Trabalhadores derrotam Doria como derrotaram reforma de Temer

“A gente costuma dizer que a única coisa boa que o Doria (prefeito João Doria) fez pela cidade foi uma greve geral do funcionalismo municipal que foi essencial para chegar aonde chegamos”, declarou ao Portal Vermelho, Claudete Alves, presidenta do Sindicato dos Educadores da Infância na cidade de São Paulo (Sedin). 

Por Railídia Carvalho

Professsores comemoram em SP retirada de PL de Doria da pauta da Câmara - Mídia Ninja

Nesta terça-feira (27), trabalhadores do serviço público de São Paulo encerraram greve de 20 dias que derrotou Projeto de Lei do prefeito tucano para reformar a previdência Municipal.     

Não foi desta vez que o tucano Doria, pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo, conseguiu sinalizar ao mercado que faria o que Michel Temer não conseguiu com a previdência nacional. Sem obter o apoio de 28 vereadores, Doria viu o presidente da Câmara, Milton Leite, anunciar na terça à noite a retirada do PL por 120 dias.

Confisco salarial

“Essa narrativa de 120 dias foi uma saída honrosa do governo para não ficar tão feio. Não acredito que o PL seja votado em julho em pleno clima de eleições gerais. Mas estamos alertas. Agora é negociar a reposição das aulas que é nosso compromisso com a população”, explicou Claudete (foto).

O movimento dos trabalhadores de São Paulo mostrou força nas ruas contra o Projeto que aumentava de 11% para 19% a alíquota de contribuição para a previdência, entre outros pontos que, na opinião dos trabalhadores, significa um confisco salarial.

O PL que não foi debatido com os trabalhadores passou a avançar na Câmara em um cenário de extinção de políticas públicas pelo prefeito tucano. A resposta veio com a greve geral e milhares de pessoas protestando em frente ao legislativo municipal.

Greve vitoriosa

Segundo a dirigente do Sedin, a paralisação nos Centros de Educação Infantil (CEI) e Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI) atingiu 90%, incluindo professores, diretores, coordenadores pedagógicos, equipes de apoio. Nas datas das grandes manifestações na Câmara de São Paulo e na Avenida Paulista, a greve na educação infantil atingiu 95% de adesão. Mais da metade dos que aderiram fizeram paralisação total nas 829 unidades educacionais do segmento.

De acordo com o Sindicato dos Servidores Públicos do município de São Paulo (Sindsep), 70% do funcionalismo aderiu à greve logo após a violência da Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana contra os trabalhadores dentro e fora da Câmara Municipal no dia 14 de março.

“As derrotas (do prefeito) aconteceram a cada dia e a greve que durou 20 dias, cresceu sem parar. A população entendeu o clamor dos servidores e esse foi o ponto chave para uma vitória esmagadora. A conversa foi diária em todos os cantos da cidade e o apoio ultrapassou os limites da Capital, depoimentos de apoio de vários companheiros chegaram. Luta organizada e justa. A vitória foi certa”, diz trecho de nota do Sindsep publicada nas redes sociais após a retirada do PL.

Fôlego contra retirada de direitos

Claudete que milita há 35 anos nos movimentos de educação enfatizou a unidade entre os sindicatos de trabalhadores em São Paulo como fundamental para a derrota de Doria. “Se passasse isso passaria qualquer coisa. A unidade foi fundamental para estarmos unidos e enfrentarmos esse que talvez tenha sido um dos maiores desafios em âmbito local”, ressaltou.

Na opinião da dirigente, a mobilização de São Paulo deixa um recado e injeta ânimo na luta dos trabalhadores em nível nacional em defesa dos direitos. “Quando nos unimos e conseguimos compreender quem é o inimigo dos trabalhadores a gente pode avançar. Não foi fácil enfrentar o poderio da mídia, os interesses do mercado. Denunciamos que os números do PL do Doria foram patrocinados pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Dizíamos que eles tinham que cobrar dívida dos bancos que devem milhões para a prefeitura. O interesse do capital é perverso. Não desistem”.

Violência

Claudete comentou ainda sobre a violência demonstrada pela Guarda Civil Metropolitana no dia 14 de março seguindo o Modus Operandi da Polícia Militar que “trata trabalhador como bandido”. A dirigente , que teve o braço quebrado pela Polícia Militar em manifestações nos anos 80, surpreendeu-se com a violência da GCM. “Quero acreditar que foi truculência do comando, que é indicado pelo prefeito (foto). O Sindicato dos trabalhadores da GCM se solidarizou com o movimento dos trabalhadores”, informou.

Conhecedora da dinâmica regimental da Câmara por ter sido vereadora por dois mandatos em São Paulo (de 2002 a 2008), Claudete disse que a pressão dos trabalhadores assustou os vereadores. “24 vereadores são candidatos, portanto, tem interesse nas eleições deste ano. Serviu de exemplo toda a mobilização nacional como a campanha quem vota não volta e a questão de nenhum direito a menos e a expressiva participação do funcionalismo e o apoio da população contra o PL”.

Claudete disse que a derrota enterrou de vez os planos do prefeito João Doria de ser candidato à presidência. “Mesmo tendo sido referendado candidato do PSDB ao governo do Estado, ele é ambicioso e queria mesmo ser candidato à presidência. Aprovar esse projeto era dar um recado ao mercado. Assim como Temer, que apresentou uma reforma tão nefasta, Doria foi derrotado pelos trabalhadores”, comparou a dirigente.