Economista desmonta farsa de Parente sobre preços dos combustíveis

Após 10 dias de uma desastrosa negociação com caminhoneiros que se mobilizaram contra a alta sucessiva dos combustíveis, o governo Michel Temer divulgou uma nota, nesta quarta-feira (30), na qual afirma que o governo vai manter a política de preços da Petrobras.

Por Dayane Santos

Claudio da Costa Oliveira - Reprodução

Desde que assumiu o poder após o golpe, Temer implantou uma série de medidas para favorecer as empresas estrangeiras e colocar a estatal nas mãos do mercado. Em 2016, Pedro Parente, presidente da Petrobras, estabeleceu uma nova política de reajustes com base na variação do dólar e dos preços do petróleo no mercado internacional, sob a justificativa de que a empresa estava quebrada e afogada em dívidas.

Segundo o governo, a manutenção da medida "tem compromisso com a saúde financeira da Petrobras" e a redução no preço do óleo diesel, como foi acordado com os caminhoneiros grevistas, não altera a política de preços da estatal.

“É uma tremenda mentira”, classificou Cláudio da Costa Oliveira, economista da Petrobras aposentado e da articulista da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), em entrevista ao Portal Vermelho.

“Toda essa história está baseada numa série de mentiras que foram criadas. A primeira das grandes mentiras que eles [governo] e a mídia gostam de dizer é que ‘não podemos voltar ao passado que quebrou a Petrobras’ ou que os subsídios quebraram a empresa. Esse é o argumento para tudo que tem sido feito, mas é uma tremenda de uma mentira”, enfatizou o economista.

Entenda a política de preços

A Petrobras passou a utilizar uma nova fórmula para definir o preço dos combustíveis e do gás baseado em cotações do mercado internacional. O preço final pago pelo consumidor é formado pelo preço dos componentes do produto, a taxa de câmbio e uma margem de lucro.

Sendo o principal acionista da Petrobras, os governos Lula e Dilma fizeram a escolha política de atuar para que os preços dos combustíveis derivados de petróleo ficassem abaixo do mercado internacional, incentivando o mercado interno. Com isso, foram subsidiados os valores, isto é, o governo bancava parte do preço, para reduzir o custo para o consumidor.

O resultado: o preço do botijão de 13 quilos, utilizado pela maioria da população, esteve praticamente congelado durante o governo Lula (2003-2010) e o primeiro mandato de Dilma (2011-2014). Agora, com Temer, o preço do botijão chega a R$ 80.

E mesmo sob convulsão social, Pedro Parente voltou a autorizar nesta quarta-feira (30) mais um aumento do preço da gasolina nas refinarias. A partir desta quinta-feira (31), o preço do combustível subirá 0,74% e passará a custar R$1,9671 o litro.

A proposta de Temer-Parente é reduzir os subsídios e repassar os custos do produto para a população, elevando os preços e sinalizando ao mercado que podem decidir como bem quiserem.

“As estatais foram criadas para atender a população e o desenvolvimento do país”, diz Cláudio da Costa Oliveira. “É muito mais razoável o que foi feito antes, que deu subsídio de 2010 até 2012. Entre 2015 e 2016, o preço do petróleo caiu, mas o preço de venda da Petrobras continuou o mesmo. Então, a Petrobras passou a vender com preço acima do mercado interno, mas num nível compatível com a renda do povo brasileiro”, lembrou o economista.

Ele reafirma que o preço que a Petrobras tem que estabelecer não é partindo das oscilações do mercado externo, mas um preço que dê lucro para gerar investimentos, mas que seja adequado a renda do brasileiro.

A mentira da “empresa quebrada”

Com base nos números divulgados pelos balanços auditados e publicados pela própria Petrobras, Cláudio desmonta a tese de “empresa quebrada” papagueada por Temer e Parente.

Ele sustenta que a chamada Geração Operacional de Caixa, que é considerado como o principal indicador da saúde financeira de uma empresa, é uma demonstração cabal da solidez e saúde financeira d Petrobras.

O economista explica que a geração operacional de caixa é o recurso que resta a empresa depois de cobertos todos os custos e despesas e que pode ser utilizado, inclusive, para cumprir com o serviço da dívida, pagar dividendos ou fazer qualquer tipo de aplicação planejada. Na Petrobras, disse ele, o valor “é sempre superior a US$ 25 bilhões” e em 2011, por exemplo, a estatal registrava US$ 33 bilhões de geração de caixa.

Ele reforça que a Petrobras apresenta há anos uma geração operacional de caixa em níveis altos. “Desde 2010 é a mesma coisa. Se teve corrupção, e falam que a corrupção quebrou a Petrobras, não afetou em nada a geração de caixa. Se teve subsídio, não afetou em nada o caixa. Pelo contrário, melhorou. A melhor geração de caixa que a Petrobras já teve foi em 2011, em pleno subsídio, corrupção e tudo”, destacou.

