Abigail defende desenvolvimento do RS para enfrentar crise fiscal
Em entrevista ao jornal Diário Popular, divulgada nesta terça-feira (19), a pré-candidata do PCdoB ao Governo do Rio Grande do Sul, Abigail Pereira, criticou a política de cortes de gastos do governador José Ivo Sartori (MDB). Ela ressaltou que durante a gestão peemedebista, a população só ouviu a palavra corte. “Onde teve investimentos?”, questionou.
Publicado 19/06/2018 19:15 | Editado 04/03/2020 17:09
“Precisamos exercer protagonismo na busca de recursos da renegociação da dívida. Não dá para enfrentar a crise financeira do Estado jogando nas costas dos servidores que amargam quatro anos sem reajustes de salários, recebendo parcelado”, declarou.
“Para nós, o número um de enfrentamento se chama desenvolvimento. Um novo futuro onde a gente possa falar, ao invés de cortes, em receita. Em como ter crescimento, mais arrecadação”.
Questionada sobre como reduzir impostos sem prejudicar arrecadação e serviços, Abigail afirmou que o Rio Grande do Sul não vai conseguir enfrentar seus problemas desassociado do debate nacional. E por isso, sua pré-candidatura é vinculada à pré-candidatura da Manuela d’Ávila à Presidência da República. “O Estado não é uma ilha. Manuela propõe uma reforma tributária progressiva que discuta com estados e municípios, e inverta essa lógica de Robin Hood ao contrário, que tira dos pobres para dar aos ricos. Queremos tributar os mais ricos”.
Leia na íntegra a entrevista da pré-candidata do PCdoB ao Governo do Rio Grande do Sul:
Apesar da trajetória política, até que ponto não ter vencido eleições anteriores pode influenciar na sua campanha?
Todas as eleições que participei saí vitoriosa, maior do que entrei. Concorrer ao Senado ao lado de Paulo Paim, que já era senador, e ter 1,5 milhão de votos me fez conhecer melhor o Estado, debater com pessoas. Isso me tornou mais experiente a ponto de ser convidada para fazer gestão com o governador Tarso Genro. Ter participado do governo como um todo, não apenas discutindo a minha pasta. Quando cheguei ao governo o RS era conhecido por Gramado e Canela. Começamos a olhar de outra forma e ver os potenciais que tínhamos. Na época o debate era Pelotas, Jaguarão e São Miguel. Fomos a Brasília e organizamos um trabalho para que se tornassem cidades históricas, que tivessem recursos. Isso tudo é motivo de orgulho da minha gestão, olhando o turismo não apenas como lazer, entretenimento e congraçamento de povos. Mas também como um fenômeno econômico que contribui para o desenvolvimento das regiões. Portanto, tenho esse acúmulo na gestão da minha pasta, mas também na gestão do governo como um todo.
A senhora participou do núcleo do governo Tarso. A atual gestão atribui grande parte da culpa pela crise do Estado a um legado recebido. Qual a sua avaliação?
Não tem como dizer que o governo passado deixou o RS em crise. Qualquer gaúcho sabe muito bem que a crise financeira é de mais de 40 anos. Os governos que passaram, a seus modos, tentaram enfrentar. É balela falar como se a crise tivesse começado agora. Essa crise se aprofundou no governo Britto, quando fez o acordo com Fernando Henrique Cardoso que endividou mais o Estado. Em valores da época, eram R$ 10 bilhões e desse montante que o RS recebeu já pagou R$ 28 bilhões e ainda deve R$ 58 bilhões pelos dados do governo. Essa conta não fecha. O governador deve ter faltado às aulas de matemática. É preciso liderar um debate a nível nacional com o governo federal sobre essa dívida. A outra questão é a Lei Kandir, em que o RS também foi extremamente prejudicado. Eu, governadora, vou liderar esse debate sobre a Lei Kandir. Não vou estar de pires na mão, como hoje é feito. Nestes quatro anos do atual governo só ouvimos uma palavra: cortes. Onde teve investimentos? Qual o legado para os gaúchos e gaúchas? Para enfrentar isso não tem mágica. Precisamos exercer protagonismo na busca de recursos da renegociação da dívida. Não dá para enfrentar a crise financeira do Estado jogando nas costas dos servidores que amargam quatro anos sem reajustes de salários, recebendo parcelado.
