Greve dos caminhoneiros entra no 4º dia e deixa governo acuado
O jornalista Altamiro Borges afirmou em artigo publicado que a greve nacional dos caminhoneiros iniciada na segunda-feira (21) poderia “representar uma baita dor de cabeça para o já desgastado Michel Temer”. A sua avaliação se confirmou nesta quinta (24), quando o movimento entrou no 4º dia de paralisação, provocando desabastecimento de produtos básicos em supermercados, falta de combustível para abastecer aviões em pelo menos cinco aeroportos e ônibus em várias cidades do país.
Publicado 24/05/2018 12:34
Assessores do Planalto afirmam que o governo não contava com o potencial de mobilização dos caminhoneiros e foi surpreendido pelos efeitos da paralisação num prazo muito curto. Acuado, o governo federal, que já havia se comprometido a zerar a alíquota da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide), de 1,12%, esperava que o presidente da Petrobras, Pedro Parente, cedesse para tentar dar garantias para negociar com os caminhoneiros.
O grau de subordinação à cartilha do mercado é tanta, que mesmo diante de uma situação de impacto negativo em toda a cadeia da economia do país, o presidente ainda aguardava uma decisão de Pedro Parente e, ao ser informado sobre o recuo parcial, o ilegítimo disse se sentir aliviado.
Esta é a sinalização que o governo dá ao mercado. Considera que a Petrobras e todo o peso que ela tem sobre a economia brasileira são comandados pelos grandes cartéis internacionais do petróleo.
Parente anunciou na quarta (23) a redução de 10% do preço do óleo diesel nas refinarias, mas por um período de apenas 15 dias, com o objetivo de encerrar a paralisação. Sem sucesso. O governo terminou a reunião com representantes dos caminhoneiros sem acordo e a greve continua pelo menos até sexta-feira, segundo as lideranças do movimento.
Isso porque a proposta de redução por apenas 15 dias não foi bem recebida pelos caminhoneiros, já que o impacto da redução do preço do diesel nas refinarias é uma incógnita.
Caso seja repassada pelos donos dos postos, a diminuição poderá chegar a R$ 0,23 por litro, já que o valor cobrado pela empresa cai de R$ 2,3351 para R$ 2,1016. No entanto, os empresários têm liberdade para definir o preço final cobrado nas bombas.
“Não vamos aceitar uma redução por 15 dias. E também não basta 10%”, disse um representante dos caminhoneiros. Para a Petrobras, o impacto estimado no caixa é de cerca de R$ 350 milhões, dinheiro que não será recuperado. Mas um cálculo da empresa mostrava que, se os protestos continuarem e, no limite, as refinarias tiverem de ser paralisadas, as perdas chegariam a R$ 90 milhões por dia.
Líderes das entidades grevistas voltarão a se reunir com o governo nesta quinta, na Casa Civil, entre a Abcam (Associação Brasileira de Caminhoneiros) e o ministro dos Transportes, Valter Casemiro e o ministro da secretaria de Governo, Carlos Marun.
O presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, reafirmou a disposição em manter o movimento. “Daqui para frente não vamos abrir não. Tem que mudar. Eles viram que, com o país parado, não é brincadeira. Tem pessoas que estão aqui [em Brasília] e foram viajar, mas estão voltando para o hotel porque no aeroporto não tem querosene para os aviões, pois os caminhões [transportadores] estão parados lá em Goiânia, não conseguem passar. O governo entendeu que não tem para onde correr. O que estamos percebendo é que a sociedade também vai entrar nessa história”, declarou o dirigente ao Congresso em Foco.
Fontes dão conta de que outras categorias vão iniciar suas próprias greves. Os petroleiros da Refinaria Gabriel Passos, em Betim (MG), iniciaram uma paralisação contra o aumento dos combustíveis e, em assembleia realizada nesta quinta-feira (24), decidiram cruzar os braços e interromper as atividades da unidade por um período de oito horas.
“Os petroleiros não estão lutando por melhores salários, nem por benefícios ou privilégios. Estamos lutando para que o gás de cozinha volte a ter o preço que tinha antes, pela baixa da gasolina, pela baixa do preço do diesel”, disse o coordenador do Sindpetro de Minas Gerais, Anselmo Braga.
A avalanche acendeu o sinal vermelho no Planalto e Temer convocou reunião de emergência de seus ministros, ocorrida na manhã desta quinta (24). Foram convocados os ministros Eduardo Guardia (Fazenda), Moreira Franco (Minas e Energia), Valter Casemiro (Transportes, Portos e Aviação), o presidente da Petrobras, Pedro Parente, e o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid.
Com uma impopularidade recorde, Temer está preocupado com o desgaste provocado pela paralisação. Segundo fontes, Temer considerava que a situação estava chegando num ponto de gravidade elevada, por conta do desabastecimento em vários setores da economia, podendo parar a produção de algumas empresas.
Uma informação publicada no G1 demonstra que o caos se instalou no governo foi a informação de que um auxiliar de Temer teria dito que “o governo demorou a perceber que o preço do diesel estava subindo numa escala preocupante, prejudicando o setor de transportes no país” e que isso seria “resultado de uma reta final de mandato muito pior do que imaginava a equipe presidencial”.