Discurso da mídia sobre queda na bolsa

Michel Temer disse em entrevista à TV Brasil, nesta terça-feira (29), que poderia reexaminar a política de preços da Petrobras, mas voltou a justificar a suposta política a política dos governos Lula e Dilma teriam prejudicado a estatal, como a Rede Globo e demais veículos repetem diuturnamente.

"Convenhamos, a Petrobras se recuperou ao longo destes dois anos. Estava em uma situação, digamos, economicamente desastrosa há muito tempo. Mas nós não queremos, digamos, alterar a política da Petrobras. Nós podemos reexaminá-la, mas com muito cuidado", declarou Temer na entrevista.

Cláudio é enfático ao afirmar que, diferentemente do que afirma, o governo “não recuperou nada” porque “nada foi afetado”.

“Poderia ter melhorado, mas não melhorou. Aumentaram os preços, demitiram um monte de gente para reduzir custos e a geração de caixa continua a mesma. Ao colocar os preços lá em cima, geração de caixa deveria estar aumentando”, advertiu o economista.

“O objetivo é privatizar e entregar o mercado interno para distribuidores privados e refinarias norte-americanas”, completou.

Segundo ele, o discurso de Temer e Parente sobre um suposto endividamento da Petrobras é para atender a especulação financeira da bolsa de valores, que a mídia gosta tanto de enfatizar.

“Na verdade, o valor da ação na bolsa não afeta a empresa. A ação da Petrobras em 2008, na época do Lula, passou de R$ 50. Caiu para R$ 5 ou R$ 6, subiu para R$ 16. Estava R$ 25 e agora passou para R$ 18. A receita da Petrobras não mudou nada e não foi afetada por essas oscilações. Bolsa de valores é um cassino onde as pessoas vão apostar que uma determinada empresa vai subir e outra vai descer. Fundos de investidores vão lá e apostam bilhões, e depois correm atrás do prejuízo e derrubam governos, fazem corrupção, nomeiam diretor de empresa”, disse.

Cláudio se refere ao fato de Pedro Parente ser sócio fundador da Prada Consultoria, grupo de gestão financeira e empresarial presidido por sua mulher e especializado em maximizar os lucros de milionários brasileiros, entre eles, “investidores” da Petrobras.

“É um cassino de apostas que nada tem a ver com a empresa real que está produzindo e trabalhando. Mas muita gente da imprensa fica falando que o valor de mercado da Petrobras caiu abaixo do apresentado pela Ambev. Isso nada interessa para a empresa e só vale para o mercado de apostas que faz isso subir e descer”, reafirmou.

No entanto, Cláudio frisou que esse mercado de apostas tem influência nas decisões da empresa. “Eles querem dividendos. Começaram adiantamentos trimestrais de dividendos e de juros sobre capital próprio”, lembrou.

Privatização

Ainda sobre o caixa da estatal, Cláudio advertiu que o interesse do mercado na privatização da Petrobras é justamente por ser uma empresa com capital sólido. Ele disse que a estatal detém o maior caixa de todas as grandes petroleiras do mundo.

“Hoje, o caixa é 7 vezes maior do que o da Esso, que tem uma receita três vezes maior do que a Petrobras. De 2015 para cá – quando foram interrompidos os investimentos e deram início ao desmonte da Petrobras – o caixa sempre esteve acima dos US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões. Enquanto a Chevron e Esso vem diminuindo, o caixa da Petrobras cresce”, aponta.

Fazendo a comparação da Geração Operacional de Caixa da Petrobras com outras grandes petroleiras, de 2012 a 2017, verifica-se que essas empresas tiveram elevação por causa do aumento do preço do barril, mas o da Petrobras não. “Então, onde está o efeito da política de preços? Não tem nenhum”, rebate o economista.

Cláudio destaca que, mesmo tendo uma receita maior que a Petrobras, as petroleiras estrangeiras não mantiveram a sua geração operacional de caixa como a estatal brasileira.

“Os números mostram claramente o efeito da variação dos preços do petróleo na geração operacional das petroleiras estrangeiras. Efeito que não se vê na Petrobras. Isto fez com que em 2016 a Petrobras registrasse a maior Geração Operacional de Caixa entre todas a grandes petroleiras mundiais”, frisou.

Mas se a atual política de preços aplicada por Parente tem o objetivo de seguir a cotação internacional do barril, por que de 2016 para 2017 todas as grandes petroleiras tiveram expressivo aumento de geração operacional enquanto na Petrobras o número permanece estável?

“A única explicação é que o caixa é mantido elevado para permitir a venda de ativos. Se fosse utilizado o caixa não haveria necessidade de venda de ativos”, afirma.