disso, o governo utiliza as swaps, porque aí você dá um papel dizendo que vai entregar o dólar, num determinado período à frente, por uma taxa de câmbio que foi comprada no período anterior. Então é dar garantia para quem vai precisar, por exemplo, pagar uma despesa em dólar daqui a dois meses e está com medo que até lá a taxa de câmbio tenha levado o dólar muito para cima. Então eu compro agora e o BC me garante que vai me vender daqui a dois meses no preço em que está hoje. Isso permite ao BC amenizar o ataque à moeda nacional”, explica.
De acordo com o economista, quando o Banco Central anuncia que vai utilizar as reservas, é porque, na verdade, a demanda por dólar não é decorrente dessa instabilidade para atender a determinados compromissos.
“Na verdade, você tem um ataque em relação à moeda. Talvez o Banco Central tenha detectado que há uma circunstância mais grave que não poderia ser resolvida apenas por swaps. Agora identifica que as características são mais decorrentes desse ataque especulativo, numa economia que não cresce e que tem problemas”, diz.
Colchão de segurança, herança do PT
Pochmann ressalta que as reservas internacionais, que foram acumuladas durante as gestões Lula e Dilma desmentem o discurso corrente de que os governos do PT “geraram a crise, desorganizaram a economia e causaram uma desordem nas finanças públicas”.
“As reservas são o que impede o Brasil de estar na situação em que se encontra atualmente a Argentina. O principal ativo que o governo tem hoje é a herança das reservas. Isso dá uma segurança para enfrentar um momento como este”, defende.
Só a política salvará a economia
Para Pochmann, o problema com a nova estratégia do BC está no fato de as reservas vão ajudar a curar o sintoma da alta do dólar, não a doença que está por trás. “As reservas vão ser utilizadas num país que não tem perspectiva, ao menos nesse ano, de superar os entraves e as razões que talvez estejam ensejando esse adicional de especulação”, coloca.
Na sua avaliação, a alta do dólar tem a ver com questão externas, como a alta dos juros norte-americanos, mas também com o fato de que não há incentivos à vinda de dólares para o Brasil, o que poderia compensar a saída de capitais.
“A instabilidade interna pode ser um elemento que estimule a especulação para além do que é a lógica de funcionamento do mercado financeiro”, resume.
Segundo ele, Temer perdeu a capacidade de impor o que o próprio mercado desejava e passou a ser fortemente questionado desde então. E, por mais que a equipe econômica seja identificada com o mercado financeiro, já não é capaz de mostrar que pode levar adiante as mudanças esperadas.
De acordo com o economista, o país assiste a mais uma demonstração de que “o que pode salvar a economia brasileira é a política, tão desacreditada e questionada, justamente por aqueles que querem fazer dela algo distante da população”.