Publicado 16/06/2018 13:44
“Em plena Copa das Confederações, o país do futebol se interessou mais pelo que acontecia nas ruas do que pelos jogos. Acredito que mergulhar em profundidade nas muitas camadas desse movimento, relacioná-lo com o que veio antes e depois, e pensar no contexto em que as insurgências eclodem nos permite compreender melhor a história recente do país e a própria contemporaneidade", continua a autora do livro “Jornadas de Junho – 5 anos depois”, que acaba de sair pela editora Autografia.
Passam-se exatos cinco anos daqueles acontecimentos que chacoalharam o Brasil em 2013, um movimento original, complexo e mal compreendido. Que ganha novo e aprofundado olhar com o livro de Tiana Maciel Ellwanger. Didático, denso e recheado de episódios curiosos, o livro traz reflexões originais sobre o que foram os protestos, suas representações, memórias, e sobre como mudariam em profundidade os rumos da política brasileira.
Em 2013, o estopim das manifestações foi o aumento de 20 centavos na tarifa do transporte coletivo; ela logo incorporou pautas mais gerais, como a violência policial, os investimentos em eventos esportivos, a precariedade dos serviços públicos e a corrupção.
Depois de mais de 20 anos sem sair maciçamente às ruas, multidões ocuparam o espaço público em centenas de cidades, à margem dos partidos e lideranças políticas. A multidão queria ser ouvida e melhor representada, e surpreendeu a todos, inclusive ao governo que surfava em altos índices de aprovação, e a economia estava longe de uma crise.
A autora é mestre em Comunicação e Cultura e especialista em História do Brasil. Segundo ela, "nossa memória está muito mais relacionada ao presente do que ao passado. O que aconteceu nos últimos anos certamente influencia e transforma as memórias de 2013”. Muita gente confunde as Jornadas de Junho com os protestos pelo impeachment em 2015 e 2016, diz ela. "Da mesma forma, mais recentemente, o movimento dos caminhoneiros e de empresários do transporte trouxe novamente narrativas comparando 2018 a 2013”, diz ela. Há interseções, concorda ela, mas “muitas diferenças também. Um dos objetivos do livro é, junto com o leitor, pensar como acontecimentos ocorridos nesses cinco anos – entre eles as manifestações após a execução da vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro -, aproximam-se e distanciam-se das Jornadas", detalha Tiana. "Marielle é considerada uma voz de 2013 e, no livro, auxiliada por quem estava próximo dela, refletimos sobre essa relação entre 2018 e 2013", complementa. Nesse contexto, Tiana traz reflexões sobre a democracia brasileira e as possíveis ameaças a ela.
Nesse sentido, faz uma abordagem aprofundada e percuciente do papel conservador da mídia hegemônica na conjuntura política.
Analisa a maneira como o Jornal Nacional, da TV Globo, tem se pautado politicamente. No outro pólo, analisa também a cobertura, democrática, feita pelo portal Mídia Ninja, entre junho de 2013 e fevereiro de 2014.
O livro é uma importante contribuição para a reflexão, o entendimento e a ação democrática na realidade política do Brasil, sobretudo deste Brasil que foi tomado de assalto pela quadrilha que assumiu o governo desde maio de 2016.