Temer engasga ao falar do golpe que o levou ao poder
Durante cerimônia na Federação das Associações Comerciais de São Paulo, nesta terça-feira (13), Michel Temer tentou demonstrar reação diante da situação que o levou de volta às cordas. O primeiro sinal de sua impopularidade foi a quantidade de aplausos que recebeu de uma plateia de empresários. Apesar de fazer um discurso dizendo que seu governo é “o melhor que o Brasil conheceu”, Temer foi pouco aplaudido e pelo jeito as palmas foram puxadas por um de seus assessores.
Publicado 14/03/2018 12:07
Dizem que o corpo fala. Ao abordar como chegou ao poder, Temer engasgou. “Eu que não assumi assim, digamos, pela via [engasgou] da eleição direta, no primeiro momento, eu cumpri um programa que nós havíamos estabelecido”, disse.
No poder por meio de um golpe que atropelou a Constituição, afastando Dilma Rousseff sem ter crime de responsabilidade, Temer disse que um dos problemas do Brasil é que “ninguém lê a Constituição”. A crítica foi para defender a sua reforma trabalhista, a criação da Emenda 95 – que congelou os investimentos públicos por 20 anos – e a reforma do ensino médio.
“Pela ocasião da reforma trabalhista, falaram muitas inverdades”, disse Temer, admitindo em seguida que seu governo está “aproveitando sua impopularidade” – recorde – para fazer o que ele acredita ser necessário para o Brasil. Pesquisas recentes apontam um índice de aprovação de 4,3%.
Temer também admitiu que teve que enfrentar uma “oposição brutal” e que a emenda do teto era chamada de PEC da morte. “A impressão era a de que tínhamos assumido para destruir a educação e a saúde”, afirmou. “Pelo diálogo, conseguimos aprovar a medida. Procuramos propor uma emenda que não fosse populista”, completou.
O que Temer chama de “diálogo” foi notoriamente conhecido como toma lá, dá cá, em que foram utilizadas emendas parlamentares e outros artifícios para garantir a aprovação do texto.
Temer afirma que os candidatos de oposição terão de “ser muito criativos” para criticá-lo durante a disputa eleitoral deste ano. “O candidato de oposição terá que dizer que é contra o teto dos gastos, a inflação e o juro baixos”, declarou ele, afirmando que teve uma “sorte extraordinária” com a sua equipe de ministros.
A realidade é que o MDB de Temer tenta cavar um espaço, mas aliados próximos como DEM e o PSDB já anunciaram que não farão a defesa do governo nas eleições.
Depois de atuar para alterar o modelo de partilha, Temer mencionou a Petrobras dizendo que a estatal hoje é respeitada nacional e internacionalmente.
Ele afirmou ainda que o Bolsa Família foi mantido no seu governo, mas que não se pode continuar falando do programa daqui a 20 anos.
Sem admitir que não conseguiu os votos para aprovar a reforma da Previdência por conta da rejeição popular ao texto, Temer disse que as “classes privilegiadas” reagiram contra ele.
Disse ainda que “a elite” tentou atacá-lo, com as denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro. Afirmou que não vai aceitar mais isso. “Vou reagir, porque os meus detratores estão presos”, afirmou Temer, sem citar os nomes dos executivos da JBS, que gravaram conversas com ele e motivaram a apresentação de duas denúncias.
Ao enumerar os feitos do seu governo, Temer, na maior cara de pau, lembrou das obras de transposição do rio São Francisco, iniciadas durante a gestão do presidente Lula e finalizadas na gestão Dilma. Ele reconheceu que as obras começaram há 15 anos, mas disse que a gestão dele, de pouco mais de um ano, foi responsável pelo aporte de R$ 1,3 bilhão nas obras.
Com investimentos previstos de R$ 9,6 bilhões do Orçamento da União, o projeto de integração do São Francisco teve, até abril de 2016, R$ 7,95 bilhões executados com dinheiro do Orçamento da União. Isso significa que nada menos do que 86,3% da obra estavam concluídos.