Apagão é mostra do que virá com privatização da Eletrobras
A região metropolitana de Manaus (AM) sofreu as consequências do apagão ocorrido nesta quarta-feira (21) por falha do grupo privado chinês State Grid. “É isso o que espera o Brasil inteiro”, declarou ao Portal Vermelho Edney Martins, presidente do Sindicato dos Urbanitários naquele estado. As empresas responsáveis pelo apagão não fazem parte do sistema Eletrobras.
Por Railídia Carvalho
Publicado 22/03/2018 17:20
O dirigente acrescentou: “Além disso, virão as altas tarifas cobradas por esse grupo, a precarização cada vez maior do trabalho e a subserviência do setor energético do Brasil aos interesses de outros Estados nacionais”.
O apagão que, segundo o Coletivo Nacional dos Urbanitários (CNU), deixou 70 milhões de pessoas no escuro e atingiu 14 estados (regiões norte, nordeste e centro-oeste) ocorreu em meio à ofensiva do governo de Michel Temer para privatizar a Eletrobras. No Amazonas são duas as empresas ameaçadas: A Eletrobras Amazonas Distribuição e a Eletrobras Amazonas Geração. “São empresas desenvolvidas no estado do Amazonas com as características para prestar serviço na região amazônica”, explicou Edney.
Energia é um direito
Na opinião do dirigente, ao tentar privatizar essas duas empresas, incluídas no projeto de privatização da Eletrobras, Temer ataca a soberania brasileira e pode privar as comunidades da Amazônia do direito à energia elétrica.
“É estratégica a importância dessas duas empresas para o Brasil porque ao levar energia para essas localidades garante a ocupação da região amazônica e das fronteiras da região. Apesar de não dar lucro presta um serviço relevante para a nação ao proporcionar o desenvolvimento econômico sustentável nessa região”, completou o sindicalista.
Segundo Edney, o grupo chinês do apagão desta quarta tem se credenciado como um dos possíveis compradores do sistema Eletrobras. “Esse apagão nada teve a ver com a Eletrobras. Foi erro operacional de uma empresa privada que não investe na manutenção e não tem expertise no setor elétrico na Amazônia”, criticou.
Privatização é sinônimo de precarização
As falhas na manutenção se devem à redução no quadro de trabalhadores, lembrou Edney. “É uma tendência natural do mercado precarizar a mão de obra. São demitidos profissionais qualificados, com maior experiência que podem levar até cinco anos para ter o conhecimento do setor elétrico, e são contratados profissionais recém-formados com salários baixíssimos e com pouca experiência, o que se reflete na qualidade da prestação dos serviços.”
O dirigente denunciou que as condições de trabalho praticadas pelas empresas privadas podem aumentar as estatísticas de acidentes de trabalho. “Quando terceiriza e admite mão de obra sem qualificação e experiência aumentam os acidentes de trabalho com morte.”
Prejuízo para a engenharia nacional
Edney lembrou ainda que o lucro perseguido pela empresa privada pode trazer, além de mortes entre os trabalhadores, custo ao conhecimento acumulado por esses profissionais qualificados que são os primeiros a ser demitidos. “Há a perda de expertise, a perda para o país de desenvolvimento de tecnologia nacional. Passaremos a absorver tecnologia estrangeira. É um prejuízo para a engenharia do Brasil, que vai deixar de desenvolver conhecimento.”
O custo da privatização coloca o Brasil em posição de subserviência diante de outros países, inclusive em uma área de fragilidade que é o setor industrial, lembrou Edney. “O que nos garante que após a privatização apagões desta quarta não comprometem a produção industrial do Brasil que concorre com a produção industrial de outros países?”, questionou.
O dirigente informou que o apagão atingiu em cheio o distrito industrial de Manaus. “Foram paralisadas linhas de montagem, linhas de produção e que geram um custo de tempo parado e da reinicialização desses processos produtivos. Tudo isso por conta da queda de energia.”
Apuração e responsabilização pelo apagão
Nota do Coletivo Nacional de Urbanitários, divulgada nesta quinta-feira (22), cobrou que o Congresso Nacional crie uma comissão que apure as circunstâncias do apagão e que resulte em responsabilização. De acordo com a nota, a State Grid não deverá ser punida pelo apagão, ao contrário do que acontece com as empresas nacionais, às quais são impostas “pesadas multas” pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Os urbanitários afirmam que a privatização da Eletrobras é a pior escolha para o país porque submete aos interesses do setor privado a vida da população, a economia e a indústria de um país. “A energia elétrica não pode ser vista somente como mercadoria, e a Eletrobras não deve servir como um mero ativo a ser vendido, para fechar o rombo fiscal criado pelo próprio governo, e que agora começa a mostrar o quanto nos está deixando vulneráveis”, diz trecho final da nota.