Existe tensão permanente no Estado há vários governos por conta de salários dos professores, estrutura das escolas. Como chegar a uma solução?
Para nós, o número um de enfrentamento se chama desenvolvimento. Um novo futuro onde a gente possa falar, ao invés de cortes, em receita. Em como ter crescimento, mais arrecadação. Sobre a educação, além dos cortes e do tratamento dos servidores, pergunto: qual a postura dos deputados de partidos da base do governo sobre a aprovação da Emenda Constitucional 95, que congelou por 20 anos qualquer investimento em educação? Como votaram os parceiros do governo? Paralelo a isso, cito o Maranhão, hoje governado por Flávio Dino, um camarada do PCdoB, onde a educação vai muito bem. O Maranhão é um estado pobre, historicamente governado por um sistema coronelista, onde as escolas eram de barro. Hoje não existe lá um professor que ganhe menos de R$ 5 mil. Mais de 100 mil pessoas deixaram o analfabetismo para trás. Na segurança, diminuiu seu índice de violência. Temos referências de que é possível governar olhando para o povo. Por isso sou candidata, porque não concordo que o Regime de Recuperação Fiscal seja a única saída para o enfrentamento. Temos outras propostas para apresentar, outras saídas.
A senhora não teme que essa pulverização de candidaturas no seu campo político enfraqueça a todos, ficando fora de eventual segundo turno?
É uma análise mais complexa. No campo da esquerda, fizemos o lançamento de um manifesto pela democracia e soberania que dá conta das nossas opiniões. Os partidos assinaram conjuntamente. Temos unidade, muito mais coisas nos unem do que dividem. Mas temos candidaturas díspares, por isso somos partidos diferentes. Isso não significa que no segundo turno não estejamos todos juntos. O lado de lá está muito mais dividido do que nós. A direita está em maus lençóis. Quem é o candidato deles? Como está nas pesquisas? Com oito candidatos, sou a única mulher e pontuo 3%. E quase não estou aparecendo. Além disso, mesmo na pré-campanha já temos reunido e discutido os problemas do RS e como enfrentá-los.
Recentemente a greve dos caminhoneiros expôs novamente uma reclamação frequente aqui no RS que é a carga tributária. Há como reduzir impostos sem prejudicar arrecadação e serviços?
O RS não vai conseguir enfrentar seus problemas desassociado do debate nacional. Por isso a minha candidatura é vinculada à da Manuela D’Ávila, candidata à Presidência. O Estado não é uma ilha. Manuela propõe uma reforma tributária que discuta com estados e municípios e inverta essa lógica de Robin Hood ao contrário, que tira dos pobres para dar aos ricos. Queremos tributar os mais ricos. Não é possível que quando qualquer cidadão compre um carrinho pague IPVA, mas os ricos compram seus iates, helicópteros e jatinhos sem pagar impostos por isso. Temos que sobretaxar as grandes fortunas. Heranças, por exemplo, são uma tarefa dos estados, que têm a prerrogativa para taxar. Na Europa, por exemplo, há taxas de 30%, 40%, 50% nas grandes heranças. Aqui é de 3%, um absurdo. Veja como se trata de fazer escolhas. Aqui se aumenta o ICMS. E o que isso significa? Aumentar para todo mundo igual. E não é isso, não pode ser igual para quem ganha salário mínimo e para quem ganha rios de dinheiro. Precisamos pensar em como alterar esse processo. São as nossas propostas: investir em arrecadar mais, combater a sonegação, fazer o encontro de contas em nível nacional e fazer o debate sobre a reforma tributária que Manuela tem apresentado em todo o país.