'Só uma coisa bota ordem no país: o voto popular', diz Franklin Martins

Em entrevista ao Portal Vermelho, o experiente jornalista e analista politico Franklin Martins, ministro-chefe da Comunicação da Presidência da República nos anos de 2007 a 2010, afirmou que a mídia, principalmente a Rede Globo, atua como partido político que quer mandar no Brasil sem ter voto.

Por Dayane Santos

Franklin-Martins - Reprodução

“O papel da mídia, não só no julgamento do ex-presidente Lula mas ao longo dos últimos anos, é de um partido político que se opõe às mudanças que foram feitas no Brasil a partir de 2002, seja procurando enfraquecer governos democráticos e populares, seja participando de golpes contra governos legitimamente eleitos, seja tentando afastar a maior liderança popular da possibilidade de uma disputa eleitoral”, afirmou o jornalista.

“O que a mídia não tem é voto”, acrescentou. “Não tem voto, não tem rumo, mas tem o poder de manobrar, manipular a opinião pública e de censurar informações relevantes para a opinião pública, fazendo isso de uma forma permanente”, destacou.

Segundo Franklin, ao mesmo tempo que a mídia manipula a opinião pública, ela amedronta e “promove personalidades que deviam ter um comportamento discreto”, numa clara referência ao comportamento do juiz Sergio Moro e de procuradores da força-tarefa da Lava Jato que ganharam holofotes da mídia com status de “salvadores da pátria”.

Para ele, estamos assistindo um novo golpe de Estado em que tentam impedir o povo de votar e de haver um debate aberto, público e transparente sobre os grandes problemas nacionais. “Se o povo puder votar não vota neles. Esse é o problema”, frisou.

“É uma situação assombrosa que a gente, por mais que tenhamos visto isso nos últimos tempos, se pergunta como que a mídia pauta e exige definições dos órgãos de Estado, ou seja, a mídia quer mandar no Brasil sem ter voto”, salientou Franklin se referindo à pressão da mídia contra o Supremo Tribunal Federal (STF), para negar o habeas corpus ao ex-presidente Lula.

“Uma coisa evidente é que uma boa parte do Supremo não votou a partir de fundamentos jurídicos. Votou a partir de exigências políticas colocadas basicamente pela mídia, que é quem dirige esse processo atualmente”, argumentou.

Franklin afirma que a mídia é quem comanda a articulação de opositores aos governos populares e está incrustada na parede do estado por meio do Judiciário, da polícia e do Ministério Público, atuando articuladamente. “Houve um tempo em que a TV Globo procurava pressionar o governo para que atuasse de acordo com os interesses dela. Hoje em dia ela tutela as instituições”, enfatizou.

Saída

Na avaliação de Franklin Martins, o golpe de 2016, com o afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff, “promoveu uma desidratação dos três poderes numa velocidade e intensidade impressionante”. Franklin define a situação do país como um "mingau" em que os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) perderam credibilidade.

“O Legislativo ficou evidente que é um mingau dominado pelos interesses econômicos. Não tem qualquer vértebra. O Executivo, com o impeachment e a subida de uma pessoa sem qualificação política e legitimidade para exercer a presidência, também virou um mingau. E o Judiciário virou um mingau também”, apontou.

Questionado sobre qual é a saída que crie condições de reorganizar o estado, Fanklin foi categórico: “Só tem uma coisa que bota ordem na casa que acaba com essa bagunça desenfreada e dá rumo ao país: o voto popular sem restrições. O Brasil não será mais uma democracia formal feita pelos senhores de engenho, barões de café ou pelo sistema financeiro”.

Para ele, não existe possibilidade de reorganizar um país do tamanho, da complexidade e do peso do Brasil e organizar as suas instituições de forma estável, duradoura e com legitimidade se não for através do voto popular e livre como vem fazendo desde a Constituição de 1988.

“Se não for assim não tem poder que fique em pé”, reforçou. “Não tem jeitinho, não tem TV Globo, não tem Judiciário, nem Ministério Público porque todas as instituições têm de ser organizadas e ter suas políticas públicas e prioridades definidas a partir de um agente fundamental que é o povo nas eleições”.