Pesquisa brasileira na Antártica está à beira do colapso
Cortes orçamentários no Ministério da Ciência e Tecnologia ameaçam o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), que deve inaugurar uma estação na região, "mas sem cientistas", alerta um dos coordenadores do projeto, Jefferson Cardia Simões.
Publicado 14/03/2018 19:32
As atividades científicas do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) estão sob ameaça de cortes no orçamento. Sem edital previsto para novas pesquisas na região, o vice-presidente da SCAR (The Scientific Committee on Antarctic Research), Jefferson Cardia Simões alerta para o desmonte dos projetos por falta de investimento.
Existe a garantia de apenas R$ 1,5 milhão, que sustenta os estudos na Antártica até março deste ano. "Mas depois de março não tem mais dinheiro. Estamos vivendo na inércia", denuncia Cardia Simões. Prioridade dos governos Lula e Dilma, a produção científica do Proantar tinha R$ 14 milhões divididos em 18 projetos e prazo de três anos.
"A pesquisa antártica brasileira está à beira do colapso. Corremos o risco de inaugurar uma estação científica na Antártica de R$ 300 milhões, mas sem cientistas”, afirma o geólogo brasileiro, primeiro PhD brasileiro em glaciologia e vice-presidente do SCAR, de Cambridge (Reino Unido). O comitê é o mais importante da ciência antártica mundial.
Em razão dos cortes que inviabilizam a continuidade da parte científica da iniciativa já a partir de julho, a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG) solidarizou-se com o coordenador do programa. “Recebi denúncia gravíssima, em que eles informam que a falta de recursos financeiros ameaça a continuidade da parte científica do Programa Antártico Brasileiro a partir de julho de 2018”, disse a parlamentar.
No ano passado, Cardia Simões já havia denunciado a iminência de colapso da pesquisa Antártica brasileira, quando obteve recursos para finalização de projetos 2013-2016, envolvendo 200 pesquisadores e 22 universidades.
“Na oportunidade, fiz questão de agregar uma emenda parlamentar para o Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações destinada ao Programa Antártico. Mas a minha emenda é insuficiente para que se garanta o edital e se sinalize ao mundo que o Brasil se dedica à pesquisa científica, principalmente a pesquisa Antártica”, alertou Jô Moraes.
O Brasil é um dos 59 países que estão na Antártica – o continente regulador térmico do planeta – e que tem direito a voz e veto de seu futuro, como membro consultivo do tratado que delibera sobre as atividades e o futuro da região.