Trump nomeia ultraconservador, não escondendo feroz guinada à direita
A decisão apresenta perigo para a harmonia entre os países, e mostra as intenções agresisvas de Trump em relação ao mundo. Um dos principais arquitetos da farsa em relação as "armas de destruição massiva" que serviram para justificar a invasão do Iraque, John Bolton foi promovido pelo presidente norte-americano, tornando-se um dos seus principais conselheiros
Publicado 23/03/2018 15:49
Ex-embaixador na ONU no mandato de George W. Bush, John Bolton foi designado por Donald Trump para o posto-chave de assessor de Segurança Nacional. Apesar de ser um cargo de aconselhamento, historicamente tem sido ocupado por figuras que determinaram os planos quanto a política externa norte-americana.
O anúncio foi feito através da conta pessoal do presidente dos Estados Unidos da América (EUA), dando conta da saída do general H. R. McMaster, que assumiu o lugar em fevereiro de 2017.
Bolton é conhecido por suas teses extremas em política internacional. Alinhado com o diretor da CIA e futuro secretário de Estado, Mike Pompeo, o novo assessor de Segurança Nacional exigiu a saída do acordo com o Irã e não descarta, por exemplo, a intervenção militar na Coreia do Popular. Um fator de enorme relevância nas conversas cara a cara que Trump aceitou em manter em maio com Kim Jong-un, após o convite do líder norte-coreano.
A saída do tenente-general McMaster era dada como certa. Incapaz de segurar a língua, esse antigo herói de guerra era uma voz respeitada dentro e fora da Casa Branca, mas se indispôs desde o início com Trump, que o achava muito rebuscado e distante de suas propostas mais radicais. Apenas a admiração que o presidente sente em relação aos militares de alta patente e com experiência no campo de batalha deteve seus impulsos e, finalmente, lhe proporcionou uma saída suave comparada com a sofrida por Tillerson, demitido sem aviso prévio por um tuíte humilhante.
Um percurso de mentiras para justificar a guerra
Bolton conseguiu aproximar-se dos corredores do poder durante a administração de George W. Bush, tendo sido nomeado subsecretário de Estado para os Assuntos de Controle de Armas e Segurança Internacional. Foi nessa qualidade que bloqueou um acordo na quinta conferência de acompanhamento da Convenção para as Armas Químicas.
Mas o feito que marcou a sua passagem pelo Departamento de Estado e que foi determinante para a sua futura promoção foi a intensa defesa da tese de que o Iraque estaria desenvolvendo armas de destruição massiva, a partir de 2002, que serviu de justificativa para a invasão do país no ano seguinte – mas que viria a revelar-se falsa e sustentada em informações forjadas.
Nessa época, em que o presidente norte-americano centrou a política externa dos EUA no combate ao que designou como o "eixo do mal", John Bolton tentou incluir Cuba na lista de países com programas de desenvolvimento de armas biológicas. A divulgação foi bloqueada por um analista externo, que acabou confrontado por John Bolton apesar dela saber que a acusação contra Cuba era mentira.
Em 2005, foi indicado como representante permanente na ONU mas houve falha na confirmação obrigatória pelo Senado dos EUA, o que obrigou Bush a fazer uma nomeação temporária. No ano e meio em que ocupou o lugar, foi um crítico feroz das Nações Unidas e, particularmente, dos organismos responsáveis pela promoção e defesa dos Direitos Humanos.
Defensor de novas guerras, no Irã e na Coreia
Nos últimos anos, John Bolton tem defendido publicamente, através de artigos em publicações como o Wall Street Journal e o New York Times, a utilização da guerra em países como o Irã e a República Popular Democrática da Coreia.
A partir de 9 de Abril, Donald Trump terá como um dos seus principais conselheiros um dos mais ferozes defensores da política intervencionista e das guerras de agressão promovidas pelos EUA.
Em um ano de eleições legislativas, que acontecerão em novembro, o presidente quer dar uma guinada à direita e levar adiante sua grande aposta nacionalista. O fim do multilateralismo, as guerras comerciais, a ruptura de tratados como o do Irã e o uso de ameaças militares compõem esse programa.