Publicado 09/05/2018 11:50
Acampados a mais de uma semana em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em São Paulo, no Largo do Paissandú, os moradores que ocupavam o prédio Winton Paes de Almeida, que desabou após pegar fogo, na madrugada do dia 1˚ de maio, acusam a falta de assistência do Poder Público. Soma-se ao drama, a busca pelos desaparecidos e por corpos em meio aos escombros.
Em barracas que foram doadas pela população e sem terem para onde ir, os moradores, separados por uma cerca instalada pela prefeitura, se viram como podem, e denunciam a falta de serviços básicos, como a ausência de banheiros químicos. Para agravar a situação, também nesta terça as famílias desabrigadas tiveram que enfrentar a chuva pela primeira vez, além das noites em que as temperaturas nesse início de outono já são mais baixas.
"Não temos banheiro. Se fosse uma festa, uma virada cultural ou outros eventos, estava cheio de banheiro. Cadê o prefeito? Cadê o presidente, que não resolve nada? Cadê os vereadores, que nunca vieram aqui dar uma atenção para a gente?", provoca a moradora Eliofábia Rodrigues da Silva ao repórter Leandro Chaves. "Tem vários prédios vazios, o (edifício) Marrocos. Por que não colocam a gente lá? Ou o prédio da Luz, por que não colocam o povo lá?", reivindica ela.
"Tive que deixar as duas meninas dormirem aí dentro (da barraca), porque elas têm problemas de alergia e tosse. Estou há três dias dormindo aqui, do lado de fora, no frio. É o maior sufoco", conta outra desabrigada, Noemi de Matos.
Muitos ainda esperam ser cadastrados em programas habitacionais da prefeitura, e os já cadastrados aguardam por ações efetivas. A prefeitura instalou também um abrigo no viaduto Pedroso, para atender os moradores, mas muitas famílias se recusam a deixar a praça, sem que haja algum compromisso do poder público que aponte para uma solução definitiva.
Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe-SP), as condições nos abrigos em São Paulo destinados às populações de rua são "deploráveis". Além disso, as famílias estão separadas por gênero, o que aumenta o drama.
"O tratamento que é dispensado à população de rua é dos piores possíveis. As pessoas não queriam se separar. Mães não querem separar dos seus filhos. As famílias que estavam lá na ocupação querem continuar unidas, para que todas sejam encaminhadas para projetos habitacionais, de forma conjunta", ressalta Ariel.
Nesta terça-feira (8) uma parte das famílias começou a receber auxílio moradia – uma primeira parcela de R$ 1.200 e de R$ 400 nos meses seguintes – pagos pelo governo estadual, pelo prazo máximo de um ano. Segundo a Defensoria Pública, esse auxílio não resolve o problema, pois, com os valores oferecidos, a tendência é que as famílias só consigam arcar com alugueis em locais precários, seja no Centro ou nos extremos da periferia.
Também nesta terça foi encontrado o corpo de uma segunda vítima, com sinais de carbonização. Segundo informações preliminares, seria de uma criança. A primeira vítima encontrada, no dia mesmo do incêndio, foi Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro, de 39 anos.