BC admite que país sofreu forte concentração bancária
Em entrevistas, o presidente do Banco Centra, Ilan Goldfajn, sempre tentou minimizar a relação de causa e efeito da concentração bancária no Brasil e a resistência do oligopólio bancário (privado e público) em baixar os juros dos empréstimos na mesma velocidade da queda do piso de captação (a Selic, manejada pelo próprio BC).
Por Gilberto Menezes Côrtes
Publicado 13/06/2018 18:14

Os dados do Banco de Compensações Internacionais (o BIS, na sigla em inglês, o Banco Central dos Bancos Centrais), com sede em Basiléia, na Suíça, levaram o BC a admitir, no Relatório de Economia Bancária, apresentado ontem, que o país teve forte concentração bancária a partir da crise financeira mundial (2008) quando o BIS, que zela pelo Acordo de Basiléia, passou a exigir maior capital dos bancos, o que agravou a concentração.
Mas os dados do BIS mostram que não só o Brasil lidera a concentração entre os países emergentes (os cinco maiores bancos controlavam 82% dos ativos do sistema em 2016), como era o segundo país em nível de concentração (empatado com a França_ e só perdendo para a pequena Holanda (89%). A França teve aumento de 6,4% na concentração de 2014 para 2016. O Brasil veio em segundo, com 5,13%, a Coreia do Sul teve 5% no período, e a Holanda aumentou 3,4%.
Tomando por base o ano de 2006, quando começa a série do BIS, a concentração no Brasil aumentou 36%. Na França foi de 6,4% frente a 2008 e na Holanda o aumento ficou em 5,9%. Nos EUA, após aumentar na crise de 2008, quando vários bancos quebraram e mudaram de composição acionária, a concentração chegou a aumentar para 45%, em 2012, mas recuou para 43%.
O outro efeito foi a alta rentabilidade dos grandes conglomerados bancários. Mesmo tendo o Brasil passado pela maior recessão da história (que reduziu a demanda de empréstimo das empresas de 2015 a 2017 e aumentou a inadimplência geral, com o aumento do desemprego), a média da rentabilidade dos bancos brasileiros, de 13,8% em 2017, medido pelo Retorno sobre o Patrimônio líquido está em 9º lugar no mundo. A título de comparação, embora esteja inferior aos 19,6% do México e os 18,1% do Peru, o índice brasileiro é três vezes maior que o do sistema bancário europeu: Suíça (3,2%), Portugal (4,7%) e Itália (4,7%), ou ainda dos Estados Unidos (3,4%)e da Índia (4,5%).
Mais uma vez, o estudo do BC referenda a versão da Febraban de que a inadimplência explica a maior parte dos spreads bancários (diferença entre o custo de captação dos bancos e o que eles cobram dos clientes finais). Conforme o relatório, a inadimplência representou 38,27% do spread em 2016, as despesas administrativas (25,55%), os tributos e o Fundo Garantidor de Crédito (22,13%) e os lucros e outros fatores (margem financeira) atingiram 14,04%.
Concorrência
O Banco Central voltou a insistir que “ampliar a concorrência é prioridade e se insere no pilar ‘Crédito mais barato’ da Agenda BC+”. O discurso de que “a maior concorrência significa menor custo do crédito e maiores benefícios para a população” é bonito, mas não responde à lógica. Se os cinco maiores bancos concentraram 85,9% do crédito bancário comercial, fica claro que o poder de concorrência das fintechs, entidades que procuram dar crédito via internet, com apoio remoto dos bancos é mínimo, para baixar os juros. Nunca vi o rabo abanar o cachorro…
O BC está prevendo aumento de 3% no crédito do Sistema Financeiro Nacional em 2018. Os empréstimos a pessoas físicas cresceriam 7,0%, mas a demanda das empresas deve cair 2,0%