Tânia Bacelar: Política da Petrobras é tão absurda que não se explica
Em entrevista à Rádio Universitária de Pernambuco, a economista Tânia Bacelar falou sobre a crise dos combustíveis. De acordo com ela, o presidente Michel Temer tem dificuldades de resolver o problema, porque se recusa a ir à sua raiz. “O vilão é a política de refino e, associada a ela, a política de preços da Petrobras”, disse, classificando-as como “absurdas e ilógicas”. Veja o vídeo abaixo:
Publicado 08/06/2018 19:12
“Um país que tem petróleo, que tem capacidade de refino – que é agregar valor ao petróleo –, mas corta o refino interno para importar? Não dá para explicar isso à população. É tão ilógico… como o pais escolhe se transformar em importador de um produto que você é capaz de produzir?”, criticou.
Sobre a política de preços que a Petrobras implementou a partir de junho deste ano, Tânia afirmou que ela parece deslocada da realidade do país. “É como se eles não soubessem que estão no Brasil. Como é que, num país em que a vida das pessoas e a economia rodam em cima do diesel e da gasolina, você atrela o preço desses combustíveis a duas variáveis externas – que são o dólar e o preço internacional, ambos definidos lá fora –, e num momento mundial em que os preços delas duas estão crescendo a nosso desfavor? É tão absurdo que não conseguimos explicar”, disse.
Tânia avaliou que a greve dos caminhoneiros revelou como o país é refém de um sistema de infraestrutura e transporte muito concentrado no modal rodoviário. “Os caminhoneiros pararam o pais. E um país que tem rio, oceano e já teve uma malha ferroviária.” Questionada sobre as forças que têm interesse na manutenção desse modelo, ela mencionou a indústria automotiva e as empreiteiras brasileiras, que têm peso nas decisões.
Segundo a economista, a decisão de Temer de atender ao pleito dos caminhoneiros subsidiando a redução no valor do diesel também chamou a atenção para o modelo tributário brasileiro. Ela defendeu que a reforma tributária é a “mãe” de todas as outras.
“É fácil fazer? Não. Lula tentou duas vezes e não conseguiu. Mas o sistema tributário brasileiro é absurdo. A gente discute o tamanho da carga, mas a carga tributária brasileira não é alta. É 32%. A média da OCDE é 34%. Não estamos fora da curva. A gente está fora da curva na composição da carga. Na média da OCDE, 34% vêm da renda. No Brasil, só 21%. E nem falo da isenção da tributação e lucros e dividendos, que é uma excrecência. A sociedade tem que questionar esse sistema tributário, que está errado.”
Para ela, com relação ao diesel, a sociedade não vai aceitar “subsidiar o ganho dos importadores, cortando educação e saúde e aumentado os custos. Nossa indústria está rebelada com razão”.
“Temos uma reserva de petróleo bastante grande, temos uma base de refino razoável, que está atrasada, é muito antiga, e, por conseguinte, compramos petróleo de fora e, como o preço está subindo muito e o dólar também, não é natural que a Petrobras pague o preço dessas coisas. Mas também não é certo que o povo brasileiro pague preço internacional por um petróleo que é brasileiro. Na época de Dilma tinha reajuste de três em três meses e ia equilibrando. Aí vem Temer e passa todo o custo para o povo brasileiro”, criticou.
Outro convidado da Rádio universitária, Flávio Tonelli Vaz, assessor técnico da Câmara dos Deputados e especialista em orçamentos e políticas públicas também criticou a política de preços da Petrobras. “ Não é possível um país exportador de petróleo agir internamente como se importasse o produto. Teria que rever a política”, afirmou.
De acordo com ele, outra opção teria sido a redução de tributos sobre o combustível, mas, para ele, Temer optou pela pior saída. “A pior solução era o subsídio, porque exige cortar recurso em áreas como saúde, educação”, disse. Para ele, este é “um governo dos negócios, não dos interesses nacionais e do desenvolvimento” .