Venda da Embraer para a Boeing é criminosa

Refém do mercado financeiro e das grandes corporações no pós-golpe, o governo de Michel Temer promove a passos largos a maior entrega do patrimônio nacional e das nossas riquezas naturais. Diante desse histórico antinacional, é preciso cautela e atenção com relação aos planos de absorção da Embraer pela gigante norte-americana de aviação Boeing.

Por Carlos Zarattini*

Embraer

Apesar de o governo federal não ser hoje o controlador da Embraer, Temer tem o poder de vetar mudanças estratégicas, a chamada “Golden Share”, e impedir que essa venda comprometa os programas militares do País e a fabricação de aviões comerciais e jatos executivos. Os termos do contrato não são de conhecimento público, o que suscita mais apreensão. Até o momento, o único que se sabe é que a Boeing vai controlar até 90% de uma nova empresa que receberia toda a área de aviação comercial da Embraer. Com a compra, a Boeing acabará com a concorrência da Embraer e vai liderar o mercado de aviação mundial.

É importante que se diga que a Embraer é uma empresa de alta tecnologia do setor de aviação e de defesa. É a terceira maior fabricante de aviões do mundo e detém tecnologia de aviões comerciais, executivos e militares. Se efetivada a venda, vamos entregar toda nossa cadeia produtiva e acúmulo tecnológico e científico para os norte-americanos. Isso vai obrigar o fechamento de fábricas e milhares vagas de emprego no Brasil. Abrir mão do controle da Embraer, por meio da venda parcial ou integral de ações, poderá significar também um grave ataque aos planos estratégicos na área da Defesa. O setor de defesa não sobrevive ou tem envergadura sem o desenvolvimento das aeronaves civis. São setores correlacionados. E com a venda o Brasil deixará de ter qualquer domínio sobre a tecnologia aeronáutica. Projetos importantíssimos na área da defesa nacional como o FX-2 e o projeto dos 36 caças Gripen, que está sendo desenvolvidos em parceria com a empresa sueca SAAB e inclui transferência de tecnologia para a Embraer, provavelmente serão interrompidos. Também ficaremos sem saber quem vai controlar a fabricação dos cargueiros militares KC-390, desenvolvidos pela Aeronáutica e fabricados pela Embraer.

Além disso, o domínio estratégico do controle e da defesa aérea pode ficar comprometido. Isso porque a Embraer, por meio da subsidiária Atech, controla produtos e serviços nas áreas de sistemas, defesa, segurança e controle de tráfego aéreo. Na tentativa de denunciar e impedir essa venda criminosa, apresentei requerimento convocando os ministros da Defesa e da Fazenda para prestarem esclarecimentos na Câmara. Precisamos nos opor a essa venda criminosa do patrimônio e do conhecimento nacional desenvolvido desde os anos 50 pela Aeronáutica, por meio do Marechal Casimiro Montenegro Filho, que fundou o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e lançou as bases para criar a Embraer. Ao contrário dos EUA, que estão ameaçando taxar o aço brasileiro por motivos de “segurança nacional”, o governo Temer é dócil e submisso aos interesses estrangeiros e vende, a preço de banana, o patrimônio nacional e o nosso futuro.

*Carlos Zarattini (SP) é Deputado federal e presidente da Frente Parlamentar Mista da Defesa Nacional